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Bovespa lança o INDX e atinge dez índices de ações. Mas existe demanda para tanto?

ed36_p024-026_pag_2_img_001A função de um índice numa bolsa de valores é bem conhecida. Como um termômetro, ele permite avaliar o desempenho dos mais variados grupos de empresas unidas por critérios como liquidez, setor da economia ou práticas de governança corporativa. De 2000 para cá, a Bovespa expandiu rapidamente seu portfólio ao criar, só nesse período, sete indicadores. Hoje, já contabiliza dez para mostrar. O último, o Índice do Setor Industrial (INDX), foi lançado no último dia 3 de julho a pedido da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e tem por finalidade medir o comportamento das ações da indústria de transformação com maior liquidez na bolsa paulista. Mas será que o mercado realmente usa todos eles?

Fizemos uma enquete com oito gestores, entre analistas de bancos, assets independentes e corretoras, e concluímos que não, os investidores não usam todos eles, pelo menos por enquanto. Poucos foram os que citaram um outro índice diferente do Ibovespa e do IBrX 50 quando perguntados sobre os indicadores que costumavam acompanhar. E metade deles simplesmente nunca havia ouvido falar do Índice do Setor Industrial. Por quê? Ora, são várias as razões.

Fernando Tendolini, gerente de análise da Fator Corretora, vai direto ao ponto: “Usamos os índices gerais porque o País ainda tem poucas com- panhias listadas para preencher cada um dos outros indicadores com uma boa representatividade”. E Reginaldo Alexandre, diretor técnico da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), lembra que a maior parte dos fundos são referenciados na performance do IBrX ou do Ibovespa, que reflete o comportamento da indústria de uma forma geral. “Os outros índices acabam servindo apenas para refletir uma tendência do mercado como, por exemplo, se a governança vem ganhando mais ou menos importância perante o investidor”, afirma.

Mesmo entre aqueles investidores considerados pontos fora da curva, isto é, que tentam fazer análises mais aprofundadas para garimpar oportunidades, os indexadores também não são muito utilizados. “Nenhum índice atesta a solidez de uma companhia”, argumenta o analista Gustavo Barbeito, da Prosper. “A governança corporativa ou o pagamento de tag along são valorizados como um diferencial importante. Mas não são os únicos aspectos que, para nós, definem a qualidade de um investimento. É preciso acompanhar a empresa de perto, ver como anda sua gestão e mais um pacote de itens”, diz.

No intervalo entre uma entrevista e outra, a Bovespa foi consultada. Por que mais um índice foi criado? A bolsa brasileira necessita de dez indicadores? “É claro”, responde Ricardo Nogueira, superintendente de operações da bolsa. “A demanda vem do próprio mercado”, garante ele. Segundo Nogueira, por ter uma função específica, é natural que cada índice seja visto com mais ou menos utilidade de acordo com a linha de investimento adotada pelo gestor.

Nogueira argumenta que, antes de falar em muitos ou poucos indicadores para o Brasil, precisamos lembrar que alguns deles são bastante recentes. Logo, é normal que demorem um certo tempo para engatarem uma segunda marcha no menu dos investidores. Estariam nesse contexto os chamados índices conceituais. O primeiro dessa leva, o IGC, foi lançado há apenas cinco anos, enquanto o mais recente indicador conceitual, o ISE, mal completou oito meses no mercado. “Na medida em que a governança e a sustentabilidade ganharem maior importância para o investidor, há uma tendência de que sejam mais usados”, avalia o superintendente. Ele também propõe um exercício de memória para contextualizar a data de criação de certos índices com o momento econômico atravessado pelo Brasil naquele período. Cita os índices Itel, que mede o desempenho do segmento de telecomunicações, e o IEE, voltado às companhias do setor elétrico. Lançados no final da década de 90, ambos foram vedetes do mercado financeiro numa época de pós-privatização, quando empresas dos dois setores haviam se reestruturado recentemente.

PARA TODOS OS INTERESSES E CREDOS — Por fim, para acabar de vez com a discussão sobre a utilidade dos indicadores brasileiros, o superintendente da Bovespa pede aos críticos que façam uma comparação com a quantidade de indexadores nas demais bolsas pelo mundo. Nos Estados Unidos, a família Nyse possui oito índices, divididos por setor (Energy, Financial, Health Care, Telecommunications), pelo país onde a companhia está sediada (International- 100, Nyse-US100 e World Leaders), além de um medidor geral, o Nyse Composite, que — naquela bolsa — reflete 77% das movimentações com suas 2.026 companhias listadas, sendo 1.658 sediadas nos Estados Unidos.

