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A vez das butiques
Assessorias financeiras tiram espaço dos bancos de investimento em M&A e IPOs

, A vez das butiques, Capital Aberto

Por trás de uma operação financeira grande, nem sempre há um banco grande. Para comprar a Casas Bahia em dezembro e criar uma rede de varejo colossal, com receita bruta de R$ 18,5 bilhões, o Grupo Pão de Açúcar contou com a ajuda da Estáter. Atuando como um banco de investimento no estilo “butique”, especializada em fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês), a Estáter já havia assessorado a companhia de Abílio Diniz no arremate, seis meses antes, de outro concorrente de peso, o Ponto Frio. Casas como essa estão desempenhando um papel cada vez mais relevante como consultoras de empresas que buscam parceiros para seus negócios — sejam eles sócios estratégicos, fundos de private equity ou investidores pulverizados na BM&FBovespa.

Se na área de coordenação de ofertas públicas de ações — dominada por bancos de poderosos grupos financeiros nacionais e internacionais — a participação das butiques é mais acanhada, quando o que está em jogo são as fusões e as aquisições elas agem com desenvoltura. Uma razão é o fato de o mercado de M&A ser bem mais ativo que o de emissões de ações. São várias as transações que ocorrem entre empresas de capital fechado — graças às perspectivas positivas para a economia brasileira, que atraem novos investidores — e com fundos de private equity. Além disso, as comissões cobradas pelos bancos para a preparação de ofertas públicas costumam ser mais elevadas que aquelas de consolidações, deixando esse segmento livre para o avanço de outros players.

Guilherme Paulino, da Vergent, diz que a presença de profissionais seniores e o envolvimento de pelo menos um dos sócios nas operações assessoradas por sua firma contam a favor. A Vergent atua somente em M&A, com foco em médias (faturamento anual de R$ 200 milhões) e grandes empresas (acima de R$ 1 bilhão). Recentemente, efetuou a venda do controle da Terna Participações para a Cemig, uma transação de R$ 2,3 bilhões. Nesses casos, a competição entre as butiques e os bancos fica latente, uma vez que o trabalho desenvolvido é praticamente o mesmo: envolve a avaliação de ativos, a procura de um comprador ou vendedor e a negociação em si. A maior parte das butiques visa médias empresas, mas também não dispensam companhias maiores. Os bancos, inclusive, se voltam para as menores, nas épocas de vacas magras.


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Há ainda motivos para essas firmas, pequenas só em tamanho, conquistarem seu espaço até nos mandatos de ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, em inglês). Atualmente, a Singular Partners está assessorando duas empresas no processo de IPO e tem nove mandatos na área de fusões e aquisições. A Latin Finance tem cerca de 20 mandatos, dos quais mais da metade são de M&A, mas com companhias interessadas em ir para a Bolsa. A V2Finance tem um de IPO e outros 17 de aquisições. Os nomes das empresas envolvidas não são revelados devido a acordos de confidencialidade.

A maioria dos profissionais das butiques é egressa das engrenagens das instituições financeiras. Em termos de conhecimento técnico, não devem nada aos banqueiros. E, para cutucar os concorrentes, alardeiam um diferencial importante: o maior grau de independência. Um dos conflitos de interesses inerentes às atividades dos bancos tradicionais, que atuam em várias frentes, está ligado à concessão de crédito. Vejamos um exemplo hipotético. Uma instituição poderia conceder um empréstimo para um cliente e, em um momento de crise, apressar seu IPO para capitalizá-la e minimizar o risco de atrasos no pagamento da dívida.

ALIADOS NO IPO — Como não têm autorização legal para fazer a distribuição de títulos e valores, as butiques acabam mais ajudando do que concorrendo com os bancos nesse campo. O trabalho de preparação de empresas para o IPO pode ser complementar ao dos coordenadores de ofertas, já que estes geralmente recebem os mandatos de companhias em estágios avançados, quase prontas para a estreia em bolsa. O negócio do banco de investimento é mais colocar a empresa no mercado do que arrumá-la. Muitas vezes, eles procuram as butiques para que estas trabalhem previamente com a companhia. Quando se encerram as tarefas dessas casas, começam as dos bancos.

De forma geral, o trabalho das butiques se inicia com a análise das alternativas de que a empresa dispõe para captar recursos. O primeiro passo é definir qual a melhor opção: o IPO, o aporte de um fundo de private equity ou mesmo um sócio estratégico, como uma companhia consolidadora. Muitas vezes, os donos são centralizadores e não têm um perfil afeito à prestação de contas, o que inviabiliza a venda de ações para o público.

Caso a empresa tenha perfil adequado para listar seus papéis, a assessoria prossegue com a adequação do plano de negócios — é frequente encontrar empresários que não sabem qual emprego darão aos recursos que captarem —, alterações na estrutura da governança corporativa, aprumo da contabilidade e dos métodos de controles internos, montagem do conselho de administração, definição dos bancos participantes da oferta e participação em “road shows”.

