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Super remarcação
Bovespa lança campanha para empresas agruparem suas ações e se livrarem dos burocráticos lotes de mil

, Super remarcação, Capital AbertoPara os investidores de primeira viagem, cabe sempre um cuidado especial na análise dos preços de ações de companhias brasileiras. Ao olhar a listagem que aparece todos os dias nos jornais, eles encontram produtos que variam na faixa de R$ 1 a R$ 900, muitos deles incomparáveis entre si e prontos para trai-lo no afã de uma conclusão mais apressada.

A ação ON de Ambev, por exemplo, custa cerca de R$ 950. Mas nem por isso é mais cara que a PN de Weg, em torno de R$ 6,50. Na pegadinha criada por variações entre lotes distintos de cotação, cada ação de Ambev vale menos de R$ 1, já que seu preço corresponde ao lote de mil. E a de Weg, cotada de forma unitária, custa cerca de seis vezes mais. Típica parafernália numérica pouco convidativa para os investidores pessoas físicas que começam a tatear o universo acionário.

Para colocar ordem na casa, a Bovespa começou este ano uma campanha para que todas as ações sejam cotadas de forma unitária. Em outras palavras, um adeus mais do que em tempo aos burocráticos lotes de mil. Herdados dos planos econômicos que trocavam a moeda vigente para domar a inflação galopante, os lotes de mil acabaram persistindo mesmo na fase de estabilidade econômica e atrapalhando a vida do investidor mais desavisado.

“Nossa meta é ter 95% das empresas cotadas em lotes unitários até o final do ano”, afirma Ricardo Nogueira, superintendente de operações da Bovespa, referindo- se à base de 360 empresas ora listadas. Dessas, 150 já estavam assim cota das até o início da campanha. Outras 20 anunciaram a intenção de fazê-lo nos últimos dois meses e existem mais 40 empresas prontas para migrar até meados do ano, segundo Nogueira.

Para se livrar dos lotes de mil, essas companhias têm que aprovar primeiro, em assembléia extraordinária, o chamado grupamento de ações. A CSN, por exemplo, que tem suas ações cotadas a cerca de R$ 170 o lote de mil, decidiu juntar cada 250 ações em uma e pular para a faixa de R$ 42 a unidade. Sem o grupamento, sua cotação unitária estaria fadada a míseros R$ 0,20, o que também não seria adequado para a compreensão do público investidor. “Nossa recomendação é para que as empresas agrupem suas ações de forma a deixar cada papel com um valor superior a 1 real e, idealmente, num intervalo entre 20 e 40 reais”, afirma Nogueira.

, Super remarcação, Capital AbertoHERANÇA DO PLANO CRUZADO – Os lotes de mil têm origem em 1986, no governo de José Sarney, quando 1.000 cruzeiros foram transformados em 1 cruzado. Para que as ações mantivessem a expressividade monetária, a Bovespa decidiu acompanhar a mudança e criar as cotações por lote de mil. Ainda em 1986, no mês de dezembro, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) baixou uma norma (Instrução 56) para que todas as companhias fizessem o grupamento de suas ações, de forma que as cotações pudessem voltar a ser unitárias. Em maio de 1988, terminado o prazo para as empresas se adaptarem, os lotes de mil foram suprimidos pela primeira vez.

Voltaram somente seis anos depois, com o Real. Nesse intervalo, em meio aos planos Bresser, Verão e Collor I e II, não precisaram ser acionados porque a inflação cumpria o papel de dar expressividade às cotações. Quando um plano cortava os zeros, as ações não demoravam a retomar seus preços cheios. “Com uma inflação de 1000%, não precisávamos mais de lotes de mil e nem de grupamentos”, conta Nogueira.

Com o Plano Real, em 1994, a unidade monetária foi dividida por 2.750 e mais uma vez os lotes de mil foram a solução. Mas a diferença era que, dali em diante, sem inflação, somente uma supervalorização dos papéis poderia dispensar as operações de grupamento – o que, em meio aos altos e baixos das bolsas, logicamente não ocorreu. Agora o grupamento surge novamente como forma de viabilizar as cotações unitárias.

LOTE PADRÃO – Mas o trabalho da Bovespa não termina por aí. Além das cotações misturadas entre lotes de mil e unitários, também atrapalha o entendimento do investidor o chamado lote padrão de negociação. Voltemos ao exemplo de Ambev. Se depois de avaliar as oportunidades no mercado o investidor decidisse comprar as ações da cervejaria, ele teria que desembolsar, no mínimo, algo em torno de R$ 9.000,00. Isso porque, no caso da Ambev, o lote mínimo de ações que o investidor precisa adquirir é de 10.000. Logo, se cada ação custa cerca de R$ 0,90, ele precisaria sacar R$ 9.000,00 de suas economias. Se não tivesse condições para tal, teria que procurar ações no chamado mercado fracionário, onde as condições de negociação não são as mesmas e os preços tendem a ser maiores.

