A reportagem de capa desta edição é uma daquelas situações no jornalismo em que seria melhor a matéria não existir. Ao longo de um mês, a repórter Yuki Yokoi debruçou-se sobre a denúncia do Ministério Público e conversou com fontes diversas para, ao final, extrair um relato detalhado — e entristecedor — de como os donos do liquidado Cruzeiro do Sul conseguiram arquitetar uma fraude de centenas de milhões de reais usando algumas das principais vias do mercado de capitais.
Não seria o mercado, em princípio, a pior escolha para quem quer armar um trambique? A vigília da CVM, os controles dos auditores, o monitoramento dos analistas e investidores, as obrigações de divulgação de informação, o assédio da imprensa — tudo isso não conspira para atrair quem se dispõe a andar nos trilhos e para repudiar os mal intencionados? Pois bem, o caso do banco dos Indio da Costa mostrou que essa lógica pode ser, sim, corrompida. Em mãos erradas, e sem a supervisão devida, os instrumentos do mercado de capitais podem se transformar em potentes máquinas de fazer dinheiro usando como insumo o desconhecimento — ou, simplesmente, a ambição — de terceiros.
Também nesta edição, a repórter Mariana Segalla resume os fracassos das empresas X, capitalizadas em fase pré-operacional por meio de IPOs badalados e robustos. As ilusões vendidas na oferta pública foram desfeitas uma a uma, conforme o tempo passou e a realidade ofuscou a purpurina dos prospectos. Nada parecido com as trapaças dos donos do Cruzeiro do Sul, mas também uma produção bem-sucedida de dinheiro. De muito dinheiro.
Ainda bem que, de alguma forma, os ajustes acontecem. Graças a uma eficiência mágica que norteia as relações de compra e venda, os preços se convertem à realidade dos ativos em algum momento. É bom que as coisas continuem assim porque, mais do que nunca, emissores e investidores precisam do mercado de capitais. Projetos de longo prazo carecem de veículos sofisticados para serem financiados — e o governo aparentemente está de acordo com isso, como revela a reportagem sobre os FIDCs de infraestrutura na página 16. Ao mesmo tempo, investidores assuntam oportunidades com maior risco e retorno para se adaptar à histórica taxa real de juros de 2%. Nesse momento, a percepção de que o mercado de capitais estaria associado a componentes alucinógenos não seria boa para ninguém.
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