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O fim de uma era
Obra retrata a supremacia e o declínio do setor financeiro norte–americano

Dezenas de livros foram escritos a respeito da chamada crise do subprime e seus efeitos sobre a economia norte–americana e a mundial. Após abordar vários deles nesta coluna, arriscaria dizer que o livro do jornalista Roger Lowenstein, autor consagrado e importante colaborador do Wall Street Journal, traz a narrativa definitiva sobre os eventos que formaram o redemoinho financeiro e suas consequências.

, O fim de uma era, Capital AbertoA história de The End of Wall Street se inicia nos bastidores do governo norte–americano e na chegada de Alan Greenspan ao Federal Reserve (Fed). Fervoroso defensor do liberalismo econômico, em seus quase 20 anos à frente do Banco Central dos Estados Unidos, Greenspan minimizou o papel regulatório das agências de supervisão responsáveis pelo mercado financeiro. A cruzada pela desregulamentação alcançou desde a permissão para bancos comerciais atuarem como bancos de investimento (revisão do Glass Steagal Act de 1933) até a recusa a legislar e regular o segmento de derivativos negociados em mercado de balcão.

Nesse ambiente de baixa supervisão, o setor bancário foi impelido a operar sob a lógica do livre mercado. A competição entre as instituições financeiras cresceu ferozmente, alimentada pelo sistema de bônus milionários que existe apenas nesse ofício. No entanto, deve–se lembrar que o negócio dos bancos não é igual ao varejo. Neste último, o resultado acontece no momento em que a venda é executada, enquanto que a colheita para um banco só ocorre anos depois, quando o empréstimo é quitado. Essa assimetria no reconhecimento dos resultados levou empresas originadoras de hipotecas, como a Washington Mutual, a conceder empréstimos sem qualquer atenção ao risco de crédito, uma vez que os recebíveis seriam empacotados por Wall Street para serem revendidos a investidores. Enquanto a música dos juros baixos era tocada pelo Fed, todos os bancos dançavam a valsa dos lucros e bônus astronômicos.

Não surpreende que as primeiras rachaduras na bolha tenham aparecido logo nos originadores de hipotecas, a área menos regulamentada. A partir daí, Lowenstein entra na cronologia do declínio do sistema financeiro — as sucessivas derrocadas de Bear Sterns, Lehman Brothers, Merrill Lynch, AIG, entre outras — e no pano de fundo político da operação de salvamento orquestrada por Ben Bernanke (sucessor de Greenspan no Fed) e Hank Paulson, secretário do Tesouro norte–americano.

Antes dos anos 1990, a lucratividade consolidada do setor financeiro representava, em média, 1,2% do PIB norte–americano. Na década seguinte, esses lucros inflaram rapidamente, atingindo 3,3% do PIB em 2005. No melhor estilo “engenheiro de obra feita”, hoje poderíamos dizer que tal desempenho parecia insustentável. O título do livro sintetiza bem essa ideia de que a exuberância da indústria financeira, conforme a testemunhamos até 2005, acabou. Livre para agir seguindo seus próprios instintos, Wall Street percorreu um caminho que lembra o de um adolescente em sua busca frenética pela adrenalina. Na ausência de limites, o lado sombrio da natureza humana nos empurra à beira do abismo.

Esse é apenas mais um exemplo de que os mercados, apesar de serem o mecanismo mais eficiente na formação de preços para a alocação de recursos escassos da sociedade, estão sujeitos a imperfeições que podem trazer graves consequências. Na dose certa, a regulação e a supervisão existem para salvar o capitalismo de si mesmo, sem asfixiá–lo.


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