Pesquisar
Close this search box.
De olhos bem abertos
Animados com Copa e Olimpíadas, asiáticos mostram apetite aguçado por Brasil — tanto no mercado de ações como em private equity

, De olhos bem abertos, Capital Aberto

O ano de 2009 foi histórico para os investimentos asiáticos em companhias brasileiras. O Rio Wind, fundo gerido pelo Itaú Unibanco que compra ações de listadas na BM&FBovespa, captou US$ 1,2 bilhão, a maior arrecadação dentre todas as carteiras estreantes no Japão no ano passado. Tão impressionante quanto o valor foi o curto espaço de tempo em que o montante foi levantado, já que o Rio Wind, que usa como mote a realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, foi lançado em meados de novembro. Chama também a atenção o fato de o interesse partir de investidores de varejo, geralmente menos afeitos a colocar seu dinheiro em ativos estrangeiros.

E não é só o Itaú Unibanco que tem motivos para comemorar. Também de olho na poupança nipônica, a BB DTVM, braço de gestão de recursos do Banco do Brasil (BB), anunciou, em novembro, um fundo misto no Japão. Com mais de R$ 140 milhões captados até 14 de dezembro, o fundo aplica 70% dos recursos em uma carteira de renda fixa de títulos brasileiros — o restante vai para um fundo de ações com foco em dividendos. Os fundos do Itaú Unibanco e do BB se juntam ao HSBC Brazil Open, fundo que mais rendeu na Ásia em 2009 dentre 2,3 mil veículos com patrimônio superior a US$ 100 milhões. Com US$ 2,8 bilhões sob gestão, o fundo obteve 170% de retorno

Para esse sucesso, sem dúvida o apelo olímpico tem sido fundamental. “Aproveitamos o momento certo”, comemora Roberto Nishikawa, diretor do Itaú Unibanco. O lançamento do fundo logo após a vitória do Rio de Janeiro não foi por acaso. “O Japão inteiro estava envolvido com a escolha da sede dos Jogos”, conta Nishikawa, lembrando que Tóquio era um dos principais concorrentes da “cidade maravilhosa”. Assim como o Brasil, o país realizou uma Olimpíada em 1964, num momento de acelerado crescimento e autoafirmação no cenário internacional.

Sem a temática olímpica, o interesse do investidor nipônico esmorece. Antes do Rio Wind — que investe nas companhias do Ibovespa e possui ticket mínimo de US$ 1 mil —, o Itaú Unibanco havia lançado dois fundos de ações. Em 2008, aproveitando as comemorações do centenário da imigração japonesa no Brasil, foi lançado o Brazil Equities Fund, com ações de empresas brasileiras no Morgan Stanley Capital International (MSCI), além de um fundo de ações focado em papéis da América Latina. As captações, contudo, foram bem menores — de US$ 130 milhões e US$ 50 milhões, respectivamente. O banco também conta com um fundo de renda fixa, com patrimônio de US$ 300 milhões investido em títulos públicos brasileiros.

Com o Rio Wind, o Itaú Unibanco colhe frutos de um trabalho lento e perseverante com o conservador investidor japonês. Desde 2006, quando o então Itaú iniciou suas operações no Japão, Nishikawa faz várias viagens ao país, na busca por oportunidades com o público nipônico. “No começo era mais curiosidade que interesse. Em 2007, já estávamos discutindo contratos de parceria com instituições japonesas para o lançamento de fundos”, destaca o diretor.

Itaú Unibanco colhe frutos de um trabalho lento e perseverante com o conservador investidor japonês

O esforço vale a pena. Os japoneses possuem mais de US$ 4,5 trilhões aplicados em CDBs. Apesar de desenvolvido — a bolsa de Tóquio é a segunda do mundo em capitalização de mercado, com US$ 3,2 trilhões —, o mercado de renda variável no Japão anda em baixa. O índice Nikkei, com seus atuais 10 mil pontos, ainda está longe da pujança observada na década de 80, quando atingiu quase 40 mil pontos. O volume de negociações da bolsa japonesa perde terreno na própria Ásia — em novembro, negociou US$ 310 bilhões, atrás das bolsas chinesas de Xangai e Shenzen, que movimentaram US$ 572 bilhões e US$ 364 bilhões, respectivamente.

O sucesso do Rio Wind já permite ao Itaú Unibanco alçar altos voos. A instituição vem conversando com investidores institucionais para o lançamento de fundos mais parrudos ou para o trabalho de consultoria em investimentos no Brasil. Outros bancos também se aproveitam do apetite asiático por ativos verde-amarelos. O Bradesco possui mais de US$ 370 milhões alocados em um fundo de renda fixa no Japão, em parceria com a Mitsubishi UFJ Asset Management. A gestão da carteira composta de títulos públicos brasileiros é feita pela instituição japonesa, enquanto o Bradesco faz o advisory. O Itaú Unibanco atua também na Coreia do Sul, onde possui três fundos em parceria com a Daewoo Securities e a KDB Asset Management — um de ações de empresas brasileiras, com patrimônio de US$ 50 milhões; um de renda fixa, com patrimônio de US$ 20 milhões; e outro de ações voltado para a América Latina, que administra US$ 10 milhões.

