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Precisa-se de conselheiro
Novidades na regulamentação ampliam vagas para profissionais independentes e mercado aprimora os critérios de recrutamento

 

ed31_p042-044_pag_3_img_001Quando Guilherme Dale, sócio da consultoria Spencer Stuart, começou a atuar no recrutamento de executivos, há 30 anos, os cargos eram preenchidos principalmente em função de amizades e conhecimentos pessoais. Hoje, nenhuma grande empresa dispensa os serviços de headhunters para selecionar candidatos às posições mais estratégicas. Não é por acaso que empresas de recrutamento começaram a ser solicitadas para garimpar, no mercado, profissionais para as dezenas de vagas de conselheiros de administração que estão sendo criadas este ano em companhias de capital aberto. “Na medida em que se profissionaliza, esse mercado vai passando para nós”, diz Dale. “Já vimos isso acontecer com os executivos.”

Nas consultorias de recursos humanos, áreas especializadas em recrutamento de conselheiros profissionais são novidade recente. A função, entretanto, não é nova. Nos últimos anos, conselhos de administração foram constituídos até em empresas familiares de pequeno porte, em busca de profissionalização e eficiência, e há executivos que participam de conselhos há mais de uma década. Mas é nas companhias de capital aberto que surgiu, este ano, uma demanda extra, impulsionada por novas exigências relacionadas às boas práticas de governança corporativa.

A primeira delas foi anunciada no início do ano, com a mudança das regras estabelecidas pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) para os níveis especiais de governança. Entre as alterações, que começaram a vigorar em fevereiro, está a obrigatoriedade de 20% de membros independentes nos conselhos de administração das companhias listadas no Novo Mercado e no Nível 2. Isso significa que as empresas que ainda não atendem à regra (as estimativas são de 10 entre as 32 listadas) terão que adequar seus conselhos e eleger novos membros independentes nas Assembléias Gerais Ordinárias que acontecem até 30 de abril.

As previsões em torno do número de assentos que serão criados para conselheiros independentes, por conta da medida, são atropeladas pela velocidade com que o mercado de capitais vem se desenvolvendo. Desde que a Bovespa anunciou a medida, novas companhias já ingressaram nos níveis especiais e outras se movimentam para fazer o mesmo nos próximos meses, seguindo planos de abertura de capital ou de pulverização das ações. Nesse último caso, o grande destaque é a Embraer, que elegerá nada menos que oito conselheiros independentes em sua assembléia, como parte do processo de reestruturação societária que a alçará ao posto de maior companhia aberta brasileira com controle acionário pulverizado, agora no Novo Mercado.

Não bastasse essa surpreendente movimentação nos conselhos de administração — considerado principal instrumento para a implantação das boas práticas de governança —, outra alteração, prevista desde a reforma de 2001 na Lei das S.As, começou a vigorar este ano, abrindo mais uma porta para membros externos e independentes. Trata-se do direito à indicação de um conselheiro por parte dos acionistas minoritários — ordinaristas com pelo menos 15% do capital votante e preferencialistas com no mínimo 10% do capital social. Até o ano passado, esse direito era pouco exercido, porque a escolha ficava restrita a uma lista tríplice elaborada pelo controlador.

BANCOS DE CONSELHEIROS — A expectativa de que uma nova leva de conselheiros externos, indicados por minoritários, irá desembarcar nas empresas é tão grande que a Associação Nacional de Investidores do Mercado de Capitais (Animec) decidiu criar um banco de dados com nomes de profissionais candidatos à função. O mercado já contava, desde 2002, com um banco semelhante, criado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). “Os minoritários vão precisar fazer as indicações para os conselhos”, justifica Gregorio Rodriguez, vice-presidente da Animec, que pretende disponibilizar a fonte de dados sobre conselheiros no site da associação ainda em março. “Queremos conselhos profissionais. Se somos contra o controlador chamar um amigo para conselheiro, não podemos fazer o mesmo.”

O IBGC também vem detectando um aumento de interesse pelos serviços do banco de conselheiros, que hoje reúne 350 currículos. O número de acessos ao cadastro, em média de 40 por mês, passou para 50 desde novembro, conta Heloisa Bedicks, secretária geral do instituto. “A consulta é gratuita e não fazemos nenhum tipo de indicação”, explica. Pelos telefonemas que recebe, Heloisa observou uma curiosidade: além de conselheiros — especialmente aqueles com conhecimento de governança corporativa e comitê de auditoria — a procura passou a incluir um cargo novo: o de secretário do conselho, alguém com a responsabilidade de cuidar de convocações, atas e documentação.

A nova função é mais um indício da profissionalização e do aumento da carga de trabalho no órgão, acredita Heloisa. “O secretário evita que um conselheiro tenha sua participação tolhida na reunião, por conta da confecção da ata”, diz ela. Em geral, a maior exigência para os candidatos à nova ocupação, segundo a secretária geral do IBGC, é que tenham conhecimentos da área jurídica.

