Na Grécia antiga, uma vez por ano, o Oráculo de Delfos se abria para transmitir ao povo mensagens do Deus Apolo que praticamente ditavam a maneira de agir nos 11 meses seguintes. Com o passar do tempo, os reis e os grandes guerreiros passaram a realizar consultas individuais sempre que se viam diante de uma grande decisão. Para tanto, peregrinavam até o monte onde se localizava o oráculo, também conhecido como “umbigo do mundo”. É no mínimo curioso que, séculos mais tarde, outro local denominado “umbigo do mapa” (Omaha, que fica exatamente no centro do Estados Unidos) seja justamente a terra natal do homem que, por sua capacidade única de identificar excelentes oportunidades de investimento, é chamado de “Oráculo de Omaha”. Os peregrinos dos tempos modernos, no entanto, buscam um pouco mais do que orientação. Eles querem desvendar como pensa a sua “divindade” para, quem sabe, serem capazes de um dia tomarem decisões financeiras tão acertadas quanto as dele.
O clima lembra o de um programa de auditório. Como se apresentasse para as câmeras os jurados de um concurso de talentos, o chairman da Berkshire chama um por um os conselheiros de administração, sentados numa área reservada próxima ao palco. Quando Bill Gates é chamado, a comoção é geral. Alguns participantes mais jovens chegam a aplaudi-lo de pé. Num curto momento de total seriedade, os resultados do primeiro trimestre são apresentados, acompanhados da projeção de uma planilha de apenas quatro linhas, que detalha o faturamento e a rentabilidade de cada área de negócio. Então, num gesto que parece se repetir todos os anos, Buffett abre ruidosamente
Charles Munger, um minimalista A mente afiada do calado Charlie, 83 anos, foi o que levou Warren Buffett, sete anos mais moço, a querer tê-lo sempre por perto. O jovem Munger foi um dos únicos alunos da Harvard Law School a conseguir uma vaga sem ter passado por um curso de graduação antes. Um antigo colega de classe contou à revista Fortune que, certa vez, desafiado por um professor durante uma aula para a qual não havia preparado a leitura, ele retorquiu: “dê-me os fatos e eu lhe darei a lei”. É por essa capacidade de dar respostas certeiras, que calam qualquer interlocutor, e por uma atitude quase sempre desconfiada, que Buffett, ao ser apresentado a este outro cidadão omahense (que adotou a Califórnia como lar definitivo) em 1959, logo soube que precisava convencê-lo a trocar a carreira de advogado para se dedicar à avaliação de investimentos. Foi preciso esperar quase vinte anos para que ele abandonasse o Direito e se dedicasse integralmente à sociedade que iniciaram pouco depois de terem se conhecido. O vice-chairman da Berkshire Hathaway é também o presidente do conselho de uma de suas subsidiárias, a Westco. Assim como Buffett faz todos os anos, Munger redige uma extensa carta aos acionistas da Westco, que são amplamente lidas e estudadas. Mas eles não podiam ser mais diferentes. Buffett é expansivo e bonachão. Munger é minimalista. Enquanto o primeiro fala por minutos a fio, o segundo se limita a dizer não mais do que duas ou três curtas frases por vez. Durante a sessão de perguntas e respostas da assembléia da Berkshire, Buffett toma litros de refrigerante, diretamente da lata, e ataca sem parar um prato de doces. Munger beberica água numa taça e, não fosse pela assertividade de seus comentários, todos poderiam jurar que ele cochila enquanto o sócio tagarela. Admirador confesso do inventor Benjamin Franklin e um estudioso das teorias de Pascal, ele é um ativo filantropo. Há décadas doa montantes consideráveis para universidades e instituições da área de saúde. Suas frases diretas e cortantes são conhecidas como “mungerisms”, e boa parte delas foi reunida num livro, organizado por Peter Kaufman – Poor Charlie’s Almanack (Ed. Donning Company, 2005). Alguns dos “mungerismos” mais famosos: “O que você deve fazer se não gostar do livro? Dar de presente a alguém mais inteligente!” “Não acho que o aquecimento global seja uma grande calamidade. É preciso ser um estudante de jornalismo maconheiro para acreditar nisso.“ “Se os diretores de fundos de investimento são independentes, eu sou o bailarino principal do Bolshoi.“ |
uma lata de Cherry Coke, a sua bebida preferida. Um riso generalizado, seguido de palmas, invade mais uma vez o ginásio. Quando as perguntas começam, o tom fica mais sóbrio, sendo quebrado ocasionalmente por frases de efeito.
