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Brasil adentro
Corretoras e empresas saem à caça da poupança que está fora do eixo Rio-São Paulo na busca de potenciais investimentos em ações

ed29_p038-041_pag_4_img_001Tente encontrar na sua agenda um par de dias para viajar pelo interior do Brasil neste ano de 2006. Não, isso não é um convite para promover o turismo nacional. As vantagens de incluir um destino diferente, além do eixo Rio-São Paulo, nas próximas apresentações de sua empresa esconde um motivo mais tentador. Estamos falando de R$ 1 bilhão – valor disponível nas contas bancárias de centenas de pessoas físicas espalhadas pelo País que, embora sejam potenciais investidoras em ações, ainda esperam a vez de suas cidades virarem alvo do mercado de capitais.

A cifra saiu de um estudo encomendado pela Bovespa – ao qual a Capital Aberto teve acesso –, apresentado às corretoras durante uma palestra em São Paulo no final do ano passado (veja tabela). Para saber como chegaram a esse número, é preciso estar a par de três informações. A primeira dá conta de que as cidades de São Paulo e Rio hoje respondem por R$ 496 milhões ou 72% de todo o dinheiro negociado por pessoas físicas na bolsa. A segunda, que os investidores individuais no Brasil são, na sua grande maioria, pessoas cujas famílias têm renda mensal acima de R$ 9 mil. Por fim, foi dito que, apesar de concentrarem um enorme volume de investimento, Rio e São Paulo abrigam apenas 28,5% da população de alta renda no País.

Conclusão: se os 71,5% dos ricos restantes, espalhados pelas demais cidades brasileiras, investissem como os seus pares cariocas e paulistas, a participação da pessoa física na Bovespa saltaria, proporcionalmente, dos atuais R$ 688 milhões para R$ 1,74 bilhão. Subtraindo um pelo outro, chegamos à cifra de R$ 1,05 bilhão à espera de um estímulo para ser convertida em ações.

Com base num banco de dados que relaciona a quantidade de pessoas afortunadas num determinado município e o volume de recursos destinado por elas à renda variável, o estudo foi capaz de listar as 200 cidades com mais chances de reunir futuros investidores. A intenção da Bovespa era uma só: despertar entre as corretoras presentes no evento o desejo de expandir seus escritórios pelo interior do País. Por esses cálculos, Curitiba ocuparia o primeiro lugar nesse ranking, já que 95,5% dos moradores com renda familiar semelhante à dos investidores de São Paulo não aplicam seu dinheiro em bolsa. Nessa mesma lógica, viriam Porto Alegre, Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Campinas.

Embora a pesquisa apresentada pela Bolsa tenha revelado números inéditos, a investigação sobre a existência de vida investidora fora do eixo Rio-São Paulo já vinha sendo feita por algumas corretoras. “Não me surpreendi com os números”, afirma Ricardo Binelli, diretor da Petra, que tem sede em Curitiba e uma filial em São Paulo. Há tempos ele anda pensando em abrir uma unidade em Londrina. “As pessoas físicas no Paraná são mais propensas a fazer da carteira de ações um investimento de longo prazo”, diz.

O “feeling” do empresário parece estar correto. Se desconsiderarmos as capitais, Londrina é a sexta cidade do Brasil com maior potencial para elevar seu volume de investimentos em ações, segundo o estudo da Bovespa. Perde apenas para Campinas, São Bernardo, Santos, Ribeirão Preto e Santo André. Quando perguntado se o fato de seus concorrentes agora terem descoberto o endereço de uma eventual mina de ouro no Paraná, Binelli se diz tranqüilo. “Contamos com um diferencial, que é o fato de conhecermos o comportamento do público por estarmos mais tempo no Estado.”

A Link também faz parte do grupo de corretoras que se identificou com a pesquisa. “Já vínhamos notando o interesse pelo mercado de ações dos nossos clientes no interior de São Paulo, que hoje negociam na Bolsa de Mercadorias e Futuros”, afirma Norberto Giangrande, sócio-diretor da corretora. Já a Socopa se diz pronta para cair na estrada, sobretudo, depois de ouvir a sugestão da Bovespa para a criação de uma rede de franquias. “Estamos em contato com três possíveis franqueados”, revela Homero Amaral, diretor.

 É preciso observar se as pessoas do município em questão estão culturalmente preparadas para mudar a forma de investir
Os investidores individuais de ações no Brasil são, na maioria, pessoas com renda mensal familiar superior a R$ 9 mil

RENDA NÃO É TUDO – É certo que as corretoras que chegarem antes poderão levar vantagem sobre as demais por conta do pioneirismo. No entanto, o diretor-gerente da Souza Barros, Eduardo Lobo Fonseca, faz alguns alertas aos colegas mais apressados. É preciso observar se o município está culturalmente preparado para mudar a forma de investir. Primeiro porque a identificação de um número de pessoas com alta renda no local não significa, necessariamente, uma disposição para aplicações em bolsa. “Além disso, ainda não há um estudo indicando quantas corretoras cada uma dessas cidades pode comportar”, acrescenta Fonseca.

