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Cinema na prateleira dos fundos
Gestores lançam carteiras de investimentos em produções cinematográficas e salas de exibição de filmes

ed14_p046-049_pag_1_img_001Mais do que um canal de lazer, conhecimento e cultura, obras de arte e produções cinematográficas prometem ser alternativas cada vez mais freqüentes de investimento nos mercados financeiros do Brasil e do mundo. Em vez de comprar um quadro ou patrocinar diretamente um filme, o investidor pode investir em fundos que carregam esses ativos na carteira. Tratando- se particularmente de cinema, por exemplo, as instituições financeiras se preparam para colocar no mercado os Fundos de Financiamento da Indústria Cinematográfica (Funcine), criados, no fim do ano passado, por iniciativa da Agência Nacional de Cinema (Ancine) em parceria com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A empresa de investimentos Rio Bravo, do ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, e o Banco do Brasil saíram na frente e já estão em fase de captação. Outras instituições, como o banco mineiro Bonsucesso e as corretoras de valores SLW e Coinvalores, também estão de olho nas oportunidades desse mercado. O fundo da BB-DTVM, a corretora de títulos e valores mobiliários do Banco do Brasil, pretende investir R$ 7 milhões, com aplicações mínimas por investidor de R$ 100 mil. Já o Funcine Rio Bravo Cinema 1 trabalha para captar R$ 30 milhões, dos quais R$ 10 milhões até dezembro próximo. A projeção de rentaed14_p046-049_pag_3_img_001bilidade inicial é de 25% ao ano.

Segundo Thierry Perone, CEO da Investimage e gestor do fundo da Rio Bravo, a carteira será composta por produções cinematográficas e salas de exibição. “Estamos analisando cerca de 100 produtos para investir”, diz Perone. Para não errar na escolha dos projetos, o portfólio será definido por um comitê de investimentos. O cotista que tiver mais de 15% do capital do fundo, segundo Perone, poderá tornar-se um membro do conselho.

Os Funcines poderão fazer aplicações em obras cinematográficas brasileiras de produção independente; construção, reforma e recuperação das salas de exibição; aquisição de ações de empresas nacionais constituídas para a produção e registradas na CVM; comercialização, distribuição ou exibição de filmes; e obra cinematográfica ou vídeofonográfica seriada que tenha entre três e 26 capítulos. O retorno virá da bilheteria dos filmes, das salas ou da valorização das ações das empresas envolvidas nos projetos.

Tais fundos devem manter, no mínimo, 80% do seu patrimônio aplicado em projetos culturais. O restante deverá ser constituído por títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional. Por meio do Funcine, as pessoas jurídicas podem abater do Imposto de Renda o equivalente a 34% do valor investido nas cotas do fundo.

CESTA DE ATIVOS – Antes de o Funcine ser regulamentado, a principal fonte de recursos da indústria cinematográfica era o Certificado de Investimento Audiovisual, disseminado a partir da Lei Audiovisual, de 1993, que garante 100% de benefício fiscal, além do marketing corporativo. A alternativa de aplicar em uma cesta de ativos de cinema é o maior benefício do Funcine em relação ao certificado de audiovisual, cujo lastro é a bilheteria de apenas um filme. “Um Funcine pode aplicar, ao mesmo tempo, em várias áreas da indústria audiovisual, como produção, distribuição e construção de salas de exibição”, explica Fábio de Sá Cesnik, sócio do escritório Cesnik, Quintino e Salinas Advogados, especializado na área de produção audiovisual.

O crescente interesse das instituições financeiras no segmento não ocorre por acaso. Pode ser justificado pelo sucesso de bilheteria dos filmes brasileiros lançados no mercado de 1995 para cá. O ano passado, especialmente, pode ser considerado histórico para o cinema brasileiro. A arrecadação chegou a R$ 134 milhões – 26% dos R$ 513 milhões angariados por filmes estrangeiros. Com sete títulos de grande repercussão, a produção nacional atraiu, em 2003, 22 milhões de espectadores – o triplo do que havia conseguido reunir nos três anos anteriores. A marca ainda está longe dos recordes da década de 70, quando filmes como Dona Flor e seus Dois Maridos arrastavam para a bilheteria 11 milhões de pessoas, mas sobram evidências de que a crise dos anos 90 ficou para trás. Em 2003 foram lançados 30 novos filmes nacionais, abriram-se quase 200 salas de exibição e os títulos brasileiros conquistaram uma fatia expressiva no mercado brasileiro: 21% dos bilhetes vendidos. Em 2004, os números continuam animadores: no primeiro se mestre deste ano, três filmes nacionais registram a marca de dois milhões de espectadores.

Apesar disso, especialistas alertam que o ganho com o investimento em cinema ainda é bastante incerto, já que é impossível prever se o filme fará ou não sucesso. E mesmo que agrade o público, as vendas da bilheteria não significam retorno garantido. Geralmente, paga-se primeiro a sala de exibição, depois a distribuição e a produção do filme, ficando a sobra para o investidor. Esta tem sido a prática utilizada no certificado de audiovisual, mas poderá ser melhor negociada no Funcine. “A ordem de recebimento pode variar de acordo com o que for definido no contrato do fundo”, afirma Cesnik.

