O dia 11 de setembro de 2001 entrou para a história devido aos trágicos acontecimentos no World Trade Center, em Nova York. Para Jared Dillian, no entanto, essa data coroou anos de esforço e dedicação para migrar sua carreira da guarda costeira dos Estados Unidos para a mesa de operações de um banco de investimento. Era seu primeiro dia no Lehman Brothers, cujo escritório foi seriamente afetado pelos ataques terroristas.

Conforme já disseram, “um livro de memórias é como um título de renda fixa: nem sempre vale o valor de face”. No caso de Street Freak, o possível desconto a ser aplicado, devido a distorções de alguns fatos, é amplamente compensado pela narrativa cáustica e despida de autocomiseração. Dillian descreve sua paixão pela dinâmica frenética de compra e venda de ativos, sem perceber que sua personalidade bipolar vai sendo lentamente envenenada pela doce adrenalina do mercado.

Impossível não traçar um paralelo com a narrativa de Liar’s Poker (de Michael Lewis), um clássico sobre o mundo dos bancos de investimento das décadas de 1980 e 1990. A história envolvente, o humor ácido e a dinâmica do mercado estão ali, com a diferença de que o livro de Lewis foca as atividades de investment banking, enquanto o de Dillian trata da mesa de operações. Street Freak reconta a trajetória desse trader em ordem cronológica, desde o primeiro dia no novo emprego, quando sobreviveu à queda das torres gêmeas, até seu pedido de demissão na semana em que o Lehman declarou falência.

Embora tivesse sonhos grandiosos de operar a carteira própria do banco e ganhar milhões, Dillian começa como assistente na mesa de arbitragem de fundos listados na Bolsa de Nova York. Nada tão glamoroso ou que pudesse render muito dinheiro. Segundo as palavras de Dillian, seu trabalho era equivalente a “limpar a sujeira que fica no vidro do aquário onde os grandes tubarões nadam”.

Pouco tempo depois, a automação da arbitragem por programas de software varre da superfície da Terra essa estirpe de operadores, e Dillian precisa encontrar uma fórmula para provar seu valor ao banco e aos colegas. Essa eterna “corrida em cima da esteira” simboliza a luta pela sobrevivência nas mesas de operações, onde todos estão em busca da sempre fugaz estratégia vencedora.

A descrição do ecossistema habitado pelos operadores é particularmente interessante. A tensão é transmitida pela linguagem vulgar e repleta de obscenidades. Sem se dar conta do perigoso coquetel resultante desse ambiente corrosivo e de sua bipolaridade, Dillian é pressionado a encontrar uma saída radical. Uma tentativa frustrada de suicídio o leva a uma temporada em uma ala de psiquiatria de um hospital nova–iorquino. Curiosamente, a descoberta de que tinha uma doença tratável permite que alcance a paz consigo mesmo, a ponto de retornar à atividade de operador do Lehman, dessa vez na mesa de contratos futuros.

Dillian volta diferente após sua temporada na ala psiquiátrica.Ele redescobre a antiga paixão por escrever, além da inata habilidade para fazê–lo, e cria um blog com dicas de operações para clientes do banco. Mas essa redescoberta põe em xeque sua obsessão por ser um trader de sucesso e ganhar muito dinheiro: o que importa é a jornada e não o destino. Após reinventar–se continuamente, Dillian reinventou–se como pessoa. Hoje, ele publica um blog sobre o mercado financeiro (www.dirtnap.com).