Às 14 horas de 14 de fevereiro de 1992, uma sexta feira, um grande grupo de homens engravatados se acomodou no oitavo andar de um prédio do centro de Porto Alegre. Era a sala de pregão da Bolsa de Valores do Extremo Sul, onde seria realizada a privatização da Aços Finos Piratini, ícone do nativismo gaúcho. Nas calçadas em frente ao edifício, em plena Rua dos Andradas, conhecida como Rua da Praia e coração político da cidade, cerca de cem pessoas se reuniam em vigília cívica. O chamado Fórum das Estatais, movimento contrário às privatizações, havia convocado os manifestantes para protestar contra a venda da empresa. Mas era visível a falta de ânimo dos participantes, pois chicanas jurídicas já haviam tentado, sem sucesso, sustar o leilão. Uma elucubrada teoria conspiratória afirmava que, apesar do controle exercido pelo governo federal, o verdadeiro acionista majoritário seria o estado do Rio Grande do Sul.
Fundada em 1960 com o objetivo de dar aproveitamento ao carvão gaúcho, de baixo teor calórico, a empresa revelava o regionalismo em seu nome — Piratini fora a república independente criada pela revolução farroupilha, de meados do século 19. No entanto, a União, por meio da famigerada Siderbrás, era o principal acionista da Aços Finos Piratini, com 82% do capital total, contra 17% pertencente ao estado do Rio Grande do Sul e meros 0,4% em mãos privadas. A estatal operou com prejuízos em toda sua existência e jamais pagou dividendos.
Havia dois candidatos pré–qualificados para licitar no leilão: o grupo Gerdau, líder de mercado de siderurgia brasileiro, com sólidas raízes gaúchas; e a Eletrometal, fabricante paulista de aços de alta liga. O preço mínimo estabelecido era de US$ 42 milhões, embora o patrimônio líquido da empresa fosse de apenas US$ 24 milhões. A disputa foi intensa: 281 lances e 55 minutos de duração. No fim, a Gerdau arrematou a Aços Finos Piratini, por US$ 105 milhões, pagando ágio de 150,2% sobre o preço mínimo. Para Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do grupo, era questão de honra a aquisição de um símbolo industrial de sua terra, apesar da admissão posterior de que o preço pago havia sido um tanto elevado.
No dia seguinte, o único lamento na imprensa era do ex–governador Leonel Brizola, que alegava, lacrimosamente, “encarar com tristeza e desesperança a privatização da Aços Finos Piratini”, julgando “estar sendo cometido mais um erro de funestas consequências”. A atual pujança daquela indústria, 20 anos depois, é prova cabal de que Brizola estava redondamente enganado.
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