O pregão acionário da BM&FBovespa tem oscilado ao sabor das incertezas que sacodem o planeta. A lista é grande. Vai da disputa presidencial nos Estados Unidos à crise europeia, passando pelas dúvidas sobre o nível de crescimento da economia chinesa e a viabilidade de medidas de socorro a países como a Espanha. Sem uma tendência delineada, os investidores deixam as teorias fundamentalistas de lado e se agarram às notícias que pipocam no dia a dia. Boatos e resultados trimestrais tornam-se os guias preferidos das decisões de compra e venda, resultando em níveis de volatilidade exacerbados, como aconteceu recentemente com as ações da Gol.
Com resultados negativos — no segundo trimestre, seu prejuízo líquido foi de R$ 756 milhões, cifra 161% superior às perdas acumuladas no mesmo período do ano anterior —, a companhia de aviação comercial tornou-se refém da especulação. Em 1º de outubro, suas ações preferenciais fecharam em alta de 10,6%, a R$ 12,80, infladas por um rumor que não se comprovou. No começo do dia, a área de comunicação da companhia havia informado que um fato relevante seria divulgado após o encerramento do pregão, e o mercado especulou que a notícia seria uma fusão com a Qatar Airways, fazendo o preço disparar. Quando o expediente terminou, o desencanto: o fato relevante contava apenas que a Gol havia comprado 60 aeronaves da Boeing. Em 2 de outubro, as ações devolveram os ganhos. Fecharam em baixa de 10,9%, a R$ 11,40.
“O mercado anda sem direção definida e muito sensível às informações trazidas pela mídia”, avalia Edmar Prado Lopes Neto, diretor financeiro e de relações com investidores da Gol. O executivo se refere a matérias específicas que, segundo ele, ajudaram a fomentar a especulação de curto prazo. Uma delas foi a divulgação, no início de setembro, pela revista Veja, da primeira notícia de que a Gol poderia se juntar à Qatar — nos mesmos moldes da operação que formou a Latam, resultado da união entre a brasileira TAM e a chilena LAN. “Essa informação pautou a negociação (das ações) da companhia por semanas”, conta Lopes Neto, que nega a fusão. Ele ressalta que não é todo fato relevante que gera uma comunicação prévia, mas nesse caso, “tratava-se de uma medida de longo prazo, por isso a companhia julgou importante avisar o mercado”. Para Lopes Neto, a relação causal entre o comunicado e a variação do preços das ações não está clara. “Em setembro, negamos a notícia divulgada, e os papéis oscilaram do mesmo jeito”, argumenta.
O episódio da Qatar foi apenas a última onda especulativa com as ações da Gol. Em agosto, quando a companhia anunciou o prejuízo do segundo trimestre, os papéis caíram 12,9%, a maior oscilação negativa em um só pregão desde o início do ano. Já o maior movimento de alta ocorreu em abril — os papéis subiram 11%, no dia 17 —, originado por uma notícia que nunca se confirmou. O jornal Valor Econômico veiculou reportagem a respeito de uma possível redução do ICMS sobre o querosene de aviação, um dos principais insumos da companhia. Lopes Neto conta que, nessa data, recebeu o primeiro telefonema questionando a veracidade da informação antes das sete da manhã. Mas, segundo ele, quando o mercado está “de lado”, não há muito que fazer. “A volatilidade das ações aumentou porque nossos resultados estão fortemente relacionados ao câmbio e ao petróleo, que também oscilam nesse contexto de incerteza econômica”, afirma.
Outra vítima do noticiário especulativo recente é a TIM Participações. No mês passado, a JVCO, acionista da companhia controlada pelo empresário Nelson Tanure, entrou com uma ação na Justiça do Rio de Janeiro com um pedido de indenização contra a Telecom Italia, dona de 67% do capital da telefônica brasileira. O investidor alegou que a empresa italiana exerce abusivamente seu poder de controladora. Dias antes, a JVCO já havia formalizado, tanto na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) quanto na Securities and Exchange Commission (SEC), questionamentos sobre provisões de perdas contabilizadas pela companhia. Segundo o investidor, de um total de R$ 6,6 bilhões em riscos tributários, apenas R$ 126 milhões haviam sido provisionados. A TIM negou a dívida, argumentando que a avaliação de risco realizada dispensava o provisionamento. A resposta rápida, no entanto, não impediu a especulação com os papéis. No dia 2 de outubro, as ações preferenciais da empresa fecharam em queda de quase 4%, mas chegaram, ao longo do pregão, a registrar baixa de 8%.
As negociações de alta frequência acentuaram os efeitos da especulação nos últimos anos
“Estamos diante de um quadro econômico conturbado, o que faz com que os investidores, temerosos, busquem ganhos rápidos”, avalia Pedro Galdi, analista chefe da SLW Corretora. O especialista destaca que, nos últimos anos, outro fator acentuou os efeitos da especulação: as negociações de alta frequência, definidas a partir de modelos algorítmicos. Ao disparar várias ordens por segundo para concretizar uma operação, o sistema catapulta a oscilação dos papéis. Os números da BM&FBovespa expõem esse fenômeno. Em 2012, até 25 de outubro, foram realizadas, no total, 133,8 milhões de operações com ações, quantidade 175% superior à registrada em todo o ano de 2008, quando foram contabilizados 48,5 milhões de negócios. Em volumes financeiros, porém, essa diferença é bem menor. Em 2012, o total negociado somou R$ 1,415 trilhão até 25 de outubro, apenas 10% mais que nos 12 meses de 2008.
ADEUS À TRANQUILIDADE — Nem mesmo as conservadoras empresas de energia elétrica, adoradas pelos investidores que buscam posições defensivas e ganhos com dividendos, escaparam da roda da volatilidade. Nesse caso, entretanto, a razão está nos fundamentos. No dia 12 de setembro, os principais papéis do segmento despencaram com a divulgação do pacote do governo federal de redução do preço da energia elétrica. E para estimular o crescimento econômico, o Planalto decidiu, além de reduzir tarifas, definir novas bases para a renovação dos contratos de concessão. O efeito sobre os papéis foi imediato. “Dependendo de como vier o novo marco regulatório, a ação que hoje vale R$ 40 pode cair a R$ 25. Os contratos afetam o preço final do produto e todo o fluxo de caixa”, observa Rodolfo Amstalden, da Empiricus. Um segundo semestre repleto de surpresas, sem dúvida, para todos os perfis de investidor.
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