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A história se repete
Como a síndrome do “desta vez é diferente” cria e nutre as raízes das crises econômicas há oito séculos

, A história se repete, Capital AbertoAo longo da história, países pobres e ricos têm financiado, tomado empréstimos, entrado em dificuldades e se recuperado de vários tipos de crises financeiras. A cada vez que isso acontece é comum encontrar uma legião de “experts” declarando que “desta vez é diferente”, e que as velhas regras de avaliação de ativos não se aplicam mais, pois estamos “diante de um novo paradigma”. This time is different se propõe a desmistificar essa proposição ao avaliar uma extensa amostra de dados de 66 países dos cinco continentes, cobrindo até oito séculos de história financeira.

No melhor estilo das pesquisas econômicas publicadas pelos principais “think tanks” mundiais, os autores (ela, professora da Universidade de Maryland; ele, de Harvard) atacam os dados com empirismo voraz, buscando padrões e recorrências ao redor das principais crises financeiras mundiais. A taxonomia de crises estudadas inclui reestruturações de dívidas governamentais (interna e externa), corridas aos bancos e inflação acelerada, desde a prática do “debasement” — o costume da época medieval de cobrir déficits raspando moedas e produzindo novas — até a recente crise do subprime. A vastidão da amostra utilizada amplia a visão estreita que temos sobre a probabilidade de ocorrência das crises, provavelmente devido ao nosso viés de dar mais peso à história recente, que sugere que crises são raras.

Devido à sua proposta, não estranha que a obra motive principalmente economistas e outros interessados com forte inclinação acadêmica. Conforme declarado pelos autores, a narração é feita através de números, organizados em diversos gráficos e tabelas para transmitir uma mensagem estruturada. A despeito desse público-alvo, há passagens interessantes para o leitor que busca um quadro de referência mais amplo sobre as crises que sempre assolaram a humanidade.

Um exemplo é a história do tirano Dionísio de Siracusa (Grécia, século IV a.C), que os autores contam ao apontar a inflação como método de expropriação por monarcas e imperadores.

Tendo se endividado através de notas promissórias, Dionísio decreta que toda a moeda em circulação deve ser devolvida ao governo, com a recusa sendo passível de morte. Em seguida, ele estampou as moedas de um dracma com o valor de dois dracmas, devolveu o dinheiro ao povo e usou o saldo para quitar suas dívidas. Na referência à espiral inflacionária da América Latina nas décadas de 70 e 80, há a sugestão espirituosa de que a região não teria sofrido de tanta instabilidade financeira se as máquinas de impressão jamais tivessem cruzado o Atlântico.

Na conclusão, os autores fazem alguns comentários sobre aspectos práticos de como lidar com situações de crise. Em primeiro lugar, apesar de toda a investigação e do rigor empírico da investigação, não é possível estabelecer qualquer tipo de “sistema de alerta” contra a eclosão de crises. Uma eventual alternativa seria criar um sistema de monitoramento de uma série de indicadores-chave, que poderia ficar a cargo das instituições multilaterais de financiamento como o Fundo Monetário Internacional. Em um momento de reforma do sistema financeiro mundial e de ampliação da regulação para prevenir riscos como o atual, a coordenação e a harmonização de regras entre os países também deveriam ser lideradas por essas instituições, a fim de assegurar a legitimidade desse processo e sua adoção ampla. Afinal, devemos reconhecer que a natureza humana leva investidores e governos a se iludirem em períodos de euforia, que, invariavelmente, terminam em lágrimas.


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