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O trabalho vai ser duro

Observado à distância pelas companhias brasileiras, o padrão contábil internacional, conhecido pela sigla IFRS, simbolizava, até o ano passado, a perspectiva de uma contabilidade universal que um dia, lá na frente, bateria na porta dos nossos contadores. Mas a norma da CVM para que as companhias divulguem suas demonstrações consolidadas em IFRS a partir de 2010 e a súbita aprovação da nova lei contábil no fim do ano passado mudou essa perspectiva de uma hora para outra. Agora é colocar a mão na massa e peitar o desafio — que, por sinal, não é nada modesto.

A começar pelo processo de conversão. Quando perguntamos aos encarregados dessa tarefa se nossa contabilidade estará, ao fim do processo, 100% alinhada com o IFRS, a resposta é “quase” — justamente a palavrinha que tira o sono de reguladores no Brasil e no mundo, como mostra a reportagem de capa desta edição. Se adotado livremente ao redor do mundo, esse “quase” periga fazer do sonho da linguagem única global uma torre de Babel contábil de proporções inimagináveis.

O segundo desafio, particularmente no Brasil e em outros países cujas leis provêm do direito romano, é cultural. Nossos contadores foram ensinados pelo sistema vigente a seguir à risca as regras claras e bem definidas que lhes são providas. Ninguém os formou para reconhecer os princípios gerais de um mundo em que a essência se sobrepõe à forma sem pedir licença. Da mesma maneira, nossos reguladores e juízes estão acostumados a decidir contendas com base no que dizem a lei e os normativos aplicáveis, num olhar precisamente treinado para ler o que está dito e não o que se pretendeu dizer — e que agora terá de ser reeducado com brevidade. Educação, aliás, é outro problema. A demanda súbita por conhecimento do padrão internacional não encontra oferta de capital intelectual nas mesmas proporções nem nas empresas, nem nas firmas de auditoria.

No meio de tudo isso, cumpre lembrar que os analistas e investidores, consumidores finais da contabilidade e principais beneficiários da harmonização que se pretende alcançar, não podem ser excluídos do processo. Ao contrário, é justo que eles estejam muito bem informados do que se passa, para que a transparência e a clareza pretendidas com o IFRS não se transformem numa verdadeira tormenta contábil em suas vidas. Por isso, está mais do que na hora de os profissionais de Relações com Investidores se enfronharem no time de contadores que pilota a migração para o IFRS. Cabe a eles assegurar que as exceções, os ajustes e as emendas nos balanços não ficarão confinados no linguajar técnico e, por vezes, incompreensível das notas explicativas.

Bom lembrar que, com a ascensão do padrão internacional, a contabilidade nunca esteve tão próxima da economia e, portanto, da vida real. No lugar de um modelo que reproduzia a vida das companhias pelo retrovisor, impõe-se um sistema prospectivo, capaz de informar o que está por vir e, por isso mesmo, muito mais informativo e útil aos investidores. A proposta e a intenção, não há dúvida, são excelentes. Mas as armadilhas pelo caminho também são perigosas.


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