Pesquisar
Close this search box.
Ele sonha grande
Em visita a São Paulo para promover uma nova plataforma de negociação voltada a ofertas privadas, o vice-presidente e executivo-chefe de marketing da Nasdaq concedeu entrevista exclusiva à Capital Aberto. Entre outros temas, falou das metas de internacionalização da segunda maior bolsa norte-americana, que planeja tornar-se também, em breve, a segunda maior bolsa transcontinental

, Ele sonha grande, Capital AbertoÀ frente do departamento encarregado da estratégia de negócios da Nasdaq, John Jacobs viaja pelo mundo para entender melhor as necessidades dos diferentes mercados e auxiliar a equipe da bolsa a desenvolver instrumentos para atendê-las. Formado em contabilidade pela Universidade de Maryland e com MBA pela Loyola, sua carreira na segunda maior bolsa de valores dos Estados Unidos começou em 1983. De lá para cá, atuou na equipe encarregada da supervisão do processo de listagem, montou a área de vendas que cuida da promoção das companhias listadas junto aos investidores, liderou o departamento de serviço ao consumidor e, até hoje, preside a Nasdaq Global Funds, divisão de produtos financeiros da bolsa, como os índices de mercado e o segmento de listagem destinado aos fundos de investimento (exchange traded funds, os ETFs).

Sua mais nova missão é uma das grandes apostas da estratégia de diversificação de produtos da Nasdaq: uma plataforma de negociação para títulos mobiliários que chegam ao mercado por meio de ofertas privadas. Elas são realizadas por meio da regra 144A, que permite a qualquer emissor vender títulos para investidores institucionais com recursos acima de US$ 100 milhões (os Qualified Institutional Buyers, QIBs) sem a necessidade de registro junto ao regulador norte-americano, a Securities and Exchange Commission. Com a denominação Portal, a plataforma foi lançada em 15 de agosto e deve estimular o crescimento desse tipo de oferta, cada vez mais procurada por companhias estrangeiras que querem acessar investidores nos EUA sem se submeter às regras da Lei Sarbanes-Oxley.

Ele diz que o legado da Nasdaq é estimular a eficiência dos mercados financeiros, provendolhes soluções tecnológicas que criem escala e impulsionem a competitividade. Esse é também o motor de seu processo de internacionalização, que tem na proposta de fusão com a OMX, um grupo que reúne as bolsas de sete países escandinavos e bálticos, o seu maior projeto. No momento, ainda precisam vencer uma oferta concorrente, colocada pela Bolsa de Dubai, e convencer o governo da Suécia, um importante acionista da OMX, de que a operação não irá afetar a competitividade nos mercados europeus.

CA: Por que a Nasdaq decidiu incluir em sua estratégia de expansão internacional uma plataforma voltada para ofertas privadas, o Portal?
JJ: Primeiro, porque há duas vertentes principais em nosso plano de internacionalização: o crescimento do grupo por meio de fusões e participações minoritárias no capital de outras bolsas de valores e a ampliação de nossa carteira de produtos e serviços para atrair o maior número de players internacionais. Hoje temos listadas na Nasdaq companhias de 80 países, desenvolvemos mais de 400 índices em 25 deles e provemos serviços de tecnologia para 50 grupos empresariais distribuídos por 60 países. Nossa visão, desde que começamos em 1971, era oferecer sistemas transacionais que propiciassem escala. Existe um instrumento fenomenal de captação de recursos junto aos investidores qualificados norte-americanos, a regra 144A, que ainda não dispõe de um mercado estruturado que proporcione maior liquidez aos papéis. Apesar da ausência de escala, as ofertas que se valem dessa regra têm crescido ano a ano. Se vão bem sem mercado secundário, devem ir melhor ainda com uma plataforma que crie um. Como nossa especialidade é prover sistemas de negociação eletrônicos que injetem eficiência nos mercados, não víamos por que ficar de fora das ofertas privadas.

