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O desafio está lançado
Gestores de fundos de ações que se destacaram em 2005 buscam a fórmula mágica para ser ainda melhor num ano que já promete

 

ed31_p052-056_pag_3_img_001A informação pode parecer exagerada. Mas quem conhece o mercado de fundos de investimentos, principalmente os que concentram toda a sua carteira em ações, sabe que 2006 será um ano difícil para os gestores de recursos. Ninguém aqui está falando do efeito eleição e tampouco é cogitado qualquer colapso na economia. Ao contrário, bons ventos sopram para o Brasil. O País tende a cair de vez nas graças do investidor estrangeiro por conta de indicadores internos favoráveis e do fortalecimento do mercado de capitais. O problema é que, exatamente por tudo caminhar tão bem, só sairá na frente quem redobrar a habilidade para detectar não apenas as boas oportunidades, mas aquelas que ninguém enxerga.

Tal conclusão é fruto da conversa desta reportagem com nove gestores de renda variável sobre o balanço dos ganhos no ano passado e as perspectivas para os próximos meses de trabalho. A bem da verdade, não entrevistamos gestores escolhidos aleatoriamente. Falamos com os responsáveis pelos fundos de maior êxito no ano de 2005 nos quesitos rentabilidade e índice de sharpe (indicador que pondera o retorno pelo risco incorrido), selecionados a partir de um ranking de fundos de ações elaborado pela Fortuna, a pedido da Capital Aberto (veja tabela na página 34).

“Agora, o gestor terá de ser mais detalhista”, resume Eduardo Kemmelmeier, chefe da área de renda variável do banco Pactual. Apesar de estar otimista frente às boas notícias da economia brasileira, ele entende que um cenário favorável eleva, concomitantemente, os ganhos dos índices fechados como o Ibovespa e o IBX. Para bater esses números, é preciso focar no que Kemmelmeier chama de microfundamentos das empresas. Se, antes, observar detalhes era um diferencial, hoje tornou-se imprescindível checar minuciosamente o poder de fogo da companhia na hora de negociar com o fornecedor, a composição de suas receitas e a situação do endividamento. “A análise setorial continua, mas, num momento de convergência, ganha o jogo quem for além disso”, diz.

Na sua avaliação, o sucesso do fundo de ações Pactual Dinâmico, cujo rendimento foi de 43,20% em 2005, pode ser atribuído à agilidade de antecipar o movimento de subida dos papéis de petróleo, bancos e consumo. Aliás, diga-se de passagem, esses três setores foram apontados por nove, dos dez entrevistados, como as principais alavancas para a rentabilidade dos fundos de ações em 2005. Ou seja: quem detectou os três coringas poderia fazer a escolha das empresas de olhos fechados, já que as chances de acerto seriam grandes. Entre os melhores do ranking, foi difícil encontrar um fundo que não tivesse apostado em Petrobras, Bradesco e Lojas Americanas, por exemplo.

Mas as cartas marcadas não fecharam espaço para quem saiu à caça de sua própria galinha dos ovos de ouro. Um exemplo está no gestor do Boston IBRX Select, cuja rentabilidade chegou a 34,65% no ano passado. Mario Quaresma, superintendente da área de asset management do Bank Boston, descobriu na Coelce, a distribuidora de energia elétrica cearense, uma oportunidade de valorização. Quando, no meio do ano, a companhia passou a pagar bons dividendos, ele não teve dúvidas e comprou alguns lotes. No segundo semestre, a aposta se confirmou como verdadeira e as ações da elétrica fecharam 2005 com uma valorização aproximadamente 15% superior à do Ibovespa. “Sempre olhamos para essas empresas mais escondidas”, diz. Para este ano, confirma: manterá sua aposta em Coelce por conta das perspectivas de ganho com o reajuste tarifário.

Guilherme Rebouças, gestor do Itaú Private Select, foi outro que apostou em uma escapadinha do senso comum e investiu em Saraiva e Duratex em 2005. Ele conta que só conseguiu chegar a esses dois nomes por conta do trabalho elaborado por sua dedicada equipe de analistas. Ao todo são seis profissionais acompanhando 105 empresas no País e elaborando análises exclusivas. A força-tarefa do Itaú vem dando certo. O fundo teve uma das três melhores performances da categoria — 44,49% ou quase sete pontos percentuais acima do IBrX — índice escolhido por eles como referência para comparação dos ganhos. Em 2004 e 2003, também obteve ganhos muito superiores aos índices da bolsa: 38,59% e 68,55%, respectivamente.

No entanto, Rebouças acredita que tal sucesso se deve menos às ações de empresas diferenciadas e mais à habilidade para operar os papéis das grandes companhias, isto é, saber a hora exata de comprar e vender. Afinal, gigantes como Petrobras e Gerdau respondem por uma gorda fatia de sua carteira. As ações da estatal de petróleo, por exemplo, somam 23% dos recursos do fundo. Já toda a área de mineração leva outros 15%. “Não podemos errar nesses setores”, afirma. Para 2006, ele recomenda uma atenção especial sobre a posição dos estrangeiros quanto às ações brasileiras. Isso porque, dada a previsão de aumento do fluxo de capitais internacional, os preços das ações tendem a oscilar com mais intensidade, conforme a presença desses investidores. “Seremos bem mais críticos”, acrescenta.

De todas as estratégias de 2005, talvez nenhuma tenha sido mais ousada que a escolha de Christian Klotz, analista da Fama Investimentos. No fundo Challenger FI Ações, que rendeu 34,14% no ano passado, ele comprou Ambev, Natura, ALL Logística e Guararapes. Fez questão de passar longe das apostas tradicionais dos seus colegas. “Nada de blue chips”, brinca Klotz que se define como um fundamentalista convicto. “Preferimos mais os papéis diferenciados, que são baratos e têm chances reais de crescimento.”