LASTRO IMOBILIÁRIO – Especialistas acreditam que os Funcines restritos à aplicação em salas de exibição serão mais conservadores. “Aplicar em salas tem um lastro imobiliário, com retorno mais conhecido”, diz Sérgio Belleza, consultor da corretora Coinvalores. Ele já estuda lançar Funcines cuja carteira seja voltada para exibição. “Pretendemos investir em salas digitais”, diz. “Mas antes estamos conhecendo o mercado e aguardando os resultados dos primeiros fundos.” Na opinião do consultor, o grande risco desse mercado é sua vulnerabilidade em relação às interferências do governo (veja box).

A próxima instituição a lançar um Funcine provavelmente será o banco Bonsucesso, por meio de seu braço cultural, a empresa Culturainvest. “Pretendemos captar R$ 30 milhões para investir em distribuição e salas de exibição”, diz Cristiano Garcia, diretor da Culturinvest. Segundo ele, o registro na CVM deverá ser pedido até dezembro. Garcia acredita que o mercado brasileiro comporte, ao mesmo tempo, cerca de seis fundos de cinema com patrimônio total de R$ 150 milhões a R$ 200 milhões e prazos entre cinco a 10 anos. Por isso, depois que o primeiro fundo for fechado, a Culturinvest pretende estruturar outros do gênero.


PEQUENO INVESTIDOR ESTÁ NO ALVO – A corretora SLW também está de olho na nova alternativa de financiamento da indústria audiovisual. Experiente no mercado, a empresa foi líder no lançamento de certificados de audiovisual do filme Pelé. “Nosso interesse é lançar um Funcine voltado para o pequeno investidor, com cotas de R$ 1 mil a R$ 5 mil”, diz Oswaldo Massaini, sócio da SLW. O problema é que a regulamentação não permite que pessoas físicas usem parte do IR para aplicar nesses fundos, como ocorre com as jurídicas. Segundo Massaini, demanda desse público é o que não falta. “Quando comercializamos os certificados do filme Pelé, atendemos cerca de 150 pessoas físicas interessadas em investir na produção”, diz ele. “Estamos aguardando que a legislação também beneficie o pequeno investidor.”

Corretora estuda lançar Funcine voltado ao pequeno investidor, com cotas de valor mínimo de R$ 1 mil a R$ 5 mil

Isso deve acontecer naturalmente caso o Funcine siga os moldes das Sofica (sociétés de financements du cinéma et de l’industrie cinématographique) – modelo francês de fundo de cinema no qual o produto brasileiro foi inspirado. As Sofica coletaram 40 milhões de euros em 2003, contra 35 milhões no ano anterior. Criadas em 1985 para ajudar a diversificar o financiamento da produção cinematográfica e audiovisual, elas incitam as pessoas físicas, graças a mecanismos de dedução fiscal, a investir no setor.

Além do cinema, os objetos e obras de arte também estão virando ativos da carteira de fundos de investimento. O banco holandês ABN Amro Holding pretende lançar internacionalmente, no início do ano que vem, um fundo que investirá em pinturas, esculturas, porcelanas e louças chinesas. “Percebemos que existe uma demanda grande para esse tipo de investimento”, diz Ariel Salama, diretor mundial de bancos privados do ABN Amro. Nos últimos cinco anos, foram criados de 10 a 15 fundos destinados a arte no mercado financeiro global.

Ainda não existem fundos do gênero no Brasil, mas não faltam, por aqui, empresas especializadas, que prestam serviços de consultorias, assessorias de investimento e intermediações de negócios que envolvam objetos de arte, como a Consularte, localizada no Rio de Janeiro. Serviços como estes e produtos como o Funcine são sinais de que o mercado financeiro brasileiro está se sofisticando. E se aproximando, aos poucos, dos mercados de capitais mais desenvolvidos no campo das artes.

Proposta de taxação dos ingressos preocupa investidores

As instituições financeiras interessadas em lançar Funcines estão preocupadas com um projeto do governo capaz de paralisar a vigorosa recuperação da indústria cinematográfica nacional. Trata-se de um pacote tributário disfarçado, que vai custar centenas de milhões de reais para o setor. Em vez de incentivar a lucratividade da indústria de filmes, o governo está propondo um imposto de 10% sobre os ingressos, cuja arrecadação será destinada a um fundo de fomento ao cinema. O resultado pode ser a redução do público, o desestímulo à construção de salas de exibição e a redução do interesse dos investidores no segmento. O projeto do governo onera também a distribuição. Os distribuidores pagam, atualmente, R$ 3 mil por qualquer quantidade de cópias de um mesmo filme. Se a proposta do governo entrar em vigor, quando forem ultrapassadas 200 cópias, o distribuidor terá de desembolsar R$ 600 mil.

A justificativa do governo para cobrança do imposto e criação do fundo de fomento é a defesa contra as superproduções de Hollywood, que ainda dominam o circuito exibidor. Mas a proposta pode ter o efeito oposto ao que se pretende, levando ao fechamento das salas de cinema, principalmente no interior dos Estados, onde está havendo um grande crescimento de público. Mas tais medidas ainda são apenas um “rascunho”. E a expectativa dos interessados no retorno financeiro desta indústria é de que não saiam deste estágio.


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