Quais são as exigências para os emissores que desejarem listar seus títulos no Portal?
Toda a carga de exigências é dirigida ao investidor, não ao emissor. É ele que tem de se encaixar nos requisitos de um investidor qualificado para que possa negociar papéis no Portal. O que é muito bom para o emissor, já que se trata de uma ferramenta totalmente movida pelo investidor. Sempre que uma companhia se considerar pronta para atrair novos sócios por meio de uma oferta privada, nós, da Nasdaq, estaremos prontos para ela. Isso não significa que iremos atrair um time de segunda divisão. Vivemos num mundo em que a adoção de bons padrões de governança é tida como um investimento, e não um peso. Só porque uma companhia não busca uma listagem completa no mercado norte-americano, não significa que ela seja pior para o investidor. O Brasil, um dos países que mais utilizam a regra 144A hoje, percebeu isso mais cedo do que muita gente. Como os QIBs (Qualified Institutional Buyers) são investidores sofisticados o suficiente para avaliar riscos, o que estamos fazendo é simplesmente proporcionar uma rota de contato entre eles e os emissores.

Em que medida a plataforma concorre com outros mercados em que as exigências para o emissor também são reduzidas?
Nós não nos colocamos como competidores desses outros mercados, como o Alternative Investments Market (AIM) da Bolsa de Londres, por exemplo. Embora seja um veículo importante, ele não provê acesso dos emissores ao investidor norteamericano. Essa é a necessidade que o Portal se propõe a atender.

Qual é a meta para o número de emissores que o Portal quer atrair?
Nossa única meta é colocar a infra-estrutura de negociação à disposição deles. Não temos um número. Além de oferecer a plataforma, vamos fazer pelas companhias que optarem por ela o que fazemos por aquelas que escolhem a Nasdaq para realizar suas ofertas públicas. Existe uma ampla miríade de serviços, bancos de dados e índices que colocamos à disposição das empresas que fazem parte do ambiente da Nasdaq. Além disso, promovemos contatos entre elas e investidores, o que também será feito para as empresas listadas no Portal. Para que você possa ter algum número: hoje as ofertas de ações realizadas por meio da 144A representam 5% do total. Esse percentual só cresceu nos últimos cinco anos, ajudando a tornar o mecanismo mais conhecido. Como há um bom número de economias em acelerado processo de expansão pelo mundo e um grande interesse dos investidores norte-americanos em fazer parte desse processo de crescimento, o número de companhias e países que acessarão o nosso mercado fazendo uso da regra também promete crescer. Nós acreditamos que, no curto prazo, essa proporção possa chegar a 15% ou até mesmo 18% do total.

Em vista das mudanças que este processo de globalização vai trazer, tanto em relação à habilidade de negociar títulos diretamente em vários mercados quanto ao crescimento das ofertas privadas, o que o senhor acredita que vai acontecer com o mercado de certificados de depósito (DRs)?
Eu acho que os DRs vão continuar, principalmente porque permitem o acesso a investidores de varejo também. Os certificados de depósito são uma classe de ativos diferente, que permite a diversificação internacional a investidores menos sofisticados em termos de habilidade para mensuração de risco. E esse aspecto faz com que os DRs ajudem os mercados a se aproximar.

E quanto à outra parte da estratégia, a de aquisição de bolsas estrangeiras?
Nossa primeira iniciativa foi a aquisição de uma parcela do capital da London Stock Exchange, que hoje chega a 30%. Esse tipo de participação é uma maneira muito interessante de marcar presença nos mercados mundiais mais importantes e poderemos, eventualmente, ampliar isso para outras localidades. Neste momento, no entanto, estamos concentrados num projeto maior, que é a fusão com a OMX, que está presente em sete países escandinavos e bálticos. Não há muito que eu possa comentar sobre o atual estágio da operação, que está sendo avaliada pela autoridade que supervisiona as aquisições na Suécia. Nós temos profundo respeito pelas regras de cada país e, por isso, esperamos a conclusão de suas análises para falar mais detalhadamente sobre os projetos que temos reservados para uma determinada bolsa.

O senhor poderia falar sobre os critérios adotados para selecionar a OMX como parceira no projeto de formar a segunda bolsa transcontinental do mundo?
Uma das principais razões para formar uma bolsa transcontinental é estender o período de negociação à disposição dos investidores. Para isso, é preciso estar presente nas regiões que abrigam os principais fusos horários mundiais. Vimos na OMX não só uma excelente oportunidade de entrada no continente europeu — uma vez que complementa o que já temos, que é a presença na Bolsa de Londres —, mas também uma espécie de alma gêmea. A tônica da atuação da OMX, assim como a da Nasdaq, sempre foi a inovação tecnológica, mirando ganhos de escala e de competitividade. Sua cultura é destacadamente empreendedora, e ela tem atraído listagens de companhias com essa característica, principalmente do setor de tecnologia. Compartilhamos o mesmo DNA, o que faz deste o casamento perfeito. Além disso, a OMX está presente em países de economia emergente, do Leste Europeu, como Letônia, Estônia e Lituânia — onde há muito espaço para crescer.