Portanto, nem tente falar do trio Petrobras, Bradesco e Lojas Americanas perto dele. “Comprar Petrobras é comprar petróleo. Como até hoje não conheço quem tenha acertado o seu preço no longo prazo, vejo esse investimento mais como uma especulação”, diz. Para 2006, Klotz permanecerá afastado das ações que foram as meninas dos olhos de 2005. “Já foi a vez desses papéis, que hoje estão caros demais”, diz. Promete ficar com as áreas de construção civil, autopeças e de companhias de transporte e logística.

OPÇÃO PELO TRADICIONAL — E quanto às recentes ofertas iniciais de ações? A opinião dos gestores se divide, mas há uma forte tendência de preferirem manter-se longe das estréias neste momento. Embora tenham dado seus pulinhos fora das preferências comuns dos fundos de longo prazo, em 2005 evitaram alocar grandes recursos nos IPOs — uma estratégia que pretendem manter neste ano. Na verdade, estão cautelosos por conta dos preços dessas ações, que consideram elevados e, por essa razão, preferem esperar a poeira (e o valor do papel) baixar.

“O múltiplo dessas empresas parece ter chegado no limite”, avalia Emanuel Pereira da Silva, diretor- executivo da GAP. “Em algumas delas, os controladores estão até se desfazendo da empresa. Não consigo saber o que vem pela frente”, acrescenta. Apesar da desconfiança, Silva conta que não vai vender os poucos papéis das novatas que chegou a adquirir em 2005. O que também não significa que vai passar a comprar mais nos IPOs deste ano. Ele prefere seguir a velha cartilha de análise setorial, optando, por exemplo, pelas ações de bancos privados por acreditar na continuidade da expansão do crédito em 2006. As apostas em Petrobras também permanecem na carteira do GAP FI Ações, que fechou o ano passado com uma rentabilidade de 41,90%.

Outro clássico representante de quem permanecerá em consumo, bancos e petróleo em 2006 é o gestor da ARX Capital, José Tovar, cuja carteira fechou com uma rentabilidade de 34,20%. “O preço de Petrobras ainda é barato em relação aos das demais companhias nacionais e das estrangeiras”, avalia. “Acredito que há espaço para crescer.” Na seara do consumo, fica com Sadia, Pão de Açúcar e Ambev. E, para fechar a tríade, pretende reforçar as apostas no setor de bancos privados, que vê como um dos mais beneficiados numa eventual redução do custo de capital vindo do exterior, pelo fato de o País se aproximar da classificação do grau de investimento (na sigla em inglês, investment grade).

E o que pensa o gestor do fundo de ações puro mais rentável e com melhor índice de sharpe em 2005, o Safra Private Ações, que bateu a marca dos 52,25%? Para Valmir Rendolh, os grandes destaques deste ano serão os papéis de maior correlação com o crescimento da economia brasileira. Sim, isso nos remete ao tripé consumo, petróleo e bancos. Mas o pulo do gato do gestor está exatamente em dar atenção às famosas ações escondidas, porém, sem descuidar do movimento das grandes companhias — como sugeriram a ARX e a GAP. Junte essas duas estratégias com o foco em boa governança corporativa e um olhar mais atento aos IPOs sem descriminá-los pelo %u25A0 preço que vêm a mercado. Acrescente o respaldo de uma análise fundamentalista e conte com uma dose de sorte. Eis a receita de Rendolh para 2006.

Quem detectou as áreas de consumo, bancos e petróleo acertou em 2005 e deve repetir as mesmas apostas para o ano de 2006

MAIS UMA VEZ, O DÓLAR — Já a estratégia de Carlos Roberto Scretas, gestor de renda variável da Schroder, é continuar longe dos patinhos feios de 2005 — os setores de siderurgia e petroquímico, por exemplo — por não acreditar em nenhuma grande mudança na cotação do real frente ao dólar. Com a moeda estrangeira desvalorizada, as exportações nessas áreas devem permanecer em baixa. Para repetir a boa colocação do fundo Schroder Alpha Plus FI — que, em 2005 rendeu 42,55% —, ficará atento às recomendações vindas do seu departamento de pesquisa, comparando papéis brasileiros com os das empresas da Índia e China, por exemplo. “Essa estrutura global de análise é o nosso diferencial”, diz. Outra medida importante será a avaliação dos valores das ações. “Todo mundo fala que quer investir em companhias de consumo. Mas, com preços tão diferentes, temos de saber quem está realmente caro.”

O desafio de chegar ao valor justo de cada ação é, na opinião de Alexandre Vitorino, gerente geral de operações da Votorantim Asset, a chave do sucesso para 2006. Ele entende que a redução da taxa básica de juros da economia deve levar um maior número de pessoas à bolsa em busca de uma carteira de investimentos no médio e longo prazo. Quanto maior a procura, maior a necessidade de atenção por parte do gestor. “Nenhum ano é fácil”, avalia. O fundo Votorantim Performance em Ações foi o vice-líder no ranking dos maiores destaques em renda variável do ano passado, com uma rentabilidade de 47,55%. Assim como em 2005, bancos e petróleo têm lugar garantido no seu portfólio em 2006.

De fato, mexer em time que está ganhando quase nunca é aconselhável, principalmente num contexto econômico que não parece reservar mudanças muito radicais nos próximos meses. Por outro lado, como ter aquele ganho a mais se todos os fundos caminharem nos mesmos passos? A estratégia de cada banco precisa ser minuciosa. Num cenário em que boas condições surgem para todos de maneira igual, o desafio está justamente em perceber os momentos diferentes.


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