A outra boa pergunta vem de Marie, que tem 10 anos e vive no Kentucky. Ela participa da assembléia pela primeira vez e está interessada em como ganhar dinheiro agora para poder investir quando for mais velha. Visivelmente feliz com a oportunidade de falar no assunto, Buffett se lembra de um estudo que afirmava que o fator de maior contribuição para o sucesso nos negócios era a idade em que se começa — hipótese comprovada pelo histórico do próprio investidor, que comprou sua primeira ação aos 11 anos; aos 12, dividia com um amigo as receitas de três máquinas de fliperama;
Por onde for, quero ser seu par Quase no fim da enorme fila que se formou à frente da cabine onde eram vendidos os selos da série especial com os rostos de Buffett e Munger, um casal se destacava. De cada dez pessoas que passavam por eles, oito paravam para cumprimentá-los com entusiasmo. Mas eles também chamavam a atenção pela extravagância de suas roupas. Ela, com sapatos de verniz listrados de rosa, amarelo e azul claros. Ele, com uma cartola. Ambos trajavam blazers pretos cobertos de buttons de subsidiárias da Berkshire ou com os dizeres “eu amo a Berkshire Hathaway”. Iris e Mort November, de Cleveland, no estado de Ohio, têm 76 e 81 anos, respectivamente. Estão casados há exatos 55 e são acionistas desde 1980, quando as assembléias eram realizadas com pouco mais de 200 pessoas, num auditório localizado no prédio onde a Berkshire aluga o seu escritório. “Viemos todos os anos desde então e só deixaremos de fazê-lo quando morrermos”, diz Mort. Ele conta também que, em todo esse tempo, venderam apenas uma ação do tipo A, para ajudar a custear o curso de medicina de uma das filhas. Embora não revelem quantas ações detêm no total, eles afirmam que, desde o lançamento das B-shares, procuram ampliar a carteira sempre que podem. “Temos ações de outras nove companhias e, quando uma delas atinge um preço alvo, vendemos para comprar novas ações do tipo B”, conta o advogado aposentado. Hoje, ele e a mulher dirigem uma fundação familiar que, por meio de doações a universidades e escolas públicas, promove programas de excelência acadêmica na região onde vivem. Iris justifica que a preferência pelas ações da Berkshire se deve à simplicidade do plano de negócios, à filosofia de sempre compartilhar tudo com os acionistas e de tratar os recursos com respeito. “Aqui nunca tivemos as extravagâncias que vemos em outras corporações. É por isso que nós amamos Warren, e o seguiríamos a qualquer lugar”, derrete-se ela, apontando um broche em formato de coração. |
aos 14, adquiriu suas primeiras terras; e, aos 20, já tinha experimentado pelo menos duas dezenas de maneiras de ganhar dinheiro. “Metade do capital que comecei a investir veio dos jornais que entregava no meu bairro. Essa é uma boa opção para alguém um pouco mais velho que você, com 12 ou 13 anos.” E completou: “Há sempre alguma tarefa que as pessoas não têm vontade de fazer, mas pagariam alguém para se incumbir dela. Descubra quais são essas tarefas, se ofereça para fazê-las e poupe o dinheiro que receber. Haja o que houver, fique longe das dívidas”.
Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.
Ou assine a partir de R$ 34,40/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.
User Login!
Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.
Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais
Ja é assinante? Clique aqui