Alexandre Póvoa*/ Ilustração: Julia Padula
Bolsa a 37,5 mil pontos, dólar a R$ 4,15, NTN-B 2050 a IPCA mais 7,50% ao ano, DI de janeiro de 2023 a 16,50%, petróleo tipo WTI a US$ 31,50 por barril e minério de ferro a US$ 41 por tonelada.
Em outro planeta? No Brasil, há anos? Não: esses preços eram verificados no mercado financeiro no dia 26 de janeiro de 2016, menos de três meses atrás. Passado apenas um trimestre, registra-se Ibovespa em 53 mil pontos (alta de 41%), dólar a R$ 3,50 (valorização de 19% do real), NTN-B 2050 a IPCA mais 6,25% ao ano (menos 125 pontos-base), DI de janeiro de 2023 a 13,15% (recuo de 35 pontos-base), petróleo tipo WTI a US$ 42 por barril (avanço de 33%) e minério de ferro a US$ 59,50 por tonelada (aumento de 45%).
Em janeiro, os mercados viviam um verdadeiro inferno astral, com o pessimismo interno gerado pelo estado de estagflação da economia. Concomitantemente, observou-se reprecificação de ativos no mundo, por causa da expectativa de menor crescimento chinês. Fevereiro foi um mês de transição para chegarmos a março com um cenário completamente oposto: extremo otimismo, com números mais animadores divulgados pela própria China e pelas economias desenvolvidas, afrouxamento adicional de política monetária no Japão e na Europa (além de um discurso bem mais acomodatício do FED norte-americano) e reviravolta política que acabou tornando o cenário de impeachment da presidente Dilma (e a potencial reversão do quadro econômico) mais palpável.
Já custou muito caro ao gestor ficar contra o chamado “kit-Brasil” no primeiro trimestre de 2016, dada a magnitude do movimento. Pode estar chegando a hora da virada no apetite ao risco e, como tudo no mercado financeiro, o reflexo nos preços tende a ser muito rápido! Quem habita esse mundo de gestão de recursos sabe que o dinheiro é “covarde” (foge ao primeiro sinal de perigo), mas é “sem-vergonha” quando lhe interessa (volta ao primeiro sinal de fumaça de ganhos potenciais, como se nada tivesse acontecido).
Portanto, dada a expressiva saída de recursos de mercados de risco no Brasil nos últimos tempos, há grande potencial de volta de aplicações para ativos brasileiros (somando multimercados e produtos de ações, foram R$ 75 bilhões em resgates nos últimos anos). Isso alimenta a possibilidade de exagero na correção (o chamado overshooting), sem entrar no mérito qualitativo do nível de valuation dos mercados.
Muitos defendem a ideia de que o mercado já embutiu nos preços todo o cenário de impeachment. Do atual ponto, a relação média, até o final de abril, entre o espaço para desvalorização dos ativos (no caso da manutenção da presidente) e o potencial de alta (com a confirmação do impeachment) é de três para um. Por exemplo, para o Ibovespa: estimamos que, antes de maiores definições sobre um governo Temer, o índice poderia subir ainda mais 10% (59 mil pontos); já na hipótese de não admissibilidade do impeachment, a bolsa tenderia a retornar a 40 mil pontos (25% de queda) muito rapidamente.
Se o processo for enviado ao Senado, o mercado ainda irá completar o ajuste altista de preços. Porém, a resposta sobre se o mercado (considerando inalterado o cenário internacional) consolidará a atual direção em um ciclo virtuoso ou passará por uma realização de lucros mais forte adiante dependerá dos cenários projetados para um novo governo.
Cenário-base para o período posterior ao impeachment (75% de chance)
O novo presidente Michel Temer, mesmo contando com uma teórica base parlamentar de dois terços do Legislativo, faz um governo de transição, de forma a evitar que “as coisas continuem piorando” até as eleições presidenciais de 2018. Sem a legitimidade do voto popular e com a insatisfação geral em relação aos políticos, o novo governo não conseguirá emplacar uma agenda de reformas mais profunda. No entanto, as políticas monetária e fiscal retomam aos poucos o mínimo da credibilidade perdida, o que pode incrementar o nível de confiança dos consumidores e empresários e iniciar a recuperação da atividade econômica. Neste caso, o mercado, gradativamente, deve começar a realizar lucros.
Cenário alternativo do período pós-impeachment (25% de chance)
O novo presidente Michel Temer consegue montar um ministério de alto nível e, tentando se aproveitar de uma teórica base parlamentar de dois terços do Legislativo, propõe reformas profundas na área fiscal (previdenciária, trabalhista, tributária, política, entre outras), fundamentais para elevar o crescimento potencial brasileiro no médio e no longo prazo. As políticas monetária e fiscal retomam a credibilidade perdida, acelerando a recuperação econômica.
Com taxas de desconto mais baixas e melhores perspectivas de crescimento, haverá criação de valor, o que eleva a atratividade dos ativos brasileiros em geral e abre espaço para um ciclo virtuoso que contemple uma precificação mais elevada.
*Alexandre Póvoa ([email protected]) é presidente da Canepa Asset Brasil
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