Mesmo com toda a preparação, nem sempre a oferta de ações acontece. Pesam, é claro, as condições do mercado. Na V2Finance, três empresas foram assessoradas, mas as operações não vingaram: a Quero-Quero (loja de materiais de construção do Sul, com faturamento de R$ 600 milhões) estava pronta para o IPO quando a última crise eclodiu. Acabou captando recursos do fundo Advent International. Das duas outras empresas, uma continua atrás do IPO e outra está em busca de um fundo de private equity.


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A Singular Partners assessorou a distribuidora de remédios Profarma e a incorporadora Agra em suas estreias na bolsa, em 2006 e 2007, respectivamente. Outra empresa, a Medley, também contratou a Singular, mas nesse caso a solução encontrada foi a venda para a Sanofi Aventis — uma transação de R$ 1,5 bilhão, ocorrida em abril de 2009. E a Droga Raia, que planejou o debute no pregão, optou por captar recursos de um fundo de private equity. Após a crise vir à tona, muitas empresas interromperam os preparativos para o lançamento de ações, mas outras os mantiveram. Há também quem esteja dando o primeiro passo agora. “Houve uma retomada, mas não na velocidade estrondosa de 2007”, diz Rodrigo Pasin, sócio da V2Finance.

ESPAÇO PARA QUEM? — Como a adequação da estrutura de uma empresa para o lançamento de ações é um trabalho de longo prazo — que pode demorar de três meses a mais de um ano, dependendo do estágio em que a companhia se encontre —, é provável que essa retomada seja sentida ao longo deste ano e de 2011. “É bom lembrar que em 2010 temos eleições, por isso ninguém espera uma revoada para a Bolsa”, ressalta Fernando Líbano, sócio da Latin Finance, que assessorou o lançamento de ações de Tecnisa, EZTec, Trisul, Marisa e Kroton, todas em 2007, e ainda a reforma de governança corporativa da Romi.

Por enquanto, os investidores estão dispostos a se aproximarem de companhias mais maduras. “Não vejo ainda para 2010 a expectativa de IPOs de empresas menores ou de ofertas pequenas”, afirma Michael Montgomery, da Singular Partners. Ele não espera distribuições inferiores a US$ 400 milhões, no caso de IPOs, e a US$ 300 milhões, para ofertas subsequentes, as chamadas follow-ons. Mas essa perspectiva não é uma unanimidade.

A CAinvest, que atende clientes com faturamento de R$ 30 milhões a R$ 250 milhões, tem pelo menos um mandato, assegura o sócio Charles Aboulafia. Sua expectativa é de que a empresa entre em julho deste ano no Bovespa Mais, o mercado de acesso da BM&FBovespa. Hoje, as ações da Nutriplant estão sozinhas nessa divisão, apresentando baixíssima liquidez. Se de fato consumada, a operação da CAinvest poderá incentivar um mercado que até hoje não mostrou a que veio. E ser mais uma prova de que as butiques financeiras garantiram o seu lugar.

Concorrência que vem de fora

À medida que a cotação do Brasil sobe lá fora, mais instituições estrangeiras fincam bases no mercado brasileiro para competir com os bancos de investimento e as butiques financeiras. São exemplos disso o Heritage Capital e a Sodali. Fundado em 2007, o Heritage Capital é um minibanco de investimento suíço, que acaba de inaugurar seu escritório em São Paulo. Sua missão é identificar soluções de financiamento para empresas de médio porte, o que pode incluir transações de fusões e aquisições, atração de recursos de private equity e colocações privadas de títulos de renda fixa no exterior. Em M&A, o Heritage pretende priorizar as áreas de energia renovável, infraestrutura, consumo e instituições financeiras de médio porte.
“Nosso serviço é compatível com o das grandes instituições, mas nossa abordagem é mais de alfaiataria”, afirma Glenn Peebles, responsável no País pelo banco, que tem quatro profissionais. A meta é chegar a dez funcionários cobrindo o Brasil e a América Latina ao longo dos próximos 18 meses. Peebles diz ter vários mandatos em andamento. Ele esperava boa aceitação por parte das empresas porque os bancos internacionais reduziram a sua atuação por aqui, deixando vagas no mercado. Mesmo assim, o executivo está surpreso com a força da demanda local.
Sediada em Roma, na Itália, a Sodali atua mais como uma consultoria de governança corporativa. Para isso, tem à sua frente um nome estrelado no tema: o norte-americano John Wilcox, ex-vice-presidente e ex-chefe de governança corporativa do TIAA-Cref, fundo de pensão dos Estados Unidos. No momento, a Sodali está apenas mapeando o mercado nacional e fazendo contatos, mas planeja abrir um escritório no Brasil.
Wilcox acredita que o ativismo de acionistas é algo crescente no País. Na sua avaliação, as aquisições de companhias listadas em bolsa deverão gerar situações conflituosas do ponto de vista da governança — e oportunidades para a sua consultoria. A estratégia da Sodali é fazer a ponte entre acionistas espalhados em vários países. Atualmente, desenvolve um serviço pré-IPO, destinado a “educar” as companhias sobre a mudança nos negócios após a abertura de capital, e atende às demandas decorrentes disso, como a realização da primeira assembleia anual. (L.D.C.)

 


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