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Tecnologia limpa e promissora
Oportunidades de investimento no setor são reduzidas, mas já começam a marcar presença em bolsa de valores e fundos de private equity brasileiros

 

ed42_p036-040_pag_3_img_001A essa altura, todos os leitores conhecem a importância das fontes de combustíveis alternativos .como meio de reduzir o aquecimento global. Mas deixe alguém associar essa conversa a um discurso de ambientalistas chatos, e ele irá receber duras críticas do mercado financeiro. Os investidores sabem que cada quilo de poluente que deixa de chegar à atmosfera não representa apenas um ganho para a saúde do planeta. Iniciativas com esse fim hoje são vistas como fonte de lucros — aliás, gordos lucros — num negócio que, internacionalmente, é conhecido como “cleantech”.

Esse conceito abrange todos os produtos, serviços e processos criados exclusivamente para oferecer uma performance superior a custos menores, reduzindo ou eliminando impactos ambientais. Dito assim, parece que, sob o ponto de vista de uma companhia, trata-se de uma questão relevante somente em termos de sustentabilidade. Mas, no mundo dos negócios, as cifras revelam o espaço que o meio ambiente vem ocupando no mercado. Estima-se que o investimento global em cleantech chegou a US$ 63 bilhões no ano passado, contra US$ 49 bilhões em 2005, e apenas US$ 30 bilhões em 2004. Só os fundos de venture capital e private equity em todo o mundo abocanharam, em 2006, US$ 2 bilhões, segundo dados da Venture Business Research.

Entre os projetos mais cobiçados no mercado de capitais estão os que envolvem energia solar e eólica, além dos combustíveis renováveis como o etanol e o biodiesel. Analistas ouvidos pela revista The Economist, na edição de novembro, prevêem que esse segmento crescerá entre 20% e 30% ao ano na próxima década. E se alguém suspeita que, por trás de tanto oba-oba, pode estar escondida mais uma grande bolha de investimento, é porque não ouviu o recente discurso do presidente George W. Bush, no dia 23 de janeiro. Ele disse que os Estados Unidos precisam reduzir sua dependência em relação ao petróleo e, para isso, estipulou uma meta de redução do consumo de gasolina de 20% nos próximos dez anos. Como? Através do etanol, que seria responsável por 75% da compensação dessa redução.

ENQUANTO ISSO, NO BRASIL… — Se os parágrafos acima causaram cócegas nas mãos e você já está considerando seriamente a possibilidade de incluir alguns ativos ecológicos em sua carteira de investimentos, chegou a hora da notícia ruim. Ainda há poucas opções de investimentos em tecnologia limpa no mercado de capitais brasileiro. A Capital Aberto apurou como anda o interesse, por exemplo, dos fundos de private equity e venture capital neste segmento. Rio Bravo, GP Investimentos, Jardim Botânico Partners e Stratus são algumas das raras instituições que mantêm carteiras cujos recursos são exclusivamente voltados a empresas de tecnologia limpa. Na Bovespa, isso se repete; são apenas quatro companhias num universo de mais de trezentas listadas — Brasil Ecodiesel, Petrobras, Cosan e, agora, a usina São Martinho. São consideradas representantes do setor de cleantech por estarem envolvidas com a produção de etanol e biodiesel, ainda que, em alguns casos, esses dois produtos não sejam o foco principal da empresa.

Mas tomara que essas informações não desanimem o investidor brasileiro. Afinal, é preciso considerar que o País evolui rapidamente nessa direção. Até meados de 2005, ninguém ouvia falar de companhia voltada apenas para a tecnologia limpa na Bovespa. E, mesmo entre os fundos, a idéia de apostar em empresas com esse foco começou apenas em 2004. Se, por ora, estamos atrasados em relação ao resto do mundo, o Brasil possui algumas vantagens que podem compensar.

Dada a biodiversidade e a extensão do nosso solo, somos donos de uma das maiores fontes de energia limpa no mundo. Na produção de etanol, até o ano passado, éramos líderes de mercado com uma produção de quase 17 bilhões de litros por ano, contra cerca de 19 bilhões vindos dos Estados Unidos. No setor de biodiesel (combustível produzido a partir do óleo vegetal), as condições climáticas do País também são ótimas para a produção de mamona, algodão, soja, palma, pinhão manso e outras tantas oleaginosas, o que nos coloca à frente nessa corrida mundial.

“O Brasil planta combustível”, define Philipp Lisbona, diretor do Fundo Stratus VC-III. Foi vislumbrando um cenário promissor que, em 2004, a gestora iniciou a busca de recursos para um fundo direcionado a projetos de tecnologia limpa. A captação do VC-III foi concluída em novembro do ano passado, num montante de R$ 60 milhões. Em março, será anunciada a primeira empresa de tecnologia limpa investida, cuja atuação específica ainda é mantida em segredo. A carteira deve ganhar mais seis ou sete negócios nos próximos cinco anos.

