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Os estrangeiros estão de volta. Mas até quando?
Questões fiscais e possibilidade de nova onda de covid-19 no Brasil preocupam esses investidores
investimentos estrangeiros no brasil

Para atrair investidores estrangeiros, a agenda de reformas e privatizações vai ser ainda mais decisiva para o Brasil em 2021 | Imagem: freepik

Numa virada de última hora, os investidores estrangeiros estão retornando ao mercado local, depois de terem passado o ano todo ressabiados com o Brasil. Em novembro, a B3 registrou a maior entrada líquida de capital estrangeiro no mercado em 25 anos, de 33,3 bilhões de reais. A notícia é boa, mas a retenção desses recursos vai custar muito — depende, como sempre, de o País fazer algumas lições de casa.

Em tempos de pandemia, já ficou claro que sai na frente em termos econômicos quem administra melhor a crise sanitária, e isso se reflete na seleção de ativos dos investidores globais. Esse foi o caso dos países do leste da Ásia, como Coreia do Sul, China e Taiwan, mais familiarizados com respostas rápidas e eficientes a emergências dessa natureza. Os mercados asiáticos também foram beneficiados pelo fato de sediarem a produção de componentes para a indústria de tecnologia, um dos setores cujos ativos tiveram desempenho mais positivo nos últimos meses. O Brasil, no entanto, não atende nem uma nem outra exigência do capital internacional.

Não por acaso, a evasão de recursos de estrangeiros no Brasil começou antes da pandemia, como observa Eduardo Figueiredo, CIO da Aberdeen Standard. “Independentemente de questões macroeconômicas, nos últimos 18 meses já havia uma disputa de capital muito importante nos mercados globais e o Brasil saiu perdendo. Há dez anos, a representatividade brasileira no índice MSCI Emerging Markets [referência para ativos de mercados emergentes] era de 20% e hoje esse percentual não passa de 5%”, destaca.

Esse contexto sugere cautela na avaliação do retorno dos estrangeiros verificado em novembro, ressalta Bruno Lima, especialista em renda variável da Exame Research. Ele atribui a retomada do fluxo estrangeiro a um excesso de liquidez no mundo e não à existência de otimismo com o Brasil. “Esse excesso de liquidez aumenta o apetite por risco e, consequentemente, a exposição dos investidores aos mercados emergentes. Nessa dinâmica, naturalmente uma parte do fluxo vem para o Brasil — ou seja, por inércia”, avalia. Ele observa que a eleição de Joe Biden nos Estados Unidos e a boa perspectiva em torno das vacinas reduziu boa parte das incertezas globais. “Mas, no Brasil, ainda restam as questões fiscais”, acrescenta.

Agenda de reformas e privatizações

Para a gestora holandesa Robeco, as questões internas do Brasil são, de fato, mais determinantes para o investidor estrangeiro com visão de longo prazo — principalmente no que se refere às promessas de reformas e privatizações. Em 2019, a aprovação da reforma da previdência foi muito bem recebida pelo mercado e abriu espaço para o Brasil ter juros anuais de 2%, mas não foi suficiente. “É preciso concretizar as reformas administrativa e tributária, além de melhorar a qualidade dos gastos públicos”, afirma Daniela Bulthuis, portfolio manager da Robeco. “Desde 2013 o investidor estrangeiro está acostumado com a turbulência política brasileira. O problema ocorre quando, diante das turbulências, o governo deixa de executar — e é isso que está começando a acontecer”, sublinha.

Ao que tudo indica, a agenda de reformas e privatizações vai ser ainda mais decisiva em 2021, algo que fica evidente com os indicadores fiscais desfavoráveis. Segundo o Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas, divulgado em 20 de novembro pelo Ministério da Economia, o Brasil fechará 2020 com déficit primário de 844,574 bilhões reais, volume equivalente a 11,7% do Produto Interno Bruto (PIB). O crescimento da dívida bruta do País também preocupa — deve chegar a 96% do PIB neste ano.

Setores promissores

Ainda em termos macro, os estrangeiros estão acompanhando o desenrolar do relacionamento brasileiro com a China (e num contexto sem Donald Trump). Esse ponto é fundamental, já que os chineses têm influência ímpar no comércio global e na compra de commodities — um dos setores que, na bolsa local, merecem a atenção dos investidores.


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Mas há outros segmentos (e companhias) no Brasil para os quais estão voltados os radares dos investidores globais. Figueiredo, da Aberdeen Standard, cita os casos das empresas tradicionais que se digitalizaram e transformaram seus modelos de negócios sob impulso dos obstáculos impostos pela pandemia. Já Bulthuis, da Robeco, menciona o setor de utilities, muitas vezes esquecido. “Se olharmos para o longo prazo, com menor foco nos movimentos cíclicos, o Brasil tem um grande potencial para produção de energia limpa e renovável, segmentos que podem ser envolvidos em futuras privatizações e concessões. Além disso, é um setor interessante por ter baixo risco e natureza apolítica, com companhias que são boas pagadoras de dividendos”, enumera Bulthuis.

Os especialistas também ressaltam a importância de o Brasil se empenhar mais para acompanhar a União Europeia e os Estados Unidos na incorporação dos aspectos ESG (ambientais, sociais e de governança) aos ativos, tendência que deve acelerar ainda mais com a posse de Biden.

Segunda onda de covid-19

No curto prazo, os maiores riscos são a consolidação de uma segunda onda de covid-19 e a possibilidade de lockdown no Brasil — a exemplo do que aconteceu na Europa. Eventual paralisação de atividades prejudicaria a expectativa de retomada econômica, algo que o investidor estrangeiro ainda olha no curto prazo.

“Pensando que em dois anos haverá novas eleições presidenciais e a possibilidade de aumento do risco político até lá, o melhor a se fazer é compartimentar o portfólio e priorizar temas desconectados de vieses políticos”, opina Bulthuis.


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