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Trampolim para iniciantes
Escassez de profissionais experientes em Relações com Investidores abre oportunidade única para a ascensão de jovens talentos

O crescimento acelerado do mercado de ações brasileiro nos últimos três anos permitiu que várias empresas chegassem à bolsa de valores. Para realizar a empreitada, elas fizeram a alegria dos mais diversos prestadores de serviços ligados a uma oferta pública inicial (IPO), desde bancos de investimento até gráficas especializadas em imprimir prospectos. Mas nem todo o mercado estava a postos para atender à súbita demanda. Quando o boom aconteceu, faltou uma peça-chave para o sucesso de qualquer companhia que pretenda estar bem posicionada no mercado de capitais: o profissional de Relações com Investidores (RI).

Desde 2004, foram 98 IPOs. Somente este ano, até o dia 29 de outubro, 56. Cada uma dessas companhias, em tese, precisou de ao menos um profissional para tocar o dia-a-dia da área de RI, o que superou de longe o número de candidatos com experiência no ramo aptos a exercer a tarefa. O resultado é um mercado muitíssimo aquecido, com um grande número de analistas, gerentes e diretores de RI migrando de lá para cá. “Temos observado uma verdadeira dança das cadeiras”, afirma Fernando Castro, gerente de recrutamento da área financeira da Michael Page. Com o assédio em torno dos RIs tão explícito, não é raro algumas situações serem conduzidas sem muito tato. “Eu brinco dizendo que os interessados estão perdendo todos os escrúpulos. Andam ligando na própria empresa para oferecer emprego”, revela Silvia Emanoele, gerente de RI da Positivo Informática.

Mas se, para as empresas, a escassez de diretores e gerentes experientes é sinônimo de dor de cabeça, para os jovens talentos tornou-se uma oportunidade única de decolar na carreira. Silvia Emanoele tem apenas 29 anos. Sempre mostrou muita sede por responsabilidades, o que, segundo ela, foi fundamental em sua ascensão. “Desde o início da minha carreira busquei desafios. À medida que fui respondendo à altura, o crescimento ocorreu naturalmente”, diz. Silvia mostra determinação ao afirmar que pretende agarrar todas as oportunidades que surgirem para alcançar a tão almejada condição de alta executiva. “Ser diretor estatutário é o sonho de todos nessa área”, afirma.

Além da garra, os jovens surpreendem pela capacitação técnica. “Os meninos já chegam com pós-graduação e uma ótima base. Quase todos moraram fora do País”, afirma Andréa Pereira, gerente da Suzano Papel e Celulose e diretora do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores (Ibri). Eles também esbanjam energia para agüentar a rotina carregada de reuniões com investidores e a incessante busca de informações dentro da companhia para atender às exigências desse público. Ousados, batalham pelas explicações que julgam necessárias e não se contentam com respostas triviais. “Tentamos sempre buscar soluções diferentes e traçar análises criativas”, diz Eduardo Cytronowicz, 31 anos, diretor-adjunto de RI da Even Construtora. Com tal impulso, os jovens talentos enterram de vez a figura do RI passivo diante dos fatos. “Não basta obedecer à CVM, ser transparente e cortês ao telefone. O RI moderno precisa criar valor para a companhia”, afirma Rodolfo Zabisky, diretor da MZ Consult, consultoria especializada em RI.

Mas é claro que a juventude também tem seus contrapontos. É preciso ter a percepção de longo prazo, que nem sempre é muito natural entre os mais jovens. Da mesma forma, é providencial conter a empolgação, por vezes exagerada. “O discurso tem de ser sempre coerente, racional e realista. Não é permitido se entusiasmar demais, e para isso é preciso desenvolver uma certa maturidade”, diz Horácio Piedras, gerente da Brascan. Segundo Zabisky, umas das principais virtudes do RI é administrar corretamente as expectativas do mercado para desenvolver uma relação de credibilidade. “Até mesmo uma ótima notícia, quando inesperada, não causa uma boa impressão”, diz.

“Comunicação é muito importante. Nada adianta ser um ás em valuation, e não saber fazer um bom trabalho de marketing”

Essa turma na faixa entre 20 e 30 também sabe que não é fácil driblar os olhares por vezes desconfiados numa mesa de reunião. Fabio Tsubouchi, 28 anos, gerente de RI da Agra, confessa que sua aparência jovial já lhe trouxe algum embaraço. Mas a primeira impressão é sempre revertida à medida que a conversa evolui e a outra parte se convence de sua capacitação para o cargo. O mesmo acontece com Maurício Werneck, 26 anos, analista pleno do Itaú. Ele não esconde que bateu um certo frio na barriga nas primeiras reuniões com gente da velha-guarda. Mas, assim como o colega, superou o receio tão logo percebeu que poderia conversar no mesmo nível de seus interlocutores. “Além disso, contamos com um bom planejamento na equipe e, por isso, não somos expostos a situações constrangedoras”, diz.