Se aprovada a fusão, qual será o modelo regulatório adotado para as listagens na nova bolsa? Será semelhante ao da Nyse Euronext?
Ainda é cedo para falarmos do modelo em detalhes, mas o que posso adiantar é que não haverá qualquer espécie de expansão das estruturas regulatórias de um país para outro. As companhias que se listarem nos Estados Unidos estarão sujeitas à Lei Sarbanes-Oxley, e as que se listarem em qualquer um dos sete países europeus seguirão legislações de seu respectivo país. Um dos objetivos da fusão é proporcionar novas oportunidades de cross-listing, estimulando companhias européias a se listarem também nos Estados Unidos.

E quanto à fungibilidade das ações? Há perspectiva de que uma companhia listada apenas em um país possa ter seus títulos negociados em todos os outros que compõem o grupo?
Também é cedo para dizer se sim ou não, mas essa é uma possibilidade para a qual todas as bolsas de valores do mundo olham hoje. Há uma série de fatores envolvidos na viabilização efetiva desse modelo, inegavelmente complexo. Além das questões de regulamentação, há também as de liquidação das transações. Seria preciso integrar todas elas para que um investidor pudesse comprar uma ação num extremo do globo e vendê-la no outro, sem estar listada nos dois.

O senhor acredita que o processo de globalização, no futuro, poderia resultar na construção de uma única bolsa internacional?
Eu vejo mais de uma bolsa atuando em escala global, porque o mercado sempre vai requerer competitividade para ser saudável. Quando há competição, quem ganha são os investidores, pois a formação do capital se torna mais eficiente, e nós somos totalmente a favor disso. Os mercados hoje já estão globalizados, graças à tecnologia e às plataformas de negociação eletrônica, que permitiram que a liquidez fosse transferida internacionalmente com maior facilidade e que os investidores tivessem amplo acesso aos mercados no mundo todo. O ritmo da integração desses mercados, agora que a questão de acesso está muito bem resolvida pelas ferramentas tecnológicas, será ditado pelo processo de harmonização contábil. É ele que vai facilitar ainda mais a transferência de recursos e a interconexão de emissores e investidores nos mais diversos pontos do planeta.

Neste momento, a bolsa brasileira se prepara para ser desmutualizada e abrir o seu capital. Como o senhor enxerga o futuro das bolsas latino-americanas? A região comporta uma única grande bolsa?
Nós ainda veremos o que vai acontecer. Somos bastante próximos da Bolsa de Mercadorias & Futuros e confiamos que o processo de desmutualização vai marcar uma nova etapa para o País. O Brasil tem uma economia efervescente, empresas excelentes e com ótimas perspectivas de crescimento. Há também investidores bastante sofisticados, e o governo parece extremamente interessado no papel que o mercado de capitais irá desempenhar nesse cenário. Pelo menos é o que percebemos quando, recentemente, recebemos na Nasdaq um grupo de parlamentares que queria aprofundar os seus conhecimentos. O mundo todo quer fazer parte de um mercado assim, então as expectativas só podem ser boas. É por essa razão que escolhemos o Brasil para inaugurar o road show internacional da plataforma de ofertas privadas. A missão número 1 da Nasdaq é facilitar cada vez mais o acesso das companhias brasileiras aos investidores norte-americanos, e o Portal é a principal ferramenta. Também pretendemos entender melhor a dinâmica das companhias norte-americanas que atuam no País para nos aproximarmos dos investidores brasileiros.


Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.


Ou assine a partir de R$ 34,40/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.


Você está lendo {{count_online}} de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês

Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.

Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais


Ja é assinante? Clique aqui

mais
conteúdos

APROVEITE!

Adquira a Assinatura Superior por apenas R$ 0,90 no primeiro mês e tenha acesso ilimitado aos conteúdos no portal e no App.

Use o cupom 90centavos no carrinho.

A partir do 2º mês a parcela será de R$ 48,00.
Você pode cancelar a sua assinatura a qualquer momento.