Isso sem considerar que os países com mercados mais desenvolvidos muitas vezes contam com mais de uma bolsa, cada uma definindo seu próprio índice — como é o caso da Nasdaq e da American Stock Exchange. As bolsas internacionais só não criam mais índices porque já estão bem abastecidas pelos indicadores elaborados por terceiros como o Standard and Poor’s (S&P 500 é o mais famoso) e o Dow Jones. Só esse último divulga cerca de 5 mil indicadores diferentes pelo mundo, com algumas centenas deles usando empresas listadas na Nyse. As companhias são agrupadas sob os mais diferentes aspectos — setor, país, porte etc (veja quadro)

Até a religião é motivo para a Dow Jones classificar companhias. Prova disso é que, desde 1999, existe o índice DJ Islamic Market que, por sua vez, deu origem ao DJ Islamic Sustainability, cujos conceitos de sustentabilidade seguem os dogmas do islã. Acha que acabou por aí? Nada. No último dia 24, a família cresceu quando anunciaram a criação do Dow Jones Islamic Market BRIC Equal Weighted. Traduzido em bom português é o indicador que mede a performance das companhias no Brasil, Rússia, Índia e China que seguem os princípios islâmicos. Por aqui, fazem parte dessa carteira a Companhia Petroquímica do Sul, a Tractebel Energia, a Telecomunicações de São Paulo, a Fertilizantes Fosfatados e a Companhia de Transmissão de Energia Elétrica. Já no Reino Unido, a oferta de índice é garantida pelas séries FT, elaboradas pelo Financial Times Group, cujos indicadores também possuem grande variedade de categorias e indicadores.

NOVAS DEMANDAS — No Brasil, também existem os adeptos de uma farta cesta de índices. Daniel Doll Lemos, da Socopa, entende que chegou a vez das áreas de mineração e siderurgia ganharem um indexador. “Ambos conquistaram maior destaque que telecomunicações e energia”, justifica. Já Eduardo Roche, da área de asset do Modal, sugere o índice para os bancos. Ainda assim, permanecerá fiel ao Ibovespa no seu dia-a-dia por considerá-lo como o mais representativo. “Podem criticar a sua ponderação ou o espaço dado por ele para cada companhia, mas não tem melhor referência. É uma tradição, ninguém vai deixar o Ibovespa de lado.”

Ricardo Nogueira, da Bovespa, diz estar atento a todas as sugestões de novos indicadores. Mas pede aos investidores que entendam o processo de criação dessas referências. “Eles não são feitos de um dia para o outro”, alerta. Pelas suas contas, um índice demora pelo menos dois anos para ser criado e, mesmo assim, pode acontecer de o lançamento ser cancelado no meio do caminho porque o mercado já não demanda mais aquele medidor. Foi o que aconteceu no final dos anos 90. O índice que mediria a performance dos bancos quase saiu do papel, mas o projeto foi deixado de lado quando as instituições financeiras iniciaram uma série de fusões, após o processo de privatização desse segmento no País.

“Por mais que o medidor de desempenho dos bancos existisse, nada garante que ele estaria sendo utilizado pelo mercado”, acredita o superintendente. Faz sentido. Hoje, uma eventual carteira hipotética do setor financeiro contaria com apenas cinco ações — Bradesco, Itaú, Nossa Caixa, Unibanco e Banco do Brasil. E se existissem mais instituições dentro dele, seria este um índice relevante? Talvez não. “Mesmo os setores de energia e telecom, nós só olhamos para saber se um deles está mexendo com o Ibovespa”, avalia Andrés Kikuchi, analista da corretora Link.

Mas se a variedade de índices não faz diferença para muitos, tampouco atrapalha o mercado. “Eles podem até não ser usados no acompanhamento diário do analista, mas são bastante úteis quando precisamos estudar o comportamento de um determinado setor para pensar em estratégias”, comenta Fábio Cardoso, da Máxima Asset Management.

Um leque maior de indicadores também é bom para estimular os investidores a se despreenderem de sua fixação por Ibovespa e IBrX 50. Alguns estudiosos vêem nos índices tradicionais um efeito nocivo ao mercado, na medida em que seus fiéis seguidores preferem replicar essa carteira a fazer uma análise detalhada das ações listadas em bolsa. Esse comportamento, aliás, é fruto de um apego maior à liquidez do que a questões de mais longo prazo como a governança corporativa e o alinhamento de interesses proporcionado pelo tag along, por exemplo. A preferência pela dupla imbatível de índices é, portanto, tradução da filosofia de investimento que ainda impera no mercado brasileiro.


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