Perguntado se tem encontrado alguma dificuldade em lidar com os empreendedores de tecnologia limpa — muitas vezes, cientistas ou profissionais da área de agricultura sem muita experiência em gestão empresarial —, Lisbona afirma que isso é, sim, um problema para o private equity. Como seu objetivo é usar a bolsa de valores na hora do ‘desinvestimento’, nem sempre se depara com empresas que tenham o que ele chama de um “DNA para o mercado de capitais”. Contudo, o gestor da Stratus admite que essa realidade vem melhorando nos últimos anos. “O brasileiro aprende tudo muito rápido”, brinca. E ele diz isso não apenas sobre os empreendedores como também sobre os investidores de energia limpa. “Em 2004, tínhamos de catequizar o mercado, ensinar por que apostávamos tanto no potencial de crescimento desse setor. Agora, a realidade é outra.”

Para o diretor da área de gestão de investimentos da Rio Bravo, Fernando Buarque, gestor dos fundos Nordeste I e II, o que mais ajuda quebrar o gelo na hora em que um investidor torce o nariz ao ouvir histórias ecologicamente corretas é falar logo sobre as promessas de lucratividade. “Acreditamos que a energia limpa trará retornos muito maiores, comparados com os investimentos nos demais setores”, conta. Criado em agosto de 2004, o Fundo Nordeste II tem duas empresas, a Ecoluz e a Agira — ambas na área de energia (redução de consumo e gás natural, respectivamente).

A Ecoluz se enquadra numa categoria de tecnologia limpa conhecida mundialmente como “energy efficiency” (energia eficiente). Ou seja, quando você diminui o consumo de luz numa empresa, isso reduz a necessidade de construção de novas usinas o que, por conseqüência, livra a natureza de um eventual impacto ambiental. Esse conceito é muito conhecido nas discussões sobre vendas de créditos de carbono, à medida que essa economia pode ser comercializada. Segundo a Cleantech — uma associação norte-americana que reúne investidores cujos negócios nesse segmento somam US$ 10,2 bilhões desde 1999 — as tecnologias de energia eficiente serão responsáveis por 58% das reduções na emissão de CO2 no mundo até o ano de 2030. O fundo de venture capital Novarum, da Jardim Botânico Partners, investe na Bioexton, empresa que aproveita resíduos orgânicos para a fabricação de fertilizantes, evitando assim que essas sobras sejam queimadas e liberem gás carbônico para o meio ambiente. “Procuramos agora projetos em biocombustíveis”, revela Levindo Santos, gestor do Novarum. “Pode nem ser um produtor, mas alguém que já trabalha com logística e distribuição dos combustíveis feitos à base de óleo vegetal.”

AJUDA DO GOVERNO — No embalo das boas previsões, governos de todo o mundo têm feito a lição de casa a fim de garantir um lugar ao sol para suas ecoempresas. Segundo um estudo da Goldman Sachs, já são 49 países que, atualmente, concedem algum tipo de subsídio público ao setor de energia limpa, por exemplo. Essa ajuda passa pela imposição de barreiras de importação — é o que os Estados Unidos fazem com o Brasil, dificultando a entrada do etanol — e por políticas de consumo obrigatório da produção nacional. Os incentivos oficiais são, por sinal, uma das vantagens mais lembradas pelo mercado de capitais quando respondem por que vale a pena o investimento em companhias verdes.

Aqui no Brasil, uma lei criada em 2005 pelo presidente Lula determina que, até 2008, todo o óleo diesel consumido tenha 2% de biodiesel. A partir de 2013, esse percentual sobe para 5%. O governo federal avalia que será necessário produzir quase 1 bilhão de litros por ano para atender a essa demanda. E a produção será feita apenas com matéria-prima brasileira. O próprio Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado em janeiro, incluiu entre as prioridades da Petrobras assegurar a liderança do Brasil na área de biocombustíveis e intensificar as pesquisas de fontes alternativas e renováveis de energia.

O programa de biodiesel assumido pela companhia prevê, inicialmente, a instalação de unidades industriais em Candeias (BA), Montes Claros (MG) e Quixadá (CE), com capacidade para produzir 50 mil toneladas/ano cada uma, e início de operação no final de 2007, envolvendo recursos totais de R$ 570 milhões. A Petrobras também analisa a possibilidade de construir outras usinas de biodiesel, em parceria com sócios privados, em diversos pontos do País, até 2008.

Hoje, a energia alternativa responde por menos de US$ 1 bilhão dos US$ 87,4 bilhões programados para serem investidos pela companhia até 2014. “Ainda assim, somos a empresa mais envolvida com tecnologia limpa neste setor no mundo”, afirma Raul Campos, gerenteexecutivo de Relações com Investidores da Petrobras. Na área de etanol, a idéia é prover a logística para o transporte desse álcool, com a construção de um álcoolduto de Goiás até a região de Paulínea (SP). Também está nos planos entrar no segmento de distribuição no Japão (onde já atua na venda de etanol) e já foram iniciados estudos científicos para a fabricação do combustível a partir das fibras do bagaço da cana-de-açúcar.