Já no caso da Weg, que numa breve ilusão de ótica custaria menos, o investidor teria um desembolso menor. Seriam apenas R$ 600, porque o lote padrão é de 100. Para acabar também com essas diferenças a Bolsa resolveu transformar todas as ações em lotes mínimos de 100. Assim, depois de realizado o grupamento, a conversão no lote padrão será automática., Super remarcação, Capital Aberto

Hoje, quando cotação e lote padrão elevados se combinam, o resultado é uma verdadeira oferta de artigos de luxo na bolsa. Para comprar ações da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) antes do grupamento, por exemplo, o investidor precisava ter no mínimo R$ 17,3 mil disponíveis (ver quadro)

RISCO DE ACESSO – Os valores elevados de desembolsos podem afastar a presença de investidores individuais, principalmente daqueles que começam a experimentar a bolsa e, por vezes, não têm uma parcela tão abundante de recursos para investir em ações. “Ao fazer o grupamento, é preciso atentar para que o valor não fique alto demais e inacessível ao pequeno investidor”, alerta Geraldo Soares, superintendente de relações com investidores do Itaú, que também resolveu levar uma operação de grupamento à aprovação da assembléia no mês passado. Segundo Soares, o investimento médio do investidor que aplica via Internet (home broker) gira em torno de R$ 5 mil.

Por conta de tornar suas ações mais acessíveis ao investidor, diversas companhias fizeram nos últimos meses exatamente a operação inversa do grupamento: o desdobramento. Medida que costuma agradar os investidores, o desdobramento funciona como uma bonificação: as ações são quebradas em partes e, desta forma, quem tinha uma ação, por exemplo, passa a ter três. Os papéis chegam até a cair logo após as operações de desdobramento, por conta do aumento da oferta de ações no mercado, mas esse efeito costuma ser rapidamente compensado pelo incremento de liquidez decorrente da redução no valor nominal do papel. A Gerdau anunciou uma operação com este escopo em abril.

Outra operação realizada voluntariamente por algumas companhias com o intuito de favorecer o acesso de investidores aos seus papéis é a simples mudança no lote padrão. Foi o que fez a Cia. Suzano em novembro passado, um mês antes da oferta que levou a mercado as posições até então detidas por acionistas como o JP Morgan e o Citibank. O lote padrão de 1.000 passou a ser de 100, o que diminuiu o desembolso inicial obrigatório e teve efeito imediato sobre os papéis. João Pinheiro Nogueira Batista, vice-presidente executivo da Suzano Holding, lembra que o volume médio diário de negócios em novembro teve um crescimento superior a 400%, explicado pela mudança no lote padrão.

CONVENCIMENTO – Para fazer com que as empresas voltem a negociar seus papéis de forma unitária, a Bovespa iniciou uma verdadeira campanha para convencê-las. Afinal, as operações de grupamento não são tão simples assim. É preciso arcar com os custos de corretagem dos acionistas que tiverem de vender ou comprar papéis para arredondar suas posições e compor o lote definido no grupamento. Um exemplo: se a empresa decide grupar suas ações à razão de 1.000 para 1, o acionista que tiver 3.900 ações terá que escolher entre comprar 100 ações adicionais no mercado ou vender as 900 que sobram. Para facilitar o trâmite da operação, os controladores de companhias como Fras-le, Rasip Agropecuária, Hering e AES Sul resolveram doar parte de suas ações.

Lotes de 1.000 surgiram com o Plano Cruzado, foram abolidos pela CVM e só voltaram por conta do Plano Real

Como o grupamento é uma operação a ser aprovada em assembléia, a empresa tem ainda que arcar com a publicação legal. Para oferecer às empresas uma chance de economizar, a Bovespa começou a campanha estrategicamente neste início de ano, para que as companhias pudessem aproveitar a assembléia extraordinária geralmente realizada com a assembléia anual ordinária para aprovar o grupamento. Assim o gasto aconteceria de uma só vez.

Nogueira, da Bovespa, calcula que, depois do esforço neste início de ano, vão sobrar cerca de 150 empresas com ações cotadas por lotes de mil. Entre elas as de telecomunicações, que terão que agrupar os papéis de seus milhares de acionistas. “Como uma parte desses acionistas é a mesma, por conta da cisão da Telebrás, recomendamos que elas combinem de fazer os grupamentos ao mesmo tempo”, afirma Nogueira, que espera ver essas operações realizadas ainda este ano. Também vão restar diversas empresas de energia elétrica, outro setor forte na bolsa. Se todas aderirem, terão dado a sua contribuição para que novos investidores decidam entrar no mercado de ações.


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