Sim, o desafio para a regionalização do mercado de capitais vai muito além de arrumar as malas. E os obstáculos não existem apenas para as corretoras, mas também para as companhias abertas. Elas enfrentam dificuldades para chegar às cidades mais distantes, sobretudo, por não conseguirem conciliar a crescente demanda por essas visitas com a agenda de seus departamentos de Relações com Investidores. Para Milton Milioni, presidente nacional da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), a inclusão de novos destinos no roteiro de reuniões ainda é um privilégio das empresas com equipes de RI mais estruturadas. “Por enquanto, só elas têm condições de atender a essa demanda”, constata.

Imaginem, por exemplo, a saia justa para a Porto Seguro quando precisa decidir por uma programação de apresentações aqui ou no exterior. É preciso uma certa força de vontade, visto que 90% do seu capital em circulação (free float) está nas mãos dos estrangeiros. Ainda assim, conseguiram visitar, em 2005, Belo Horizonte, Brasília e Porto Alegre, fora São Paulo e Rio. “Buscar novas cidades só vai compensar quando o mercado de capitais ficar mais atrativo para o investidor brasileiro, ou seja, quando os juros caírem”, analisa Guido Lemos, gerente de RI da companhia.

A Braskem é outro caso cujo assédio dos investidores internacionais impede que se aumente a quantidade de reuniões no País. Só para ter uma idéia, neste ano, eles já receberam convites para se apresentar na Noruega, Finlândia, Suécia, África do Sul e Argentina. “Sou um dos que mais defendem que o profissional de RI deve sair do escritório e conhecer pessoalmente o seu mercado. Mas conciliar a agenda dos executivos virou uma tarefa cada vez mais complicada”, afirma o diretor de RI, José Marcos Treiger.

DISTÂNCIAS ATRAPALHAM – Uma dica para melhor compreender o comportamento das companhias brasileiras frente aos obstáculos da regionalização é observar os números divulgados pelas quatro regionais da Apimec no País – Nordeste, Brasília, Minas Gerais e Sul. Esses dados mostram que as apresentações fora do eixo Rio-São Paulo crescem a cada ano. Em 2005, foram 83 reuniões, contra 104 registradas no ano anterior. Ao mesmo tempo, os números revelam que a disposição das companhias para conhecer destinos diferentes ainda é incipiente, devido à dimensão do território brasileiro.

Somente 30 empresas visitaram outras cidades (além do Rio e de São Paulo) no ano passado. Nenhuma delas passou pela região Norte do País. No Nordeste, apenas Salvador, Fortaleza e Recife foram agraciadas com esses encontros, e a presença na região Sul se limitou às capitais dos três Estados. A exceção foi a região Sudeste, graças ao empenho da Apimec Minas Gerais, que incluiu três novas cidades na rota de visitas ao Estado e pretende adicionar municípios como Poços de Caldas, Varginha e Patos de Minas no circuito deste ano. “Considerar que só existem investidores em Belo Horizonte é uma bobagem”, desabafa Paulo Ângelo Carvalho de Souza, presidente da regional no Estado.

O diretor vice-presidente executivo do Bradesco, José Luiz Acar Pedro, é um exemplo de quem enxerga a regionalização do mercado além das capitais. Neste ano, o banco vai inaugurar sete novas rotas nas apresentações, duas delas no interior de Minas. “Dedicar uma atenção especial aos investidores das demais cidades é quase uma obrigação para um banco com uma abrangência nacional”, resume Acar. Para ele, o contato com públicos diferentes é o mais gratificante. “Tem gente que faz questão de lembrar que comprou a casa própria investindo em ações. Jamais ouviríamos esses relatos numa reunião em São Paulo.”

Quem tem planos para ampliar o número de viagens pelo Brasil neste ano é a Grendene. “Na medida em que a companhia adquire uma base acionária diversificada, contribui para uma melhor pulverização dos papéis”, avalia Doris Wilhelm, gerente de Relações com Investidores da companhia. O Itaú também tem se superado no quesito bandeirante como recordista em novos destinos. Só no ano passado, o departamento de RI da instituição visitou 13 municípios fora do eixo tradicional. Foram eles que fizeram a primeira Apimec nas cidades mineiras de Uberaba, Uberlândia e Juiz de Fora.

“Quem chega antes acaba virando uma referência para o público”, ensina Lucio Marques, supervisor de RI do banco. Apesar do empenho para marcar território, os executivos da instituição não têm idéia do quanto essas viagens vêm alterando o número de investidores pessoa física. Mas isso está longe de ser um motivo de preocupação. Eles sabem que a regionalização não pode ser vista apenas como um modo de ampliar a quantidade de acionistas de imediato. Qualquer companhia sairá no lucro se, no mínimo, conseguir passar ao mercado a imagem de transparência por não medir esforços para estar próximo do seu investidor.


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