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Um Pão francês
Alta dos papéis da CBD revela um mercado otimista com a passagem do bastão para o sócio Casino

, Um Pão francês, Capital AbertoO Pão de Açúcar tem uma vida nova com data para começar: 22 de junho. Nesse dia, o sócio Casino comprará uma ação do grupo pelo valor simbólico de R$ 1 e assumirá parcela majoritária na Wilkes Participações, sociedade que controla a Companhia Brasileira de Distribuição (CBD), mais conhecida como Pão de Açúcar. O Pão passará, assim, a ser reconhecidamente francês, embora, teoricamente, já o fosse desde 2005. O acordo de acionistas assinado pelo Casino e por Abilio Diniz naquele ano previa a mudança de comando, que, agora, US$ 1 bilhão (pagos pelo controle) e sete anos depois, vai se concretizar. Como as ações da CBD estão se comportando à espera do novo sócio? Muito bem. Nas 52 semanas encerradas em 23 de março, a Bolsa acumulou perda de 2,9%, mas as preferenciais do Pão de Açúcar subiram 31,8%. Várias casas de pesquisa estão, inclusive, revisando suas estimativas para os papéis. Motivo: o preço–alvo, ao redor de R$ 84, já foi atingido.

A assunção do controle pelo sócio francês não irá alterar o plano de voo da companhia, acreditam os analistas. Aumentar a venda de produtos com marca própria e investir em minimercados, com foco em perecíveis, na região Sudeste, continuarão sendo os objetivos para este e os próximos dois anos. Ainda assim, o Casino tem um desafio considerável a sua frente: convencer o mercado de que a estratégia de negócios da companhia será mantida e o contrato de acionistas, firmado entre Casino e Abilio Diniz, cumprido rigorosamente. Ao mesmo tempo, caberá ao varejista assumir a gestão e o comando do grupo, reduzindo paulatinamente o peso e a influência de Abilio Diniz. Tudo isso, claro, sem produzir solavancos, para bem deles próprios e dos investidores.

O acordo entre as partes estipula pelo menos três outros passos para a consolidação do Casino no poder. O primeiro será dado até o dia 14 de junho, quando uma assembleia da Wilkes vai eleger o novo presidente do conselho. Indicado pelo Casino, ele será, provavelmente, Jean–Charles Naouri, presidente da companhia francesa desde 2005 e responsável por uma guinada bem–sucedida nos negócios do grupo. O Casino passou a apostar em lojas de tamanho menor, com foco em conveniência e serviços. Hoje, menos de 30% do seu resultado depende do desempenho dos hipermercados — bem diferente do Carrefour, que realiza 62% de seu faturamento nos hipers. A experiência tem mostrado que lojas menores resultam em rentabilidade superior. O Casino simplesmente fechou estabelecimentos em vários países europeus, como Holanda e Polônia, e nos Estados Unidos. Concentrou sua expansão no Sudeste Asiático e na América Latina. Atualmente, metade das vendas do grupo é feita nas lojas do exterior, que respondem por dois terços do faturamento.

No Brasil, o plano estratégico da CBD contempla, de certa forma, o foco em lojas pequenas. Prevê, sim, a construção de hipermercados, no Nordeste e Centro–Oeste do País, mas também dá destaque para os minimercados (a marca é Minimercado Extra) nos principais centros urbanos do Sudeste. Há uma aposta forte, portanto, em lojas de tamanho diminuto, com foco em perecíveis, atendendo a uma demanda do consumidor que busca alimentação saudável com comodidade e praticidade.

As perspectivas para o negócio são animadoras. Futuramente, o balanço da CBD deverá capturar as sinergias obtidas, estimadas em cerca de R$ 1,5 bilhão, com a compra do Ponto Frio e das Casas Bahia, observa Cauê de Campos Pinheiro, da SLW. Os dois negócios foram realizados em 2009 e ajudaram a catapultar o valor de mercado da CBD, que, hoje, vale 149,9% mais que em 2005. De todo modo, é só neste ano que as aquisições vão passar pela apreciação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “O máximo que pode ocorrer é a determinação da venda de algumas lojas em microrregiões onde a companhia detenha uma fatia muito grande do mercado. Mas nada que afete o negócio”, avalia Julia Monteiro, da Corretora Ativa. A aprovação pelo Cade também abre caminho para o avanço da empresa de e–commerce do grupo, que, como foi sinalizado em teleconferências, poderá ser cindida e levada à Bolsa individualmente nos próximos anos.

O cenário é animador não só para os sócios da CBD mas, também, para os do Casino. Detalhe essencial: até agora, o conglomerado francês consolidava em seu balanço pouco mais de 44% do Pão de Açúcar. A partir do dia 22, quando assumirá o controle, poderá consolidar, linha por linha, 100% da empresa brasileira em seu balanço. O impacto nas contas do grupo será, nas palavras de um analista, como sangue novo nas veias, reduzindo sua alavancagem.

