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A chave que as empresas precisam ter para alcançar o futuro
A união do valor social com o econômico é essencial para alcançar benefícios que se estendam para além da comunidade
valor social, A chave que as empresas precisam ter para alcançar o futuro, Capital Aberto
Para as companhias que começam a se preocupar com a geração de valor social, o passo inicial é a identificação dos temas mais críticos para o negócio e para a sociedade | Imagem: Freepik

Uma grande empresa do ramo alimentício se propôs a rastrear e a garantir que todo o cacau que utilizava para a produção de chocolates fosse obtido integralmente a partir de fontes sustentáveis até 2025. Mas, antes de chegar lá, a imprensa começou a publicar reportagens sobre a utilização de mão-de-obra infantil no processo produtivo. Após o gerenciamento da crise, a empresa em questão, a Mars, transformou e ampliou a sua meta para incorporar a criação de valor social. O conceito, muito menos conhecido que o tradicional valor econômico, vem ganhando força à medida que a sociedade se torna mais exigente com o setor produtivo.  


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A nova meta da Mars passou a ser muito mais abrangente e a contemplar a cadeia produtiva do cacau como um todo — e não apenas dos fornecedores da empresa: “Nossa ambição é construir uma nova cadeia de produção para o cacau que elimine danos a crianças e dê a todos a oportunidade de prosperar”. Aliada a outras medidas, como o primeiro relatório dedicado à cadeia de produção do cacau, a realização de parcerias com a sociedade civil e a criação de um mapa de transparência, a nova meta mudou o tratamento recebido pela imprensa, contribuiu para a relação com reguladores e a comunidade e trouxe mais resiliência para a própria cadeia produtiva da Mars, avalia Daniel Wiedemann, diretor da Brunswick em Nova York.  

Para além da comunidade 

O executivo cita o exemplo da Mars para explicar o conceito de valor social: “Quando a gente fala em valor social, é no sentido mais amplo da palavra, do papel exercido pela empresa não só na sua comunidade imediata, mas na sociedade como um todo.”  

Na Europa, essa questão vem sendo cada vez mais enfatizada pela sociedade. E o mesmo vem ocorrendo nos Estados Unidos, onde a atuação das empresas no campo ambiental, social e de governança (ESG, na sigla em inglês) vem enfrentando oposição de grupos conservadores. Wiedemann considera que a grande chave para os negócios enfrentarem o futuro é criar o valor social e o valor econômico ao mesmo tempo — e com credibilidade. “Não basta você falar, é preciso ser aquilo sobre o que você está falando”.  

Para as companhias que começam a se preocupar com a geração de valor social, o diretor da Brunswick considera que o passo inicial é a identificação dos temas mais críticos para o negócio e para a sociedade e das formas de mitigar os riscos relacionados.  

Lígia Camargo, líder de sustentabilidade e impacto social do Grupo Ultra, diz que a maioria das empresas começa pela abordagem de riscos regulatórios e de legislação relacionados à licença para operar, mais fáceis de serem mensurados. “Mas esses riscos hoje são mais diluídos. Numa estratégia de ESG, os tópicos materiais são aqueles que podem tirar valor da companhia ao longo do tempo”. E eles são dinâmicos.  

Para Camargo, é preciso que as empresas tentem identificar, hoje, quais são as suas ações que podem vir a ser condenadas no futuro. Ela lembra que um dos pioneiros da questão da sustentabilidade corporativa no Brasil, o executivo Fabio Barbosa, diz que muitas empresas foram punidas por práticas que, à época, não eram sequer consideradas problemáticas ou criminosas. A questão se torna ainda mais complexa porque, para a executiva, o conselho de administração da companhia não deve identificar sozinho esses temas, mas sim apoiado na interlocução e na escuta das partes interessadas, na visão e nas dúvidas que elas expressam sobre a companhia.  

Agenda transversal 

Foi justamente pelo mapa de riscos e por meio da criação de um grupo voltado à agenda ESG que a Pepsico começou a olhar para o valor social. E, depois desse início, a questão passou a permear toda a empresa, em todos os níveis hierárquicos, inclusive o conselho de administração. “Acredito muito que a agenda de sustentabilidade tem que ser transversal na empresa, tem que estar no centro da tomada de decisão de negócios. É preciso olhar a estratégia de curto, médio e longo prazos e entender o papel de cada uma das áreas. Caso contrário, você não vai provocar transformações importantes no seu negócio e na sociedade”, diz Regina Teixeira, diretora sênior de assuntos corporativos na PepsiCo Brasil. Na empresa, os bônus dos funcionários estão atrelados ao alcance de metas ESG.  

Ela considera que a junção dos valores social e econômico não é só possível, mas desejável: “Quando se muda a forma de fazer a gestão de negócios e se entende que a agenda (ESG) não é ‘nice to have’, se traz produtividade, ganhos, eficiência e impacto positivo para as pessoas e para o planeta”.  

Um dos exemplos da integração entre o valor social e o econômico almejada pela companhia é a busca da promoção da agricultura regenerativa em um projeto piloto que pretende aliar a produção de coco no Nordeste (a Pepsico comercializa água de coco com a marca KeroCoco) à de cacau. Este cultivo se beneficia do sombreamento dos coqueiros e nutre o solo, contribuindo para a produtividade da plantação. Ao mesmo tempo, diz Teixeira, a iniciativa gera uma nova possibilidade de utilizar o cacau em outra cadeia produtiva da empresa (que produz o achocolatado Toddy), regenera o solo e origina renda para cerca de cem pequenos produtores por meio do aumento de produtividade e da comercialização de um novo produto.  

Wiedemann considera que as empresas brasileiras também serão, em maior ou menor grau, pressionadas a encarar a questão do valor social. Apesar de as exigências relativas ao papel das empresas na sociedade serem maiores na Europa e na América do Norte — que estão mais adiantados no assunto —, e de não estar claro até que ponto os brasileiros se preocupam com o valor social e a pegada social das empresas, essa agenda é inevitável. O tempo poderá variar. Mas a direção dos países, não há dúvidas, será a mesma.  

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