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Hora de apimentar
Gestores de recursos saem de um ano morno com a expectativa de lançamento de fundos de maior risco após a queda nos juros

 

ed29_p018-022_pag_4_img_001É início de ano, e um bom momento para renovar esperanças. Que o digam os gestores de fundos de investimento no Brasil. Ao se deparar com a tarefa de traçar cenários, a maioria desses profissionais olha decepcionada para o ano que passou, e que foi um tanto morno – sem grandes tristezas, tampouco euforia – mas embarca em 2006 com a esperança de fatos novos para comemorar.

O cenário macroeconômico e a liquidez internacional alimentam as expectativas de um calendário mais animado para o setor. E a razão é clara, embora nada original. Todos esperam, mais uma vez, que os juros internos caiam, e que agora será a vez da indústria de fundos. O cenário considerado mais provável traz um crescimento do PIB moderado, em torno de 3,5%, altíssima liquidez no mercado internacional e continuidade do fluxo de recursos para os mercados emergentes. Do lado oposto da balança, pesa o fato de ser este um ano eleitoral – e, portanto, sujeito a volatilidade.

No que diz respeito à mudança no Planalto, os gestores acreditam que o País está em melhores condições do que em 2002, quando as últimas eleições presidenciais ocorreram. Naquele ano, a indústria sofreu fortes resgates de recursos devido aos temores de mudanças na política econômica adotada pela gestão de Fernando Henrique Cardoso. Veio o governo Lula e não mudou o rumo traçado, o que deu confiança ao mercado e reforçou-a nos anos seguintes com fundamentos econômicos melhores.

Se tudo sair como previsto, os gestores esperam que os fundos de maior risco entrarão no alvo dos investidores. Muitos, como o BankBoston, a Neo Investimentos e a Mauá Investimentos já planejam o lançamento de novos produtos, e os fundos de ações e multimercados foram eleitos como os de maior potencial.

Isso significaria, para a categoria multimercados, uma reversão da tendência verificada em 2005, quando esses fundos registraram mais resgates do que aplicações.

A indústria como um todo registrou uma captação líquida positiva de R$ 22,3 bilhões em 2005 e deve encerrar o ano com patrimônio de cerca de R$ 709 bilhões, de acordo com a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid).

Já nos multimercados, a captação foi negativa em R$ 69,4 bilhões e reflete, principalmente, a necessidade de adequação da classificação dos fundos à sua política de investimento (dada pela Instrução 409 da Comissão de Valores Mobiliários). Muitos fundos eram classificados como multimercados, mas, na prática, sua política de investimento não se adequava a essa categoria, o que levou à reclassificação dessas carteiras. De acordo com simulações da Anbid, se esse movimento fosse desconsiderado, os resgates desse tipo de fundo teriam superado as aplicações em apenas R$ 2,9 bilhões.

O fato é que essa categoria de fundos não ostentou rendimentos polpudos. E como sempre os investidores olham o desempenho passado, não se sentiram suficientemente atraídos para aportar ali suas poupanças. Para William Trosman, sócio da Mauá Investimentos, o mercado já sofreu uma espécie de depuração, e os investidores que não tinham perfil para aplicar em fundos de risco saíram desses produtos.

A Mauá faz atualmente a gestão de apenas um fundo multimercado, mas estuda o lançamento de novos produtos da categoria ou de um fundo de ações no ano que vem. O seu multimercado está com patrimônio de cerca de R$ 715 milhões e continua aberto à captação. Semanalmente, a necessidade de fechá-lo para novas aplicações é avaliada, a fim de que seja mantida a rentabilidade da carteira.

No BankBoston, está em análise a ampliação da família de fundos multimercado, com a inclusão de produtos com diferentes estratégias (como os de arbitragem). Outra possibilidade é criar um fundo de ações que siga o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) lançado pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). “No ano de 2006, esperamos que os investimentos em renda fixa liderem em função dos juros ainda elevados. No segundo semestre a volatilidade deve aumentar e os multimercados podem ser uma boa alternativa de investimento”, diz Edinardo Figueiredo, superintendente executivo do BankBoston Asset Management (BAM).


PÉ NO CHÃO – A expectativa é de queda nos juros sim, mas não tão acentuada a ponto de tornar irresistíveis os investimentos mais arriscados. Na ponta do lápis, espera-se que os juros reais ainda se mantenham em duas casas. Por isso, a migração esperada para os fundos de ações e multimercados está longe de ameaçar o reinado dos fundos DI e de renda fixa. Para Marcelo D’Agosto, diretor da Fortuna, o grande desafio da indústria de fundos, que é o de reduzir a participação destas duas categorias, ainda não será superado neste ano. “É muito difícil criar um ambiente de otimismo para 2006”, afirma.

