Segundo um estudo recente, a maioria (64%) da Geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) considera que o governo deve priorizar investimentos destinados à melhoria da educação.
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O filme A.I. – Inteligência Artificial (2001), de Steven Spielberg, foi um projeto de Stanley Kubrick, que repassou a ideia ao colega. Mesmo com enfoque adequado, resultou num trabalho surpreendentemente chato, considerando que as realizações de Spielberg, um mestre do cinemão de entretenimento (a exceção é A Lista de Schindler, de 1993), costumam ser vibrantes.
O cinema saiu perdendo. Kubrick, com obra de orientação oposta à de Spielberg, provavelmente teria apresentado trabalho mais instigante para nossas reflexões. Afinal, no gênero, nada superou 2001 – Uma Odisseia no Espaço (1968).
Duas décadas depois do filme de Spielberg, a expressão inteligência artificial passou a ser usada maciçamente, de forma já cansativa, anunciando que a ficção científica de ontem estaria se tornando a realidade de hoje. Tão chata quanto o filme.
De qualquer forma, entre uma fraude contábil ali e um trabalho escravo acolá, o pessoal se agita em função da novidade — IAs conversacionais, sujeitos a erros, fakes, mensagens subliminares, marketing falsificado (redundância) — que promete ser vantajosa. Entretanto, pode reforçar uma prática antiga, aperfeiçoada no decorrer do século passado e que, curiosamente, produz os mesmos efeitos da IA futurista.
Um filme em preto e branco dos anos 60 se tornou cult. Realizado no período da Guerra Fria, Sob o domínio do mal (1962), de John Frankenheimer, mostra o processo que se convencionou chamar de lavagem cerebral, geralmente atribuído às ideologias de esquerda, mas muito praticado por todas e até pela propaganda nossa de cada dia.
Em 2004, esse trabalho foi refilmado, com Denzel Washington no lugar de Frank Sinatra e a Guerra do Iraque no lugar da Guerra da Coreia.
São lavagens assim que, há muito, artificializam as inteligências naturais dos humanos. O fenômeno se acentuou nos últimos anos, potencializado pelas redes (ditas) sociais (outra denominação marqueteira), com toda a carga destrutiva que atinge as comunicações interpessoais.
A informação eletrônica, geralmente rala e superficial, cria outro mundo de ilusões. A gente vê o raciocínio binário, ou seja, o não pensamento das respostas prontas e acima das nossas benditas dúvidas. O que seria simples ferramenta de apoio tornou-se evangelho do admirável novo saber.
Tem de tudo, é só jogar na panela e saborear a indigestão. O confronto político, na maior parte, é tão absurdo e rasteiro, que neutraliza a argumentação. Para as crianças, há um repertório de games capaz de imobilizá-las durante as manhãs, tardes e noites, sem hora de recreio.
Claro que existe material sério na internet, mas a maioria dos usuários não sabe nem pesquisar um google qualquer. Mesmo com dezenas de opções para a indagação, o cérebro frita e não encontra umazinha sequer.
Vende-se (literalmente) a ideia da democratização do conhecimento. Besteira. Sem educação prévia, com professores(as) bem formados(as), remuneração decente e aulas presenciais, o que resta é o incremento da desigualdade. Desse jeito, a esperançosa Geração Z ainda acaba na panela de pressão.
Trata-se de um modelo desvairado e binário: juros em alta, educação em baixa. Faz sentido. Nas sociedades distópicas, formar robôs humanos (profissionalizados) é essencial. As consequências não interessam porque o modelo é imediatista. Mas podem ser vistas, por exemplo, em Laranja Mecânica (1972), de Kubrick, sempre ele.
Mas quem quer saber de velharias cinematográficas? Não estamos em tempo de gênios nem de criação. A safra é de vingadores velozes e furiosos, nas franquias da inteligência programada.
*Carlos Augusto Junqueira de Siqueira é advogado. Atuou como superintendente da Comissão de Valores Mobiliários e é autor dos livros Fechamento do capital social e Transferência do controle acionário.
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