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Melhor que a encomenda
A despeito das trovoadas provocadas pelo subprime, 2007 supera as expectativas, acumula recordes e abre um caminho promissor para a chegada do investment grade

Quem soltou rojões com o bom desempenho do mercado de capitais brasileiro em 2006 vai poder reforçar o festejo este ano. Os números de 2007 superaram, e muito, não apenas os do ano passado, mas também as previsões mais otimistas. A começar pelas ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês). No fim de 2006, grande parte dos especialistas vislumbrava algo em torno de 30 IPOs para este ano. Até o fechamento desta edição, eram 62, mais que o dobro dos 26 registrados no ano passado. No total, entre IPOs e outras ofertas de ações, o volume registrado na Bovespa ultrapassava os R$ 60 bilhões, ante R$ 30,4 bilhões no ano passado.

E o que fez os fatos saírem tão melhor que as expectativas? Liquidez internacional, setor produtivo funcionando a todo vapor, inflação controlada, juros em queda e expansão do crédito eram, segundo os analistas no fim de 2006, as condições-chave que ditariam o compasso das estréias em bolsa este ano. Felizmente, o Brasil não só entregou seu dever de casa, como fez uma hora extra em vários aspectos. “Esperava-se que o País cresceria menos, mas o que se viu foi uma boa taxa de expansão e um excelente nível de liquidez internacional, que estimularam a entrada de investimentos estrangeiros e a abertura de capital de várias empresas”, diz Luiz Fernando Resende, vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). Para ele, se a liquidez internacional se mantiver elevada no ano que vem, a tendência é de novos recordes.

Mas, como nem sempre quantidade significa qualidade, várias empresas parecem ter ido com muita sede ao pote, na ânsia de poder usufruir as benesses do mercado de ações. O fato é que muitas novatas vêm amargando fracos desempenhos, que encontram explicações tanto na aversão ao risco, provocada pela crise no mercado imobiliário americano, quanto em problemas mais específicos, como um modelo de gestão (ou mesmo um desempenho) diferente do esperado. “Depois do choque causado pelo subprime, o investidor ficou bem mais seletivo, e o próprio mercado vem se auto-regulando nessa questão”, explica Alberto Kiraly, diretor executivo de mercado de capitais do Banco Espírito Santo (BES). Ainda assim, ele acredita que o ritmo de entrada de novas empresas na bolsa em 2008 deve se manter.

, Melhor que a encomenda, Capital Aberto

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Já para Fábio Anderaus de Araújo, estrategista de renda variável para pessoas físicas da Itaú Corretora, os IPOs devem se desacelerar no primeiro trimestre de 2008 — dando seqüência à queda iniciada em novembro, em razão da seletividade rigorosa dos investidores que amargam a ressaca do subprime —, mas iniciar uma nova arrancada nos meses seguintes. Ele acredita que o Brasil poderá receber o tão cobiçado investment grade, selo de qualidade que comprova a confiabilidade do País para receber investimentos. Se isso acontecer, o capital estrangeiro desembarcará no Brasil com apetite reforçado e estimulará ainda mais o pipocar de IPOs.

O ano que termina foi marcante para os IPOs, não apenas pelos recordes, mas também em razão dos ativos que vieram a mercado. Um dos destaques foi a Bovespa Holding, primeira bolsa da América Latina a abrir seu capital. Ela protagonizou a maior valorização de ações em uma estréia — os papéis subiram 52,13%, fechando o primeiro dia cotados a R$ 34,99. Em seu primeiro balanço depois da oferta inicial feita em outubro, a Bolsa registrou um lucro líquido consolidado de R$ 154,4 milhões. “Destaque também para os IPOs da Redecard e de alguns bancos pequenos, pela abrangência e pelo grande volume de negócios”, afirma Araújo.

Ainda falando em recordes, o pregão também teve seu mérito. Desde o fim de setembro, o Ibovespa mantém-se perto dos 60 mil pontos — em outubro, atingiu seu maior patamar, com 65.317 pontos. As recentes quedas puxaram o índice para baixo dessa média histórica, mas não o suficiente para afetar a previsão de 50 mil pontos feita por alguns especialistas. Até outubro, o Ibovespa médio foi de 51.306 pontos, contra os 38.007 de todo o ano de 2006. Esses níveis excepcionais da Bolsa de São Paulo encontram, mais uma vez, explicação no bom desempenho da economia brasileira. “A queda substancial na taxa de juros permitiu o ingresso massificado do investidor pessoa física na bolsa, que vem migrando da renda fixa para a variável”, explica Araújo. Em outubro, havia 310.625 contas de investidores pessoa física, segundo a Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC), ante 219.634 em dezembro do ano passado.

AMBIENTE PROPÍCIO — Em meio ao estimulante desempenho da Bovespa, certos setores justificaram a aposta feita no começo do ano de que iriam se destacar. Um deles é o de mineração e siderurgia, que encontrou no acelerado crescimento dos países emergentes ambiente ideal para fazer bons negócios. A assinatura de contratos de fornecimento de minério de ferro de longo prazo com siderúrgicas chinesas, a alta demanda do níquel no mercado internacional e a aquisição da canadense Inco fizeram dos papéis da Vale uma barbada em 2007. De julho a setembro, a empresa teve lucro de R$ 4,7 bilhões, 17,5% acima do mesmo período de 2006. Cotada a R$ 47,9 (em 27 de novembro), a ação registrou valorização de 80,1% neste ano.