O banco de conselheiros da Animec seguirá os mesmos moldes daquele do IBGC, com minicurrículos e consultas gratuitas. Rodriguez ressalta que a intenção não é competir com o serviço do instituto. “Achamos que a demanda vai aumentar tanto que a lista deles será pequena. Queremos ser mais uma opção, para assets e fundos pensão, por exemplo”, afirma.

Se a criação do banco de dados do IBGC foi o primeiro sinal da profissionalização dos conselhos, a entrada dos headhunters nesse mercado pode ser interpretada como uma intensificação desse processo. “Antes, a busca por conselheiros era realizada apenas por indicações e contatos pessoais dos acionistas”, conta Luciano Carvalho Ventura, que há 16 anos se dedica exclusivamente a conselhos de administração e tem seu nome incluído no cadastro do IBGC. “Essa forma de recrutamento está mudando.”

MAIS CANDIDATOS — De certa forma, bancos de conselheiros e headhunters evitam que a disputa por esses profissionais fique mais acirrada. Isso porque ambos os processos de seleção acabam por aumentar o mercado de candidatos — que, até bem pouco tempo atrás, se restringia a um seleto grupo. O IBGC, além de disponibilizar currículos, oferece cursos de formação cada vez mais concorridos. Já os headhunters, depois de obterem um mandato das empresas, partem para uma busca que ultrapassa as fronteiras dos candidatos óbvios, batendo à porta de profissionais reconhecidos e experientes — que só então despertam seu interesse pela ocupação.

“Não temos tido dificuldades de encontrar conselheiros, a não ser nos casos em que as empresas fazem muitas restrições, como ter experiência em um setor específico”, conta Francisco Ramirez, sócio da consultoria de recrutamento Fesa. Ramirez é o responsável pela caça aos “talentos seniores”, aqueles que vão agregar valor e experiência aos conselhos dos clientes da Fesa. Os atributos mais solicitados, conta, não são os técnicos. “O que se procura é credibilidade, respeito e visibilidade no mercado que importa para aquela empresa. O profissional tem de ser reconhecido como sério e íntegro. Nesse estágio da vida, o conhecimento acadêmico é quase óbvio.”

VIA DE MÃO DUPLA — Há basicamente duas formas de empreender uma busca, explica Ramirez: selecionando profissionais com experiência na função, que já atuam em conselhos, ou partindo para um “recrutamento mais ativo”. Neste caso, a consultoria aborda presidentes ou diretores de finanças de grandes corporações que não tenham conflito de interesses com a empresa que busca o conselheiro. A receptividade ao convite costuma ser boa, já que muitos estão considerando as opções para a sua carreira após a vida executiva, conta Ramirez. A função pode dar o prestígio e a remuneração necessários nessa nova etapa.

Um executivo com uma carreira sólida, porém, dificilmente aceitará um convite se desconfiar que o aporte de prestígio que o seu nome dará ao conselho não será uma via de mão dupla. Ou seja, ele não aceitará o papel de apenas referendar ou validar decisões. “No primeiro momento, essa preocupação aparece. Mas alguém tão qualificado conseguirá fazer uma leitura daquela empresa e do estágio de maturação da governança corporativa nela. Nós, na Fesa, recusamos o mandato se sentirmos que o terreno não é seguro para possíveis candidatos”, conta Ramirez.

Os riscos e a responsabilização legal têm sido um entrave para recrutar altos executivos para a função, diz Guilherme Dale, da Spencer Stuart. “Está difícil chamar um presidente”, lamenta. Como os cabelos brancos são valorizados na ocupação, os headhunters partem sem preconceitos para profissionais experientes que estão se aposentando e querem permanecer ativos. “O networking do conselheiro é muito importante”, observa Flávio Kosminsky, sócio da consultoria Korn Ferry. “Quando almoça com alguém influente em determinado assunto, o conselheiro está se informando sobre tendências e novos investimentos.”

A especialização também está em alta, refletindo a formação de comitês dentro dos conselhos com práticas mais avançadas. “Há solicitações específicas para integrar comitês de auditoria e de Recursos Humanos, por exemplo”, conta Kosminsky. Conversando com clientes, o consultor percebe que as empresas não estão tornando seus conselhos mais profissionais por se sentirem obrigadas pela lei. “O que as move é a busca por competitividade e direcionamento estratégico”, acredita.

De fato, a demanda por conselheiros independentes experimentada este ano não tem ares de “boom”, mas sim de continuidade de um processo. Isso deve ser motivo de comemoração. Mostra que as exigências legais e novas regulamentações ajudam a pavimentar um caminho que as companhias já estavam seguindo por convicção: o da boa governança.


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