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Mais do que ESG, momento é de reinvenção do capitalismo
Investidores e empresas cada vez mais se engajam nessa nova narrativa
Redefinindo o capitalismo

Os pontos fundamentais para uma “empresa B” são ter o propósito de gerar impacto positivo por meio de sua atividade econômica | Imagem: freepik

O movimento chegou a tal ponto entre os investidores, no exterior e também no Brasil, que já não se questiona a pertinência da atenção dispensada aos fatores ESG (ambientais, sociais e de governança). O atípico ano de 2020, além de ser marcado pela emergência da pandemia, representa uma coordenada importante num mapa histórico de transformação econômica mundial: mais do que simplesmente seguir uma cartilha genérica de sustentabilidade, parece estar a cada dia mais claro para empresas e investidores que a essência da questão está na reinvenção do capitalismo. Não por acaso surgem iniciativas como o Imperative 21, capitaneada pelo Sistema B, que oferece instrumentos para as empresas operarem nesses novos tempos.

“Estamos num momento de revisão do core dos problemas do capitalismo anterior, e esse movimento é muito mais amplo do que apenas abordar os princípios ESG”, enfatiza Luciana Antonini Ribeiro, sócia fundadora da EB Capital.

Atende por “capitalismo anterior” a ideia central de que a função primordial das empresas é gerar lucros para seus acionistas, contida num agora cinquentenário artigo do economista Milton Friedman. A transgressão desse conceito, para a criação de um sistema em que todos os públicos de interesse sejam contemplados pelas atividades empresariais, é o que está acontecendo agora.

Mas é resultado, como explica Ribeiro, de uma sucessão de fases. “Entre os anos 1950 e 1980 a ideia mais forte era de produção industrial de valor para a propriedade de bens, uma dinâmica mais local. Depois vieram a força da experiência, de caráter global, e a partir de 2005 a era do conhecimento, da atualização”, explica. Desde 2015, nessa linha do tempo, toma a vez a economia da transformação, que envolve as noções de sentido e propósito. Assim, a estruturação do já batizado “capitalismo de stakeholders” é anterior à eclosão da pandemia, embora tenha sido impulsionado por ela.

“Qual o rastro do investimento?”

O caminho até aqui, entretanto, não foi fácil, como atesta Fernanda Camargo, sócia fundadora da Wright Capital. “Há algum tempo, parecíamos um pouco extraterrestres ao falar desses conceitos no ambiente de investimentos. Uns cinco, seis anos atrás não se fazia a pergunta ‘qual o rastro do meu investimento?’, questão que agora é quase obrigatória”, relata.


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Segundo Camargo, uma das dificuldades no início desse caminho foi encontrar ativos. “Em 2017, não havia muito onde investir e percebemos que o impulso poderia vir dos próprios investidores, começando com os de maior peso, como os fundos de pensão”, afirma, acrescentando que em 2020 a ficha definitivamente caiu. A pandemia, afinal, escancarou as desigualdades e os numerosos problemas causados pelo sistema anterior, além de ter mostrado para as pessoas que patrimônio não é só dinheiro. “Basta ver a quantidade de fundos ESG, ‘verdes’, ‘de sustentabilidade’ que foram criados recentemente.” Nesse cenário, cabe aos investidores verificar quais deles de fato estão comprometidos com as premissas do capitalismo de stakeholders.

Diretrizes para novos tempos

O Sistema B está na linha de frente do fomento a essa nova ideia, oferecendo diretrizes e certificações para empresas interessadas em fazer parte desse novo capitalismo. “É necessário atualizar o papel das empresas, que já não podem se limitar a pagar impostos, gerar empregos e não produzir danos. Isso agora é apenas o básico”, destaca Francine Lemos, diretora-executiva do Sistema B.

Os pontos fundamentais para uma “empresa B” são ter o propósito de gerar impacto positivo por meio de sua atividade econômica, assumir a responsabilidade associada a esse impacto e ser transparente nos relatos de sua operação. “O momento é de mudança de narrativa, e a intenção do Sistema B é oferecer ferramentas que ajudem as empresas a se alinharem a esse processo”, afirma Lemos.

Falta atenção ao “S”

Do tripé ESG muito se fala do “E”, de environmental, o aspecto mais tangível dos três. Mas igualmente relevante é o “S”, de natureza bem mais sutil. E nesse ponto ainda há muito o que caminhar. Ribeiro lembra que o Brasil está particularmente mal em três Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODSs) da ONU — todos relacionados a questões sociais. “O País está no vermelho nas ODSs 8, que trata de trabalho digno e crescimento econômico, 10, que aborda desigualdades sociais, e 16, relativo a paz, justiça e instituições eficazes”, diz, destacando que o diagnóstico fez parte de um trabalho da ABVCap no sentido de mobilizar o capital privado para o Brasil cumprir os ODS até 2030.

Motivação dos líderes

De acordo com Lemos, para que essas ideias sejam plenamente incorporadas, numa verdadeira mudança de cultura, é essencial que os líderes empresariais sejam motivados a levar adiante a transformação. “E isso passa por um processo educacional. Sabemos que só agora as escolas de negócios, por exemplo, passaram a oferecer de maneira mais estruturada conteúdos sobre os temas do novo capitalismo. Levar essas informações para dentro das empresas é, inclusive, um dos objetivos do Imperative 21”, sublinha a executiva do Sistema B.

Lembrando que estamos em pleno processo de mudança, Camargo observa que é possível tirar uma mensagem de otimismo do atual cenário. “O processo leva tempo, ainda mais por ser uma mudança sistêmica. Mas é preciso que todos deixem de olhar sempre apenas para o próprio umbigo”, destaca. Nesse novo capitalismo, faz muito sentido uma ideia preconizada no início do século 20 pelo austríaco Rudolf Steiner, criador da Antroposofia, e mencionada por Camargo: o lema da Revolução Francesa deveria ter a ordem invertida. Afinal, como podem garantir liberdade e igualdade a sociedades que não são, antes de tudo, fraternas? Uma boa questão para se pensar.


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