Parece até rebeldia de adolescente, que quer a todo o custo exibir um jeito próprio — e melhor — de fazer as coisas. Mas no caso delas não foi bem isso. Com a cara, a coragem e uma lista de razões que julgavam convincentes, descartaram a máxima de que o mercado só toleraria empresas que tivessem apenas ações ordinárias e levassem o selo máximo de governança da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Listaram suas ações no Nível 2, o segmento logo abaixo do Novo Mercado, por pura opção. Não tinham qualquer restrição regulatória que as impedisse de ter um capital formado apenas por ações com voto.

Esse tipo de decisão surge de um impasse. Dependendo do tamanho da companhia, pode ser preciso emitir uma parcela significativa do capital para obter os recursos esperados quando se possui apenas ações ordinárias. Com as preferenciais, tem-se o efeito que o mercado financeiro gosta de chamar de “alavancagem”. Sem mexer na base de controle, levanta-se uma base nova de capital a partir da emissão de ações que não concedem direitos de voto.

No caso do Nível 2, é bom lembrar, há uma diferença importante em relação ao que se praticou durante décadas no mercado de ações brasileiro. As preferenciais não são totalmente desprovidas de benefícios políticos. Ganham direito a voto em situações críticas na vida da companhia e no bolso de seus acionistas, como uma aquisição, fusão ou incorporação. Também no Nível 2, os preferencialistas não passam totalmente à margem do prêmio de controle em caso de venda da companhia. Ganham o direito de vender suas ações e receber 80% do valor pago ao controlador. Camaradas, UOL e Terna garantiram 100% aos seus minoritários.

Acrescentamos neste capítulo o caso da Nutriplant, que também escolheu um caminho diferente do Novo Mercado. Neste caso, a motivação não estava relacionada ao tipo de ação emitida, até porque a Nutriplant fez uma emissão só de ordinárias. Aqui a idéia era listar-se num segmento mais adequado ao seu tamanho, o Bovespa Mais, e estreá-lo.