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Em nome do Pai, do filho e de um sócio
Sadia sofre perdas milionárias e agora busca saída que pode envolver a alienação do controle

Era um dia comum de trabalho na sede da Vila Anastácio. Até que, de surpresa, um padre começa a peregrinar pelo escritório da Sadia benzendo os funcionários com o sinal da cruz. O ritual, pouco visto nos ambientes corporativos, não é incomum na companhia. Sacerdotes costumam ser convidados para abençoar a Sadia em ocasiões como o Natal, por exemplo. Nesse caso em particular, contudo, o apelo de uma das maiores fabricantes de alimentos do Brasil às bênçãos do Senhor foi mais uma das tentativas de chamar a sorte. De preferência, com uma injeção de recursos ou com a entrada de um sócio disposto a capitalizar as suas finanças, combalidas desde uma aposta mal calculada no mercado de derivativos.

Ainda que pesem contra a Sadia as rusgas inerentes a uma empresa familiar, a companhia sempre exibiu excelente saúde financeira e despontou como uma potência genuinamente brasileira no segmento de bens de consumo. Em seus 64 anos — desde que nasceu como um frigorífico na pequenina Concórdia, no oeste catarinense —, o vermelho destacava-se apenas nas letras que colorem o seu nome no logotipo. Mas a maré virou, e a cor também tingiu o seu balanço pela primeira vez na história em setembro do ano passado, quando a companhia anunciou perdas de R$ 760 milhões. Em seguida, provisionou outros R$ 1,7 bilhão — recursos que devem comprometer o seu caixa ao longo de 2009. “O erro da empresa foi tentar compensar os efeitos negativos da valorização do real antecipando a venda de mais de um ano em exportações, numa cotação em torno de R$ 1,80”, observa uma fonte do setor. “A aposta não considerava que a crise internacional provocasse a disparada do dólar e, antes que o cenário ficasse pior, a Sadia preferiu honrar suas posições nos mercados futuros”, avalia a mesma fonte.

O mês de março poderá ser um importante divisor de águas para a empresa. O mercado e os potenciais interessados aguardam a divulgação do balanço anual, que trará à tona os números do quarto trimestre. Uma vez públicos, eles prometem tornar mais claras as necessidades reais da Sadia. Analistas do setor — alguns mais ácidos, outros nem tanto — calculam que a companhia esteja buscando algo entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões. A torcida do contra diz que a fabricante só tem caixa para sobreviver até maio. O time a favor espicha o prazo até setembro e faz a ressalva de que, dificilmente, os bancos credores não renovariam as linhas de crédito da companhia. Mas a questão é: renovar a que preço? Um analista observa que, no fim do ano passado, para tapar buraco às pressas, a companhia pegou um empréstimo no curto prazo com juro de 125% do CDI — um custo, pelo menos, 10% mais caro do que costumava captar.

“A Sadia vem enfrentando tempos difíceis, devido às perdas que sofreu com as operações de derivativos cambiais. Além disso, é afetada pela diminuição da demanda global por proteína animal e a escassez de oferta de créditos”, diz Clodoir Vieira, da Souza Barros. Ele afirma, no entanto, que um ponto positivo a ser considerado é a contratação do novo diretor financeiro José Luis Magalhães Salazar, egresso da Oi, “com excelente histórico de negociações com instituições financeiras”. A recomendação da Souza Barros é de compra para carteira de longo prazo, apesar de grandes volatilidades no preço no curto prazo. A corretora projeta o preço-alvo de R$ 5,80. No fim de fevereiro, o papel estava cotado a R$ 2,86. No começo de setembro, antes do anúncio das perdas, oscilava entre R$ 10 e R$ 11.

O preço do papel e, portanto, seu valor de mercado têm sido temas polêmicos nas discussões que prometem selar o futuro da companhia. Em especial, se o que estiver em jogo for a sempre propalada união com a Perdigão. A família Fontana — que trouxe de volta à labuta do dia a dia o ex-ministro e acionista Luiz Fernando Furlan para arrumar a casa — não está disposta a vender a empresa a qualquer preço. E acha injusto que, por uma infelicidade financeira somada à crise mundial, a companhia seja subavaliada. Unir concorrentes ferrenhos e agradar de comum acordo toda a família são objetivos que exigem um sofisticado arranjo e habilidade franciscana na negociação.

O casamento entre Sadia e Perdigão só poderia acontecer depois de uma capitalização. Nesse caso, a injeção de recursos mais esperada é via BNDES. O banco estatal, que vem fomentando reorganizações no atual cenário de crise, funcionaria como uma espécie de “sponsor” da união, comprando a posição da família e abrindo caminho para a Perdigão. Há possibilidade de venda de ativos que não fazem parte do “core business”, como a corretora Concórdia e bens imobiliários. Mas há resistência para esse desfecho. E, mais do que isso, existem outras opções sobre a mesa. A Sadia sabe que tem uma marca forte, o ex-ministro Furlan conta com credibilidade internacional e transita com leveza pelo governo. Uma alternativa alentada é conseguir uma linha de financiamento de longo prazo no exterior — seja de banco privado, seja de organismos internacionais de fomento. E aí, sim, recomeçar tudo como o fundador fez em 1944, mais precisamente em 7 de junho, um dia depois do desembarque dos aliados na Normandia, durante a Segunda Guerra Mundial.

A escolha das companhias para esta seção é feita a partir de um levantamento da Economática com a oscilação e o volume negociado mensalmente por ações que possuem giro mínimo de R$ 1 milhão por dia. A partir daí, são escolhidas aquelas que se destacam pelas variações positivas e negativas nos seis meses anteriores.

, Em nome do Pai, do filho e de um sócio, Capital Aberto


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