Enquanto o pessoal novinho ganha uma oportunidade única de exibir todo o seu potencial, os veteranos estão para lá de cobiçados. Estes, na verdade, nem precisam ser tão veteranos assim. Dez anos de carreira já é mais do que suficiente para caracterizá-los como tal. Para Castro, da Michael Page, o ideal é que haja sempre um equilíbrio na composição das equipes, mesclando jovens promissores com profissionais mais maduros. A mesma opinião tem Maria Ângela Valente, gerente da Indusval Corretora. “Apesar de toda a agressividade e proatividade dos mais novos, é muito importante contar com alguém mais sênior. A experiência é sempre bem-vinda”, afirma.

NOVAS HABILIDADES — Em meio ao vaivém de profissionais, a formação exigida para o cargo também vem mudando. A tradicional especialização em finanças ainda é o carro-chefe, ao lado dos cursos de economia e administração de empresas. Mas a evolução das atribuições dos RIs faz com que, cada vez mais, seja necessário ao postulante dominar técnicas de comunicação.

Segundo Valter Faria, sócio da Total RI, consultoria especializada em Relações com Investidores, é fundamental ter facilidade no diálogo com o mercado. Deve-se estar preparado para ouvir tanto um comentário elogioso quanto uma pergunta desafiadora e contestatória. “Em alguns casos, é preciso ser um diplomata”, compara. Andréa, da Suzano, também destaca essa qualidade. “Comunicação é muito importante. Nada adianta ser um ás em valuation, e não saber fazer um bom trabalho de marketing”, diz. Renato Furtado, consultor da área financeira da Russell Reynolds, empresa de recrutamento de executivos, ressalta que, muitas vezes, o RI tem uma única oportunidade para convencer os investidores do potencial de sua empresa. Por isso, cada chance tem de ser muito bem aproveitada. “É fundamental ter uma estratégia de comunicação previamente definida”, afirma.

Essa necessidade cresceu tanto que, hoje, percebe-se uma abertura do mercado para profissionais com graduação em áreas antes pouco prováveis. Um bom exemplo foi dado por Silvia, da Positivo. Para compor sua equipe, contratou recentemente um analista com formação em jornalismo e pós-graduação em marketing. Maria Ângela, da Indusval, também observa a tendência. Em seu curso de MBA em finanças, comunicação e RI, ministrado pela Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), vários dos colegas tinham diploma em áreas como direito e jornalismo.

Na esfera da comunicação, não basta se fazer claro e desenvolver um discurso convincente na língua nativa. A extensa base de investidores estrangeiros que operam no mercado brasileiro e a necessidade de promover road shows fora do País exigem dos RIs modernos o pleno domínio de, no mínimo, uma língua estrangeira — o inglês, claro. Mônica Molina, diretora de RI da Datasul, entende ser este o mais importante dos pré-requisitos. “Conhecimentos em controladoria e conceitos financeiros são mais fáceis de ser ensinados do que outro idioma”, afirma.

PRESENÇA FEMININA — Ainda em meio às mudanças no perfil dos profissionais de RI, há um movimento que, embora previsível, merece ser registrado: o maior número de mulheres. Dados do Ibri mostram que, de 2000 a 2006, o crescimento do público feminino no cargo foi superior a 10%. Hoje, elas já representam mais de 35% deste mercado. Alguma razão mais específica para isso?

Os entrevistados pela reportagem da Capital Aberto arriscaram seus palpites. “Além de contarem com mais credibilidade, as mulheres têm facilidade para trabalhar com diversos temas ao mesmo tempo. A função de um RI tem esse caráter multidisciplinar”, afirma Leonardo Horta, membro do conselho de administração do Ibri. Para Valter Faria, da Total RI, elas são mais atenciosas, o que as torna também mais qualificadas para atividades de relacionamento e atendimento ao público. Maria Ângela, da Indusval, avalia que a sensibilidade ajuda no momento de se comunicar de forma mais adequada com um acionista. “O olhar feminino nos coloca no lugar do outro, e isso facilita a troca de informações”, conclui.


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