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Com a cara e a coragem
Luis Stuhlberger, diretor de investimentos da Hedging-Griffo.

 

ed37_p054-055_pag_1_img_001É uma pena que a profissão de visionário ainda não exista. Caso contrário, ele poderia ser apresentado como tal. Luis Stuhlberger — escolhido como revelação entre os gestores de recursos independentes pelo júri da Capital Aberto — tem como marca registrada sua habilidade de antever os movimentos do mercado, o que pode fazer uma grande diferença quando se tem em carteira um patrimônio de R$ 14,3 bilhões para administrar. À frente da área de investimentos da Hedging-Griffo desde 1991, ele se orgulha de ter criado, há nove anos, o famoso Fundo Verde, colecionador de diversos prêmios. “É o trabalho de toda uma equipe”, define.

A vocação para o mercado financeiro demorou para aparecer. Como acontece com tantos outros profissionais de renome na área de Finanças, escolheu para a graduação o curso de engenharia na Escola Politécnica da USP. Talvez por influência do pai, engenheiro civil, chegou a ter contato com o lado prático dessa carreira trabalhando num escritório durante a faculdade. A experiência, porém, serviu apenas para confirmar que ele adorava mexer com os números, mas desde que a operação principal fosse a de multiplicação.

Ao se formar, em 1978, matriculou-se num curso de especialização em Finanças na FGVSP. Um ano depois, estreou no mercado em uma espécie de estágio, realizando operações de open market para uma instituição financeira em que sua família tinha participação. Ficou nessa área até 1980, quando apareceu a oportunidade de ir para a corretora então chamada Griffo. Ali, estava diante de seu primeiro grande desafio: operar no mercado futuro, àquela época bastante incipiente no País. “O que mais me motivou nesse emprego foi o fato de estar começando do zero, assim como todos os outros corretores”, explica. “No open market já existiam as estrelas dos bancos de investimentos.” Sábia decisão.

Em 1981, a corretora onde trabalhava foi arrendada pela recém-criada Hedging que, tempos depois, passaria a se chamar Hedging-Griffo. Nesse período, Stuhlberger já estava craque em operações futuras, negociando contratos de café e boi. O conhecimento na área agrícola seria fundamental, anos mais tarde, para a boa performance do fundo HG Verde. Mas essa história fica mais para a frente. Em 1982, o jovem talento achou que era hora de variar um pouco e perguntou ao chefe se podia entrar nas negociações de ouro da bolsa de futuros. Com duas linhas de telefone, uma pequena mesa e um ajudante, começou a montar sua carteira de clientes fazendo contato com bancos e fundidoras, que compravam o ouro do garimpo e traziam para São Paulo.

“Não havia computador. Para obter a cotação do ouro, gastávamos uma fábula de telefone ligando para Nova York”, lembra ele. Mesmo recebendo as informações com preciosos segundos de atraso, Stuhlberger conseguia êxito em operações de arbitragem. Seu mérito de trazer bons resultados pegou fama no mercado e, em 1984, o próprio Banco Central, em situação de pós-moratória, já negociava ouro com a Hedging-Griffo na impossibilidade de contar com mais dólares para abastecer suas reservas. À essa altura, a estrutura dada à área de operações de Stuhlberger já nem lembrava a pequena mesa do início das negociações. O ouro havia virado o negócio mais rentável da corretora.

“Olhei para o exterior e vi o que eles estavam fazendo. Foi lá que me inspirei”, afirma sobre a criação de uma das primeiras gestoras independentes do País
“O que mais me motivou no trabalho com mercados futuros foi o fato de estar começando do zero, assim como todos os outros corretores”

O sucesso continuou por toda a década de 80. Num Brasil falido, em que se vendiam dólares apenas no paralelo com ágios estratosféricos, o ouro surgiu como opção de ativo real. “O atrativo do ouro é que ele é o único ativo que não carrega um passivo junto. Você pode ter em mãos um título do governo ou de uma empresa, mas só vai receber quando eles pagarem. Já o ouro, só tem como passivo a própria natureza”, observa.

Contudo, o brilho deste corretor visionário foi apagado com o plano Collor, em fevereiro de 1990, por conta da liberação do câmbio para negociação. “De um dia para o outro, meu negócio virou pó”, lembra, referindo-se ao fato de que ninguém mais queria saber do ouro, uma vez que os dólares voltaram a circular. De quebra, as taxas de juros do País foram elevadas. Só havia uma coisa a fazer, e ele soube o quê. De novo bateu na porta do chefe, desta vez para dizer que a hora de criar a asset management da Hedging- Griffo era aquela. E assim tornou-se o diretor de uma das primeiras gestoras independentes do País. “Olhei para o exterior e vi o que eles estavam fazendo. Foi lá que me inspirei.”

Por aqui, a idéia era mesmo transpirar muito para conquistar a credibilidade dos primeiros clientes. Afinal, no início dos anos 90, não era fácil para uma gestora, sem ter um banco por trás, convencer as pessoas sobre a segurança de seus produtos. “Foi um sufoco”, assume. Sete anos depois, a asset caminhava firme e forte quando se deparou com a crise da Ásia. Mas Stuhlberger havia tomado suas precauções e os cotistas não sofreram tanto com a tempestade.

As mesmas estratégias de defesa foram utilizadas para prevenir as carteiras contra uma eventual desvalorização do real, o que acabou acontecendo em janeiro de 1999. Hoje, aos 51 anos, lembra que, no dia da “maxi”, estava de férias, com as duas filhas mais velhas, em Foz do Iguaçu. Soube da notícia pelo celular. E pôde voltar a olhar as cataratas tranqüilamente, com a certeza de que, mais uma vez, tinha se antecipado aos fatos. Stuhlberger costuma dizer que acredita na sorte. Mas que também não despreza o azar. “O que a gente não pode é contar só com eles”, ensina.


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