A expectativa é que a indústria seja movida, principalmente, pelas áreas de private banking, fundos exclusivos e de pensão
A expansão dos fundos de previdência e dos FIDCs é reveladora de mudanças muito mais estruturais da economia brasileira

Wagner Murgel, da Neo Investimentos – gestora de recursos especializada em multimercados –, espera que os conservadores ainda mantenham seus recursos aplicados em fundos DI, mas que os investidores dispostos a buscar retornos adicionais direcionem seus recursos para produtos de maior risco. O gestor também estuda o lançamento de fundos novos no ano que vem. Os investidores devem olhar para prazos mais longos, e a hora de se posicionar para isso é agora, acredita ele. “Quando os juros estiverem baixos, o investidor terá perdido a oportunidade”, diz.

Outra possibilidade para o ano é a migração dos investidores de varejo para fundos de renda fixa, acredita Roberto Apelfeld, diretor da Western Asset – empresa que assumiu os fundos do Citibank Asset Management em dezembro, em função de uma transação feita entre o Citibank e a Legg Mason (controladora da Western) nos Estados Unidos. Como muitos desses investidores costumam mudar de aplicação somente após as tendências estarem evidentes, devem ir para a renda fixa – que aplicam em títulos prefixados, e portanto, ganham com a redução dos taxas – para tentar se apropriar da queda dos juros, mas após a inexistência de prêmios que justifiquem essa migração tardia.

Na categoria fundo de ações, o aquecimento do mercado e os recordes sucessivos do Índice Bovespa em 2005 podem ser um chamariz para a entrada de novos investidores. No entanto, existe uma dúvida se os aplicadores vão preferir os fundos ou as ações – dado o elevado número de ofertas públicas iniciais. Para Luiz Fernando Rezende, vice-presidente da Anbid, a busca do ris- co deve se dar pela busca das ações diretamente, em detrimento dos fundos de ações. Isso porque o aquecimento do mercado deixou o medo em segundo plano. Por exemplo, muitas empresas em 2005 optaram por entrar diretamente no mercado de ações ao invés de emitir debêntures conversíveis (o que seria de se esperar, para que pudessem primeiro se familiarizar com o mercado). O mesmo poderá acontecer com os investidores, que escolheriam montar sua própria carteira de ações ao invés de aplicar em fundos. Celso Scaramuzza, diretor da Anbid, tem um contraponto. Segundo ele, em 2005, no segmento de private banking, a demanda foi pelos fundos de ações.

Já o aumento da importância de outros produtos é praticamente dado como certo. “Os FIDCs e os fundos de previdência devem continuar crescendo com força em 2006”, diz Alfredo Setúbal, presidente da Anbid. As categorias de fundos de recebíveis (ou FIDCs) e de previdência, aliás, foram os destaques da indústria no ano que passou, ao lado do PIBB – Papéis de Índice Brasil Bovespa. Ambas registraram forte captação líquida. Na primeira, foram R$ 10 bilhões – o que significou um crescimento de 28%. Em previdência, outros R$ 6,7 bilhões, ou 147% de aumento, segundo dados da Anbid.


REFLEXO DA ECONOMIA – A expansão desses dois segmentos – previdência e FIDCs – é reveladora das mudanças estruturais da economia brasileira, diz Charles Ferraz, diretor da associação. O crescimento dos fundos de recebíveis significa que mais recursos foram canalizados para a atividade produtiva, em detrimento da dívida pública. E a necessidade de poupar para a aposentadoria se mostra evidente por conta da incapacidade do Estado de garantir um padrão de vida decente após o término da vida produtiva dos cidadãos.

Mesmo que o cenário de tranqüilidade se concretize, a indústria de fundos terá de se preparar para mais um ano de pesada concorrência com os Certificados de Depósitos Bancários (CDB). Em 2005, muitos bancos ofereceram taxas atraentes para os CDBs – mesmo para aqueles investidores com pouco dinheiro para aplicar – dada a necessidade de captar recursos para aumentar suas carteiras de crédito. Isso se torna ainda mais premente em um cenário de queda dos juros, em que os ganhos com operações de tesouraria dos bancos tendem a se reduzir, e a saída para rentabilizar o patrimônio é voltar-se para a concessão de empréstimos e financiamentos.

Para Setúbal, essa concorrência não deve tirar o crescimento da indústria de fundos no ano que vem. A expectativa é que o mercado seja movido, principalmente, pelas áreas de private banking, fundos exclusivos e de pensão. A expectativa é que o varejo cresça a passos mais lentos. Figueiredo, do BankBoston, considera que, para fazer face a essa concorrência, os fundos terão que ampliar a parcela de títulos privados em suas carteiras, incluindo papéis como os Certificados de Crédito Bancário (CCB).

Iniciar o ano de 2006 com tranqüilidade já é um avanço. Mas o fato é que o processo eleitoral, sempre uma caixa de surpresas, ainda não começou, e avanço mesmo poderá ser apenas um 2006 estável. Afinal, se o parâmetro de comparação for 2002, quando a indústria encolheu 18,5% em captação líquida, encerrar o ano sem grandes resgates já terá sido uma vitória.


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