À medida que o aquecimento global bate à porta dos mercados financeiro e de capitais, investidores e órgãos reguladores passam a ter interesse em assuntos relacionados à biodiversidade, exigindo mais transparência de companhias sobre o impacto de suas atividades no meio ambiente e medidas para prevenção de danos. Enquanto alguns negligenciam o problema ou se omitem, vários bancos, empresas e governos atenderam ao apelo. O resultado foi a criação da Força-tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas à Natureza (TNFD, na sigla em inglês). A iniciativa global, oficialmente lançada neste mês de junho, anunciou a data para a apresentação de um framework robusto para avaliação dos riscos financeiros complexos representados pela destruição da natureza e perda da biodiversidade: setembro de 2023.
Segundo o relatório “Nature in Scope”, publicado pelo TNFD em 4 de junho, o trabalho preliminar realizado nos últimos nove meses envolveu entrevistas com 74 membros de instituições financeiras, reguladores, empresas e outros atores influentes com cerca de 8,5 trilhões de dólares em ativos. Também foram aceitas contribuições de especialistas e de um grupo inicial de stakeholders. Na mesma data, a organização também anunciou seus dois copresidentes: David Craig, CEO da provedora de dador financeiros Refinitiv, e Elizabeth Maruma Mrema, secretária executiva da Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas.
Na trilha da TCFD
O TNFD pretende replicar o sucesso da Força-tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD, na sigla em inglês), que colocou o risco climático como prioridade para companhias e investidores. O grupo aposta que o novo framework ajudará empresas e instituições financeiras a compreender a extensão dos riscos ambientais para os negócios.
Mas esse passo não será livre de desafios. As empresas, que ainda têm dificuldades em relatórios sobre o clima, enfrentarão demandas novas e potencialmente mais complexas por dados ambientais no âmbito do TNFD. Em uma carta publicada pelo órgão, os dois copresidentes afirmam que há “diferenças críticas” entre o clima e a natureza na forma como as informações são coletadas e avaliadas. “Um desafio importante é que, diferentemente do clima, não se trata apenas de definição de atividades: mas sim de onde estão, o quanto importam, o que significa ter mais dados específicos sobre as empresas. Isso tudo fará parte da solução”, diz um trecho da carta.
Perda de biodiversidade
A urgência do trabalho do TNFD é inegável, já que o bom funcionamento dos negócios é mais dependente da natureza do que parece. De acordo com estimativas do Fórum Econômico Mundial, o equivalente a 44 trilhões de dólares da produção econômica mundial é moderada ou altamente influenciada pela natureza, principalmente nos setores alimentício, de construção e de agropecuária. Em 2020, esse valor representava pelo menos metade do PIB global.
Enquanto a maioria das grandes companhias divulga algumas informações sobre biodiversidade, poucas abordam questões relacionadas diretamente aos seus negócios. Segundo um estudo da consultoria Leaders Arena, que revisou os relatórios das 100 maiores empresas dos Estados Unidos e da Europa, 69% mencionam a biodiversidade nos documentos e 52% citam projetos “positivos para a natureza”. Entretanto, apenas 32% esclarecem a conexão entre biodiversidade e suas operações.
Outubro Liberado
Experimente o conteúdo da Capital Aberto grátis durante todo o mês de outubro.
Liberar conteúdoJa é assinante? Clique aqui
Outubro Liberado
Experimente o conteúdo da Capital Aberto grátis durante todo o mês de outubro.
Ja é assinante? Clique aqui