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Fim da linha para a Evergrande?
Gestores de recursos avaliam repercussões financeiras do calote de 300 bilhões de dólares da gigante do setor imobiliário chinês
Gestores de recursos avaliam repercussões financeiras do calote de 300 bilhões de dólares da gigante do setor imobiliário chinês
O risco de falência da Evergrande vai além das fronteiras chinesas, ameaçando a estabilidade dos mercados mundiais, hoje bastante vinculados ao que acontece no gigante asiático | Imagem: freepik

As últimas duas décadas testemunharam uma arriscada corrida da Evergrande contra o tempo. Segunda maior incorporadora imobiliária da China, a companhia fez seguidos empréstimos, de muitos bilhões de dólares, para poder vender imóveis a milhões de chineses. Nesse período ladeira acima, lançou projeto após projeto em todas as províncias do país, mas com faturamento sempre perigosamente num limite insuficiente para o pagamento dos juros dos financiamentos. Agora, a corrida parece ter chegado ao fim. O governo de Xi Jinping alertou o mercado de que a Evergrande não seria capaz de pagar uma dívida superior a 300 bilhões de dólares que estava prestes a vencer. Como era de se esperar, a companhia viu suas ações despencarem 18,9% na bolsa de Hong Kong na segunda-feira, dia 20, atingindo o nível mais baixo em 11 anos. O risco de falência da Evergrande vai além das fronteiras chinesas, ameaçando a estabilidade dos mercados mundiais, hoje bastante vinculados ao que acontece no gigante asiático. A empresa até anunciou um pequeno acordo para pagamento de juros de um título vencido, operação que envolve 35,9 milhões de dólares. Mas o estrago já estava feito. 

A equipe de analistas do Citi observa que a inadimplência da Evergrande e seu efeito na China representam “um risco sistêmico potencial”, uma vez que aproximadamente 41% dos ativos do sistema bancário local estavam direta ou indiretamente associados ao setor imobiliário no fim de 2020. Segundo levantamento da agência Bloomberg, grandes fundos de investimento em mercados emergentes têm papéis de dívida da Evergrande e podem ficar sem receber os valores emprestados à empresa. A Ashmore, gestora de recursos com sede em Londres especializada na compra de dívida de mercados emergentes, era uma das maiores detentoras de títulos da Evergrande, com cerca de 400 milhões de dólares, de acordo com dados compilados pela agência de notícias com base nos registros do fim de junho. BlackRock, UBS e HSBC Holdings Plc também eram grandes compradores de títulos da companhia. 

Ocupando o topo da lista de incorporadoras globais de capital aberto mais endividadas do mundo, segundo dados da S&P Global Market Intelligence, a Evergrande conseguiu apaziguar temporariamente os humores das bolsas de valores mundiais ao firmar um acordo para pagar os juros de títulos que venceram na última quinta-feira, 22. A companhia não especificou, no entanto, qual montante será pago ou quando.  

Menor liquidez 

A crise da Evergrande e seus reflexos sobre a economia e a estabilidade social da China são o maior teste da atual campanha de Pequim para acabar com a especulação alimentada pelo crédito desenfreado e, ao mesmo tempo, impedir que os preços de imóveis subam.  

“Esse cenário tem levado a uma diminuição da liquidez para todo o setor, não apenas para a Evergrande”, escreveram analistas do J.P.Morgan em relatório. O banco observou que construtoras menos robustas que têm necessidades de refinanciamento a curto prazo já estão mostrando sinais de desgaste com seus títulos. “De fato, poderíamos ver neste ano 11 casos de inadimplência, totalizando 30 bilhões de dólares, de acordo com nossas estimativas”, complementam. 



A sombra da Lehman Brothers 

O temor de investidores globais é com o efeito dominó que esse calote pode ter sobre o setor imobiliário chinês e sobre os bancos que emprestaram trilhões de dólares para a segunda maior economia do mundo. É o fantasma de uma espiral negativa que faz lembrar a crise financeira de 2008, desencadeada pelo colapso do grupo Lehman Brothers, nos Estados Unidos. 

O banco britânico Barclays Capital, entretanto, descarta essa possibilidade, apesar de reconhecer que provavelmente haverá efeitos colaterais no setor imobiliário da China, com implicações econômicas.  “Um verdadeiro ‘evento Lehman’ seria uma crise de magnitude muito maior. Seria necessário um aumento acentuado da crise do crédito para além do setor imobiliário”, avalia o banco. 

Arthur Mota, estrategista internacional do BTG Pactual Digital, lembra que grande parte da dívida da Evergrande está nas mãos dos próprios chineses, e não espalhada pelo sistema financeiro mundial, o que limita os seus efeitos negativos. “Entre os cerca de 300 bilhões de dólares de passivo da empresa, apenas 19 bilhões de dólares estão em bonds, forma como se concentra a exposição global. Essa exposição ao crédito corporativo chinês é muito mais tímida do que se tinha ao mercado americano na década passada”, disse, durante live promovida pelo banco. 

Ao resgate? 

Além dessa diferença, é preciso considerar o sistema chinês, no qual intervenções do governo podem ser implementadas rapidamente. “Deixar um ‘evento Lehman’ acontecer seria uma opção deliberada do governo chinês, que tem a capacidade necessária para conter um contágio”, analisa Alberto Bernal, estrategista global da XP Investimentos.  

Os especialistas afirmam que os reguladores locais devem “comprar tempo para digerir” o problema da Evergrande, orientando os bancos a não retirar o crédito e a ampliar o prazo para o pagamento da dívida, mas é improvável que as autoridades tentem evitar o calote — e a possível falência — da companhia. “Parece muito improvável que o governo chinês ajude uma empresa privada que está em um setor que eles estão tentando controlar. Isso transmitiria a mensagem errada”, disse Julian Evans-Pritchard, economista senior da consultoria Capital Economics, em entrevista ao The Wall Street Journal.  

A rota escolhida por Pequim até agora foi fornecer liquidez ao mercado para evitar contágio, com uma injeção de caixa de curto prazo no valor de 120 bilhões de iuans (cerca de 18,6 bilhões de dólares) no sistema bancário. 

Demanda menor por minério 

Apesar de o mercado estar mais tranquilo em relação à Evergrande após o acordo firmado na última semana, a crise na gigante do setor imobiliário pode ser o prenúncio de algo maior: a desaceleração do setor da construção, que responde por cerca de 25% do Produto Interno Bruto (PIB) chinês. Nesse cenário, o Brasil, que fornece uma parte relevante do minério de ferro usado para erguer os arranha-céus no país, está no topo da lista dos potenciais prejudicados. 

A análise é dos economistas Brendan McKenna e Jessica Guo, do banco americano Wells Fargo. Em relatório publicado no último dia 20, eles destacam que a desaceleração na economia da China por conta das medidas de aumento da regulação pelo governo e o risco de quebra de gigantes do mercado local, como a incorporadora Evergrande, deve reduzir a demanda do país por produtos importados, deixando nações mais dependentes do comércio com o gigante asiático em situação de vulnerabilidade. Mais uma inesperada má notícia para a bolsa brasileira e para a combalida economia do País. 

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