FINCANDO BANDEIRAS — O interesse coreano pelo Brasil não se limita às suas fronteiras. A maior administradora de recursos coreana fincou sua bandeira em nosso território em 2008, quando inaugurou escritório em São Paulo. A Mirae Asset Management possui mais de US$ 50 bilhões sob gestão, dos quais US$ 1 bilhão em companhias brasileiras. A fatia do País nos portfólios da Mirae corresponde a 20% do que é investido nos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), atrás somente da China, que detém 70%. A preferência pelo gigante asiático, conta Young Kim, diretor de investimentos da Mirae, se dá pelos fortes laços comerciais entre os dois vizinhos. Rússia e Índia recebem 5% cada uma dos investimentos da Mirae. “A Rússia é muito dependente da exportação de petróleo, e a Índia tem sérios conflitos sociais internos e tensões com o vizinho Paquistão”, comenta Kim.

O ano de 2010 para a Mirae no País, conta Kim, será de aumento e diversificação de carteira. Mais de 50% do portfólio da asset está concentrado em empresas de commodities e agrícolas. “A percepção do investidor coreano em relação ao Brasil vem mudando, principalmente por causa da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Eles veem que o Brasil não tem apenas empresas fortes em recursos naturais”, diz o diretor. O plano é comprar participações maiores em setores como varejo, imobiliário e bancos.

A gestora também pretende oferecer ao investidor brasileiro produtos com aplicações em empresas atraentes de países emergentes. Um de seus quatro fundos, o Mirae Asset Equity Value, permite a alocação de até 10% de seu patrimônio em ativos no exterior. Mas, por enquanto, os fundos têm investido apenas no Brasil. “As condições por aqui estão ótimas, com bons resultados das empresas e taxa de juros caindo. Não há por que investir lá fora agora”, defende Kim. Recentemente, o grupo coreano obteve uma importante conquista para atuar no mercado de capitais brasileiro. O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou, em dezembro, proposta da Mirae para constituição de uma corretora. A ideia, além das atribuições normais de uma corretora, é funcionar como canal financeiro entre investidores asiáticos e o Brasil.

INTERESSE ESTRATÉGICO — O País também tem atraído a atenção de segmento de private equity oriental. Com mais de US$ 5 bilhões de capital comprometido, o fundo chinês SinoLatin pretende desembarcar em breve por aqui e desembolsar cerca de US$ 200 milhões na aquisição de participação relevante em uma companhia de soja. Criado em setembro do ano passado, o SinoLatin quer casar a necessidade de recursos naturais e a disponibilidade de capital na China com as boas oportunidades da América Latina. Além do Brasil, o fundo estuda a possibilidade de comprar participações em uma companhia florestal no Uruguai e em uma mineradora na Colômbia.

Os vínculos comerciais e financeiros entre China e América Latina estão cada vez mais fortes. Em 2008, o comércio entre os dois somou US$ 143 bilhões, enquanto o investimento direto da China na América Latina ultrapassou US$ 3 bilhões. “Essa relação estratégica beneficia os dois lados, pois favorece a importação de matérias-primas pela China, desenvolve novos mercados para os produtos latino-americanos e facilita a busca de investidores chineses para empresas latinas”, diz Erik Bethel, sócio e CEO do SinoLatin. O fundo tem seu foco voltado aos setores estratégicos para a política de crescimento chinesa, como agronegócio, energia, florestas, infraestrutura e mineração.

A Bolsa brasileira também está atenta a oportunidades no extremo oriente. Desde 2004, a BM&FBovespa tem um escritório de representação em Xangai. Instalada inicialmente com o propósito de aproximação com o governo chinês para a negociação de contratos de soja pela então BM&F, a sede foi repaginada após a fusão das duas bolsas. “Contratamos profissionais locais para fazer contatos de maior qualidade”, conta Paulo Oliveira, diretor executivo de desenvolvimento e fomento de negócios da BM&FBovespa. Como resultado, as reuniões com investidores para apresentar o mercado de ações brasileiro ficaram muito mais concorridas. “Fica gente do lado de fora da sala”, diz Oliveira.

Além do maior interesse do investidor asiático, a Bolsa vem prospectando bons negócios no Oriente. Desde julho de 2008, lista um Exchange Traded Fund (ETF) baseado no Ibovespa na bolsa de Tóquio. Criado em parceria com a Nomura Asset Management, o Next Funds Ibovespa Linked ETF ainda é pequeno se comparado aos blue chips do segmento — seu volume de negociação, em 16 de dezembro, foi de US$ 536 mil, enquanto o Topix Banks ETF, um dos maiores do Japão, negociou US$ 11,2 milhões no mesmo dia. Mas não é nada mal se considerado que, um ano antes, no dia 19 de dezembro, o ETF brasileiro movimentava apenas US$ 60,8 mil.


Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.


Ou assine a partir de R$ 34,40/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.


Você está lendo {{count_online}} de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês

Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.

Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais


Ja é assinante? Clique aqui

mais
conteúdos

APROVEITE!

Adquira a Assinatura Superior por apenas R$ 0,90 no primeiro mês e tenha acesso ilimitado aos conteúdos no portal e no App.

Use o cupom 90centavos no carrinho.

A partir do 2º mês a parcela será de R$ 48,00.
Você pode cancelar a sua assinatura a qualquer momento.