O impacto da CBD nas contas do Casino será como sangue novo nas veias, reduzindo sua alavancagem

VOO TRANQUILO — As ações do Pão de Açúcar ainda podem vir a sofrer se a transição de comando for vista pelo mercado como um retrocesso em relação ao realizado até agora. Mas esse não é o cenário que os analistas ouvidos pela CAPITAL ABERTO esperam. Maria Cristina Costa, da Lopes Filho, prevê o cumprimento do contrato de acionistas e a continuidade da estratégia, inclusive com a profissionalização da gestão. A reorganização da área executiva, “um trabalho desenvolvido em conjunto por Abilio e Casino, tem sido muito bem–sucedido”, salienta. Por diversas vezes, Naouri elogiou publicamente o desempenho do atual presidente do Pão de Açúcar, Enéas Pestana, que assumiu o posto em 2009. Na ocasião, em nota, Abilio informou que a escolha marcava o término do processo de profissionalização da gestão do grupo. E Pestana pode ser uma peça importante no segundo passo da consolidação do comando do Casino.

Essa etapa começará provavelmente em agosto, quando uma assembleia da CBD será realizada para eleger o novo conselho, a ser composto de 14 membros. O contrato de acionistas estabelece que ele terá sete indicados pelo Casino e apenas três por Abilio Diniz. No momento, cada um tem cinco conselheiros. O acordo de 2005 diz ainda que os demais quatro integrantes do conselho, ditos independentes, serão nomeados em comum acordo entre Casino e Abilio. O contrato reza também que Abilio vai presidir o conselho da CBD e caberá a ele escolher o novo presidente da companhia a partir de uma lista tríplice elaborada pelo Casino. Um dos nomes dessa lista, os elogios públicos indicam, pode ser o de Pestana.

Além de presidir o conselho — que, no Pão de Açúcar, se reúne pelo menos uma vez por mês e tem papel ativo na definição dos negócios e da estratégia —, Abilio tem assegurado no contrato o poder de veto em ações que venham a diluir o seu cacife acionário. Ele pode vetar, por exemplo, qualquer reestruturação acionária da CBD ou da Wilkes que ocorra por aporte de capital em bens, incorporação de ações, cisão total ou parcial. Isso inviabiliza qualquer possibilidade de o Casino consolidar no Pão de Açúcar suas participações em outros países da América do Sul, por exemplo.

’CHEGA PRA LÁ’ À FRANCESA — Abilio tem poder de veto também na política de dividendos — ele possui um caminhão de 22,1% das PNs do Pão de Açúcar. Também pode vetar o cancelamento da negociação de ações preferenciais ou ordinárias da CBD em Bolsa. Assim, o Pão de Açúcar só migrará para o Novo Mercado, que permite apenas papéis ordinários, se a proposta for construída de uma forma que não prejudique os interesses de Abilio. Não há dúvidas, portanto, de que ele manterá o poder na nova configuração de comando do grupo. Mas, aos poucos, o Casino tentará reduzir a sua influência.

Um exemplo: em meados de março, um grupo de empresários de alimentos, de bebidas e do setor de limpeza fornecedores das marcas Taeq e Qualitá, as marcas próprias do Pão de Açúcar, foram recebidos pelo Casino, na França. Eles ficaram uma semana no país, conheceram operações de várias das companhias fornecedoras francesas, visitaram a sede do Casino e, claro, ouviram as novas diretrizes para a divisão de marcas próprias no Brasil. A ideia do Casino é ampliar as vendas desse segmento. Na França, as seis marcas próprias do Casino correspondem a 40% das vendas. No Brasil, Taeq e Qualitá somam 8%.

O convite aos empresários tem, segundo os analistas, um duplo sinal. O primeiro é a capacidade de fazer, atrair e consolidar parcerias com agentes locais sob a gestão Casino no Pão de Açúcar. A segunda é criar uma ponte direta, sem a intermediação obrigatória de Abilio, entre o Casino e os fornecedores brasileiros do Pão de Açúcar. Seria, sob essa ótica, um movimento no sentido de fazer o peso de Abilio diminuir.

FUTURO SEM ABILIO? — O terceiro passo previsto dependerá da vontade do próprio Abilio e poderá ser dado somente mais adiante: entre 22 de junho de 2014 e 22 de junho de 2022. Esse é o período em que ele terá o direito de transferir, graças a uma opção de venda que detém, suas ações ordinárias para o Casino. A fórmula de cálculo do valor está fixada no contrato e, na prática, vincula o preço ao valor de mercado da companhia. De certa forma, essa condição serve como um inibidor para eventuais escaramuças entre os acionistas. Afinal, uma eventual nova disputa pelo destino da CBD, como ocorreu com a tentativa de Abilio de fazer um acordo com o Carrefour sob as bênçãos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), afetaria o desempenho das ações e, em decorrência, o bolso de ambos. A partir de agora, Casino e Abilio têm muito a perder com manobras descuidadas.


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