Com o mesmo otimismo, seguem as duas outras companhias listadas na Bovespa, Cosan e Brasil Ecodiesel. A primeira afirma que a produção de etanol, desde 2000, tem crescido 30% ao ano e hoje representa quase um terço das receitas da companhia. “Vemos boas perspectivas de crescimento da demanda do etanol no Brasil”, diz Guilherme Almeida Prado, gerente de RI da Cosan. “Mesmo no exterior, alguns analistas já apontam nosso diferencial competitivo”, acrescenta ele, referindo-se à produção do álcool a partir da cana, e não do milho como ocorre nos Estados Unidos, considerado menos eficiente por conta dos custos elevados. A companhia ainda consegue produzir, a partir da queima do bagaço da cana, energia excedente para gerar créditos de carbono e comercializá-los.

Já a Brasil Ecodiesel tem hoje três usinas de produção do combustível verde e pretende implantar outras quatro ainda este ano — três delas agora em março. “Em 2008 chegaremos a uma capacidade de quase 800 milhões de litros, um volume bastante próximo ao que o Brasil deverá consumir em 2008 por conta da lei que determina a mistura de 2% de biodiesel ao diesel de origem fóssil”, prevê Jorio Dauster, presidente do Conselho de Administração da companhia. No segundo semestre começam as primeiras exportações, com volumes modestos, apenas para aprender os caminhos da comercialização do produto lá fora.

CAUTELA — Os analistas deste setor também acreditam no potencial para a tecnologia limpa, mas fazem alertas quanto ao prazo para os retornos previstos. Marília Dubois, gestora da Unibanco Asset Management (UAM), diz que é importante entender as diferenças entre os diversos tipos de investimentos que cabem neste conceito. O etanol, por exemplo, tem um mercado mais conhecido, estabilizado, diferentemente dos biocombustíveis, setor ainda incipiente no País, logo, mais arriscado. “Não temos um histórico sobre a indústria do biodiesel no Brasil e não podemos comparar nossa realidade com a de outros países. Aqui, a produção está muito ligada à agricultura familiar, o que não ocorre lá fora”, diz.

Quanto aos riscos da Cosan, observa que, dada a rápida expansão desse negócio, muita gente passou a adquirir usinas, o que resulta em maior concorrência nessa área. Já Luiz Caetano, do Banif, vê o futuro da cana de açúcar com grande otimismo. “O consumo é crescente e a companhia tem baixos custos de produção”, diz. Contudo, lembra que os preços do álcool têm elevada correlação com o petróleo. Assim, um movimento mais forte nas cotações do combustível — em queda nos últimos tempos — pode influenciar os preços do etanol.

Seja o que vier pela frente, o professor do Ibmec Rio de Janeiro, Gilberto Braga, lembra aos investidores que não descuidem da cobrança por governança corporativa. “É fato que existe uma tendência de empresas socialmente responsáveis terem uma apreciação diferenciada do mercado. Basta ver o desempenho das listadas no ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da Bovespa e em índices internacionais semelhantes, como o Down Jones Sustainability”, diz. Mas contribuir com o meio ambiente não basta. É preciso ter uma gestão capaz de honrar os compromissos com o investidor.


Fundos estrangeiros captam recursos para investir em energia limpa no Brasil

Para a felicidade dos empreendedores brasileiros, a tecnologia limpa “made in Brazil” está virando moda lá fora. Aos poucos, o capital estrangeiro aterrissa por aqui em busca do que pode ser uma nova mina de ouro para as suas carteiras.

Entre os que já chegaram está o grupo norte-americano Econergy International Corporation, que criou em 2004 o Clean Tech Fund, cujo foco principal é a América Latina. A maior parte de seus investidores são bancos, fundos de pensão e assets que, até então, não olhavam para os ativos ecologicamente corretos. O primeiro investimento do fundo foi feito no Brasil, ao final de 2005, na Neogas, fabricante de compressores de gás natural. “Temos em vista outros três projetos brasileiros. Um deles é uma usina de energia eólica no Ceará”, informa Marcelo Souza, vice-presidente de desenvolvimento de novos negócios da Econergy. “Isso representa US$ 30 milhões de capital já comprometido no País.”

A Econergy é uma companhia aberta listada na bolsa de Londres (no Mercado de Investimentos Alternativos, AIM) desde fevereiro de 2006. Só no IPO, captou US$ 105 milhões e hoje conta com um valor quase quatro vezes maior (US$ 400 milhões) para novos projetos. Com filiais nos Estados Unidos, México, Argentina e Irlanda, investe em usinas hidrelétricas de pequeno porte, conhecidas como PCHs, centrais de energia eólica e termoelétricas movidas a bagaço de cana ou outros resíduos naturais. Já os ingleses da Clean Energy Brazil também abriram capital recentemente no AIM, conseguindo cerca de US$ 196 milhões na primeira oferta. Boa parte dessa bolada já tem um destino certo: usinas de cana-de-açúcar no Brasil. (ASS)


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