Um setor que se saiu melhor que a encomenda foi o de bens de capital. “O segmento foi favorecido pelo dólar baixo — que possibilita a importação de material a preços mais baratos — e pelos juros em queda”, afirma Araújo, da Itaú Corretora. A Weg, empresa de motores elétricos, vem observando sucessivos aumentos em seus gráficos de vendas trimestrais, a despeito do efeito adverso da queda do dólar sobre as exportações. Resultado: suas ações se valorizaram 82,5% este ano.

O aquecimento também se estende a setores ligados ao consumo, que, segundo alguns analistas são altamente promissores para o ano que vem. “Em 2008, o brasileiro deverá manter, ou até elevar, seu nível de compras, fazendo das empresas de alimentos, varejo, vendas on-line e turismo as mais atraentes”, avalia Kiraly, do BES.

Se houve setores que ficaram devendo, um deles foi o de agronegócio, puxado pelos resultados ruins da indústria sucroalcooleira. Os números não corresponderam a toda a expectativa criada em torno do boom do etanol, cantado em prosa e verso como o combustível do futuro pelo governo brasileiro. A queda do preço do açúcar no mercado internacional e a desvalorização do dólar em relação à moeda brasileira refrearam o ânimo dos investidores no setor. Desde o início de 2006, foram anunciados mais de 200 projetos para o segmento, tanto por parte de empresas nacionais como de estrangeiras, totalizando cerca de US$ 35 bilhões até 2012. Mas até agora pouco mais da metade (US$ 17 bilhões) deles está sendo efetivamente aplicada, e a construção de diversas usinas foi postergada, à espera de um momento mais favorável. “Muita gente ficou eufórica no início da onda do etanol, mas não previu uma série de problemas, como a questão da logística e dos preços cíclicos”, explica Araújo.

Em 2008, o brasileiro deverá manter o nível de consumo elevado, o que favorece segmentos como os de varejo, vendas on-line e turismo

Outro setor que prometia mais do que entregou foi o de aviação. A lógica otimista parecia simples: com o aumento do consumo, o brasileiro viajaria mais de avião, e as companhias aéreas teriam ótimas condições para crescer. Mas o imponderável caos aéreo, que culminou com a tragédia do vôo JJ 3054 da TAM, tratou de afundar os prognósticos positivos. Além disso, a disparada nas cotações do petróleo contribuiu para arranhar o balanço das empresas — os gastos com querosene de aviação respondem por cerca de 40% dos custos das companhias aéreas.

Entre os setores que ficaram devendo, está o de agronegócio. Os números não corresponderam à expectativa em torno do etanol

BLINDAGEM — Outro ponto a ser comemorado pelo mercado brasileiro, segundo os analistas, é a robustez demonstrada diante de abalos externos. A crise dos créditos imobiliários de alto risco dos Estados Unidos (subprime), deflagrada em agosto, acendeu a luz de alerta das principais bolsas do planeta, e no Brasil não foi diferente. Contudo, entre uma queda e outra no Ibovespa, em vez do pavor geral que costumava se instalar no mercado brasileiro a cada abalo internacional, viu-se uma reação madura, fundamentada em uma economia muito mais sólida e estável do que a encontrada nas crises dos anos 90.

Nem mesmo as empresas que pretendiam abrir o capital se intimidaram. No fim de setembro, dos 25 pedidos de ofertas de ações em análise na CVM, 22 haviam sido registrados em agosto e setembro, o per íodo mais turbulento do subprime. Resende, da Anbid, no entanto, adverte: “Temos de ter em mente que não somos totalmente imunes. Devemos estar atentos à verdadeira extensão do problema. Acredito que, em 2008, teremos um mercado mais seletivo, impactado pelos créditos de alto risco norte-americanos”.

Confiantes na eficaz atuação do banco central americano (Federal Reserve), que injetou centenas de bilhões de dólares desde agosto para aumentar a liquidez do mercado, alguns defendem que o pior do subprime já passou. “A economia brasileira vem se mostrando forte, com uma dinâmica própria e, se as condições básicas se mantiverem, o País não deverá ter grandes sobressaltos com o subprime em 2008”, prevê Kiraly, do BES. Ele também lembra do confortável acúmulo de reservas cambiais brasileiras, que ultrapassam os US$ 160 bilhões e podem ser usadas em momentos de aperto. Mesmo entre os otimistas, porém, a hesitação é evidente. “A maior preocupação é com o investidor estrangeiro, que tem participação no mercado de capitais brasileiro e, em momento de crise, pode debandar e diminuir a liquidez”, lembra.

Uma opinião de consenso é a de que o bom momento deve ser aproveitado. O Brasil aprendeu que, para usufruir o mercado de capitais, precisa dar como contrapartida responsabilidade e transparência. “Os aspectos de governança corporativa evoluíram sensivelmente nos últimos anos, de forma que hoje é quase impossível uma empresa nova surgir sem que esteja preocupada com as melhores práticas. Esse é um aspecto importantíssimo na evolução do mercado de capitais brasileiro”, avalia Resende, da Anbid. A um passo do investment grade, o Brasil tem tudo para mostrar um mercado de capitais ainda mais vibrante em 2008. É só não descuidar. A freada do apetite dos investidores em novembro mostrou que, apesar de potencialmente farta, a liquidez internacional está titubeante.


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