Nos últimos anos, poucos assuntos geraram tanta controvérsia no universo da governança corporativa como a remuneração. Os incentivos desmedidos oferecidos aos executivos de algumas companhias norte-americanas foram ingrediente importante da crise financeira global que estourou no fim de 2008. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não dormiu no ponto e, na reforma da antiga Instrução 202, que culminou com a nova 480, passou a exigir maior detalhamento sobre os salários dos administradores no Formulário de Referência.
Graças a essa mudança, este anuário traz alguns dados que antes navegavam em águas turvas. Um deles diz respeito à proporção entre a remuneração fixa e a variável dos executivos. Enquanto na última versão do anuário apenas 19,4% das companhias apresentavam o percentual das parcelas fixa e variável na composição do total, este ano 91% das cem empresas analisadas fizeram essa divulgação. A remuneração média anual paga para cada membro da diretoria, contando a soma das fatias fixa e variável, ficou em R$ 1,7 milhão.
Um ponto que surpreendeu foi o alto percentual de empresas (29,3%) que concedem remuneração variável a seus conselheiros. O tema divide opiniões. Enquanto alguns entendem que o modelo variável reconhece e premia aqueles conselheiros que contribuíram mais para gerar valor à companhia, outros defendem que o profissional não deve estar alinhado com as metas executivas. Algumas companhias, como a Marfrig, concedem opções de ações com exercício em quatro anos aos conselheiros. Já a Lojas Renner e o Banco Indusval atrelam a parcela variável dos ganhos do profissional ao seu comparecimento às reuniões do colegiado. Segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a remuneração baseada em resultados de curto prazo deve ser evitada para o conselho.
Tornar todos esses dados públicos, porém, não foi fácil. No período em que a Instrução 480 esteve em audiência pública, a questão da divulgação dos salários foi, de longe, a que causou mais barulho. A proposta inicial do regulador era promover a divulgação individual da remuneração, mas, diante da chiadeira geral, substituiu-se a sugestão por uma abertura mais branda das informações. Ainda assim, algumas empresas recorreram a uma liminar concedida ao Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-Rio) para não divulgar detalhes sobre os ganhos de seus administradores.
“Nesse primeiro momento, uma reação contrária da parte de algumas companhias insatisfeitas é até normal”, opina Marcos Morales, líder da prática de remuneração executiva da Towers Watson. Porém, a abertura das informações sobre os ganhos dos administradores é um caminho sem volta, acredita. “Lá fora, esse tipo de dado é um requerimento básico dos investidores, principalmente dos grandes fundos de pensão. Se o mercado de capitais quiser almejar voos mais altos, certamente terá de abrir essas informações”.
A relutância das empresas vai além do temor do profissional pela segurança pessoal. Uma abertura sobre os ganhos dos principais executivos e do conselho pode ter repercussões internas. “Uma empresa que estiver discutindo questões salariais com seus funcionários passará a oferecer uma poderosa arma de negociação aos sindicatos”, diz Morales.
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