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Ele levanta platéias
Salim Matar, presidente da Localiza.

 

ed37_p044-045_pag_1_img_001A vida de Salim Matar, presidente da Localiza, é quase uma fábula. Só não daria para dizer que renderia um livro porque essa história mal passou da metade. Aos 57 anos, o CEO-revelação segundo os jurados da Capital Aberto vive um dos momentos mais importantes de sua trajetória empreendedora. Está à frente hoje, como presidente e fundador, da maior locadora de carros da América Latina, com mais de 300 agências no Brasil e exterior. Mesmo com essa conquista, sua carreira ainda está longe do que ele gostaria de chamar de auge. Para esse mineiro natural de Oliveira — uma cidade de 40 mil habitantes perto de Belo Horizonte —, o céu é o limite. E olhe lá.

Salim é neto de uma família de libaneses que chegou ao Brasil no final do século 19. Seu pai, José Mattar, casou-se com uma brasileira e criou nove filhos. “Tenho quatro irmãos mais velhos e quatro mais novos. O do meio, certinho, sou eu”, diz. Como herança, seu avô deixou um armazém de secos e molhados em Oliveira, exatamente o lugar onde o CEO da Localiza teria seus primeiros contatos com a figura chamada cliente.

Quando pediu ao pai para ajudar no comércio deixado pelo avô, Salim tinha menos de seis anos de idade. Nas “horas vagas”, gostava de soltar pi pas e jogar bola de meia na rua. O lugar se chamava Serve-Bem e, pelo nome, vê-se que o garoto começou na escola certa.

O professor também não podia ser melhor, seu próprio pai. Ele obrigava Salim a repetir, a todo momento, que um dia abriria seu negócio próprio. Certa vez, comentou em casa que queria ter aulas de piano, e seu pai o fez jurar que nunca seguiria a carreira de músico. Apesar do gosto pelas cifras de Mozart, tratou logo de abandonar a idéia e achar um modelo de comércio que combinasse com ele. Enquanto a inspiração não aparecia, passava o tempo no Serve-Bem e, vez ou outra, escapava mais cedo do serviço para pegar a matinê do Cine Oliveira.

Quando chegou o momento de ir para a faculdade, Salim não tinha mais dúvidas. Aos 17 anos, seguiu para Belo Horizonte para terminar o colegial e, depois, prestar o vestibular no curso de administração. Seu primeiro emprego na capital mineira foi numa empresa de engenharia, como office boy. Três anos depois, já virara gerente. Como? Muito simples. Acostumado à rotina de um armazém que ficava aberto 16 horas por dia, Salim estranhava a pouca carga horária dos empregos na cidade grande. Por conta própria, começou a entrar mais cedo, ficar por lá nos fins de semana e conquistar a confiança dos patrões.

“Trabalhar sempre foi uma terapia para mim”, lembra o CEO. Aos 21 anos, quando percebeu que alcançara o cargo mais alto do escritório, atrás apenas dos donos, decidiu mudar de emprego. Com pouco tempo para terminar a faculdade, começou a trabalhar como administrador numa rede de supermercados de Belo Horizonte e lá ficou por dois anos, até que o destino fez o favor de colocá-lo frente à frente com o proprietário de uma pequena locadora de veículos. Ao pagar o dono da loja o valor da diária pelo uso do carro alugado, o exímio aluno de matemática fez as contas de cabeça e se surpreendeu com o quanto um negócio daqueles podia faturar.

Em 1973, aos 23 anos, conseguiu um financiamento bancário e, ao lado de um dos irmãos e de dois outros sócios, comprou meia dúzia de fuscas usados para alugar. Deu certo. Em 1982, sua empresa, a Localiza, já era líder de mercado no Brasil com 25 lojas em 11 cidades. Para agilizar a expansão das unidades, adotou o sistema de franquias e hoje está presente em oito países da América Latina.

“Nosso maior desafio é sermos uma empresa admirada por todos os públicos. O lucro é conseqüência disso”

“Esse sucesso deve ser compartilhado com todos que contribuíram sobremaneira para que a Localiza chegasse onde ela está”, frisa Salim. “Nosso maior desafio é sermos uma empresa admirada por todos os nossos públicos: investidores, funcionários, clientes, comunidade. O lucro vem como conseqüência disso”, ensina ele, com a eloqüência que lhe é bem peculiar. Não tem quem não se impressione com sua verve ao falar da Localiza. Nos eventos, já ficou conhecido como o palestrante que jamais deixa a platéia dormir, tamanho o seu entusiasmo.

Mas não pense você que se trata de uma pessoa impulsiva. Salim é um CEO meticuloso. A idéia de abrir o capital da empresa — que acabou acontecendo no início do ano passado — surgiu, pela primeira vez em 1988, quando foi fixada essa meta para dali a sete anos. A estréia na Bovespa só não aconteceu em 1995 por conta dos reflexos da crise do México nos mercados emergentes. Contudo, como a casa já estava arrumada, Salim e seus sócios conseguiram chamar a atenção do banco norte-americano Donaldson, Lufkin and Jenrette , o DLJ, que, em 1997, comprou um terço da companhia por US$ 50 milhões por meio de um fundo private equity. No ano seguinte, a Localiza realizou uma emissão de títulos nos Estados Unidos captando mais US$ 100 milhões.

“Administramos a Localiza com dois faróis: o baixo foca o fluxo de caixa, e o alto, a empresa daqui a três, quatro, cinco, dez anos”. Tanto é verdade que seu plano de sucessão foi elaborado há trinta anos. Ali ficou acertado que nenhum dos herdeiros dos sócios trabalharia na companhia. Salim, até então, nem sonhava em ter suas três filhas, hoje com 13, 15 e 17 anos. Se já está certo que elas ficarão longe da Localiza, resta saber o que o CEO planejou para ele próprio.

Salim Mattar irá deixar a presidência da companhia em 2014, pois terá completado 65 anos, a idade limite para permanecer no cargo, segundo o acordo dos sócios. “Mas vou para o Conselho de Administração”, garante. Quem sabe assim terá mais horas livres para a música clássica, sua paixão desde os tempos de Oliveira. Salim adora relaxar ao som do piano de calda que tem na sala de sua casa em Belo Horizonte. Não realizou o sonho de aprender a tocar, mas fez o que seu pai mandou quando o garoto pediu para freqüentar as aulas de música em Oliveira: criou uma empresa bem-sucedida e hoje pode pagar um pianista que toca só para ele.


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