Herança de momentos econômicos turbulentos — como o Plano Cruzado, por exemplo — as ações cotadas em lotes de mil sobrevivem na Bovespa. Do total de companhias de capital aberto, 37% ainda não adotaram a cotação unitária — um processo que vem sendo estimulado em campanha capitaneada pela Bolsa desde 2004, e que procura não só facilitar a comparabilidade dos papéis, mas também evitar que investidores menos experientes caiam em erros de avaliação sobre as cotações. Com o crescimento da participação do investidor pessoa física — e as operações realizadas via home broker batendo 20% do total —, cresce o potencial desse tipo de problema e também a urgência dos ajustes.

A lista de empresas que permanecem com lotes de mil não é formada apenas por companhias pouco negociadas ou de preços muito baixos. Dentre as 20 maiores do mercado, figuram nomes de peso como Ambev, Eletrobras e Cemig. Uma análise do percentual de ações cotadas por lote unitário em cada setor coloca as companhias de energia elétrica no fim da fila e as de telecomunicações, juntamente com os bancos, na dianteira. Desses dois setores, permanecem com o lote de mil apenas a Brasil Telecom e o Santander Banespa, respectivamente.

A mudança de lote requer o grupamento e, portanto, depende de aprovação em assembléia. Conseqüentemente, implica custos de publicação legal (compostos principalmente pela veiculação da convocatória em jornais de grande circulação e no Diário Oficial). Como esses custos servem de justificativa para uma parte das 126 empresas que ainda não migraram, o superintendente de operações da Bovespa, Ricardo Nogueira, enviou a cada uma das remanescentes uma carta em que recomenda que se pegue carona na Assembléia Geral Ordinária a ser realizada até o próximo 30 de abril e se convoque uma sessão extraordinária para a mesma data, colocando o tema do grupamento em pauta.

Sua expectativa é que muitas acatem a recomendação e seja possível chegar ao final do ano com 20 ou 30 companhias negociadas por lote de mil. De acordo com Nogueira, a partir de 2007, quem sobrar deverá passar à negociação em situação especial.