Alexandre Póvoa*/ Ilustração: Julia Padula
Todo o imbróglio envolvendo Petrobras assusta. O mercado brasileiro debateu durante anos a questão da eficiência das empresas em ambientes competitivos e da importância da governança corporativa. A própria revista CAPITAL ABERTO abriu enormes espaços para esses assuntos em suas edições e em seminários.
Os números assustam ainda mais. Queda da cotação de, simplesmente, 73% em dólares (57% em reais) no período entre 2011 e 2014. Uma destruição de valor da magnitude de R$ 250 bilhões, correspondente a aproximadamente 1,5% de todo o PIB brasileiro acumulado nos quatro anos. Vide abaixo o comparativo do desempenho da ação da Petrobras vis-à-vis ao de seus pares internacionais. Cabe ressaltar que, evidentemente, as empresas não são exatamente iguais na composição de sua produção de petróleo, derivados e substitutos, mas são obviamente comparáveis na essência.
Desempenho acionário recente das grandes petrolíferas mundiais
A tabela mostra que nem as empresas Gazprom e Lukoil — localizadas num país muito dependente do petróleo, como a Rússia, que passou por violenta desvalorização da moeda e contração da economia — sofreram perdas tão relevantes.
As demais europeias (BP e Shell) conseguiram decente valorização mesmo em cenário adverso. O grande destaque ficou por conta da alta dos papéis de companhias americanas, como Exxon e Chevron, que subiram 40% mesmo diante de uma perda de 39% no preço de seu principal produto, o barril tipo Brent. A empresa chinesa Petrochina manteve o seu valor de mercado em dólares.
O desempenho das ações da Petrobras já vinha aquém da média do setor há muito tempo. Durante os primeiros anos, a combinação de receitas e má gestão trouxe queda nos lucros da empresa: política de preços em desalinho com o mercado internacional (queima de caixa na venda de óleo importado estimada em R$ 60 bilhões em quatro anos), somada a altos investimentos físicos para expansão e baixa produtividade (apesar de tudo, o aumento do ritmo de produção sempre foi insatisfatório).
No último trimestre de 2014, porém, ocorreu a tempestade perfeita: a revelação de um enorme escândalo de corrupção, a recusa da auditoria independente em assinar o balanço da empresa e abertura de processos por investidores americanos contra a companhia. Tudo isso em meio a uma inesperada queda de aproximadamente 40% no preço do petróleo no período. Apesar da queda violenta nas cotações, a demanda pelo papel da Petrobras continua deprimida, por conta dos desdobramentos imprevisíveis e da reação virtualmente inexistente do governo para sinalizar uma direção positiva ao mercado — como, por exemplo, mudanças no alto escalão e/ou no conselho de administração. Sem trocadilhos, gasolina e pólvora juntas: mercado de petróleo despencando + situação frágil de confiança na empresa = queda de 45% em reais no valor das ações. A queda, dessa vez, foi seguida pelas companhias de óleo do mundo, mas em magnitude muito menor do que o observado no caso da Petrobras.
Constatar que o preço da ação caiu muito é um fato. Dizer que ela está barata e vale a pena comprá-la ainda é uma aposta. É preciso que, o quanto antes, alguém acenda o holofote sobre o futuro da empresa para podermos entender o comportamento futuro dos dois fatores que trazem valor a qualquer companhia: eficiência (mais fundamental com o petróleo a US$ 50 o barril) e governança corporativa. Quem se arrisca?
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