Pesquisar
Close this search box.
O repouso do dragão
Com o recuo das ameaças de alta da inflação e dos juros, analistas já descartam uma migração dos investimentos para a renda fixa

, O repouso do dragão, Capital Aberto

Nos primeiros meses de 2010, uma euforia em torno do ritmo de recuperação econômica tomou conta do mercado financeiro global. Apostando na retomada do crescimento, e no consequente aumento da inflação, gestores de fundos montaram estratégias confiando numa alta de juros significativa, que inibiria um eventual superaquecimento. No segundo trimestre, o cenário já se apresentou bem diferente. A preocupação com a inflação é deixada um pouco de lado, para dar lugar ao receio de uma nova estagnação.

As políticas fiscais e monetárias adotadas após a escassez de crédito em 2008 tinham o intuito de evitar uma depressão mundial. Trouxeram a recuperação, e os mercados logo se agitaram, acreditando numa curva ascendente acentuada.
“Os países deixaram rapidamente o cenário recessivo para trás. A recuperação foi importante, mas não está consolidada ainda”, avalia Roberto Padovani, estrategista-chefe do Banco WestLB.

Na avaliação de economistas, o mundo não caminha para um crescimento exagerado, daqueles em que a infraestrutura não comporta a demanda e logo se percebe a elevação dos índices inflacionários. Especialmente nos países desenvolvidos, os mecanismos aplicados na busca de uma saída para a crise começam agora a ser revistos. Na Europa, as reduções no déficit público programadas para este ano na Grécia e na Espanha, por exemplo, somam o equivalente a US$ 187,5 bilhões de dólares.

O principal motor para o mercado de renda variável é o crescimento. E, nesse aspecto, o Brasil mantém-se em posição de destaque

As medidas de ajuste fiscal incluem desde congelamento de aposentadoria até corte de benefícios como o auxílio-maternidade, que, na Espanha, chegava a € 6 mil por ano para quem tivesse filhos em idade escolar. Com França, Alemanha, Portugal e outros países se movimentando para atingir a meta definida pelo Banco Central Europeu (BCE) de alcançar gastos correspondentes a apenas 3% do PIB, estima-se que os cortes nos gastos públicos dupliquem. Sem falar no Reino Unido, que já anunciou reduções ao redor de US$ 10 bilhões. “A Europa caminha para um corte total de US$ 500 bilhões no déficit até 2011”, projeta Padovani.

Essa pisada no freio afeta salários e benefícios de boa parte da população. As restrições ao consumo não tardam a puxar o freio de mão da economia. “Os investidores globais acordaram para esse fato e já começam a rever as estratégias de aporte em títulos atrelados a juros para compor suas carteiras”, afirma Padovani.

DRAGÃO ORIENTAL — Um estudo feito pelo banco WestLB aponta que, até abril, países que representavam 85% do produto interno bruto (PIB) global sinalizavam tendência de inflação. Porém, essa alta não é considerada relevante, na medida em que reflete o comportamento das economias emergentes. “Existe uma distorção, puxada principalmente pela Índia, com uma inflação até abril na casa dos 16%”, explica Padovani. Com projeções de inflação da ordem de 6%, no caso do Brasil, e de 8%, no da China, só esses três mercados que compõem o Bric já levariam os índices inflacionários para margens estratosféricas.

Na avaliação de especialistas, os emergentes têm excesso de crescimento e esbarram em questões estruturais internas. “Há uma aceleração na inflação, mas ela não é explosiva”, comenta o estrategista do WestLB. O dragão da inflação preocupava mais antes da crise, quando os países cresciam muito acima de seus potenciais. Para completar a nitroglicerina inflacionária, havia o que os mercados costumam definir como um choque de commodities. Os preços dessas mercadorias — principalmente o do petróleo, que encostou em US$ 150 o barril — estavam supervalorizados, em função da forte demanda por produtos capazes de manter a locomotiva da infraestrutura mundial em alta velocidade. Tanto que o Brasil chegou perto dos 6,5% de inflação. Hoje, a economia cresce dentro do seu limite. As commodities estão subindo, mas nem lembram os preços de 2008.

FIM DAS “BONDADES” — Em alguns países, estímulos fiscais e monetários começaram a ser revistos. Exemplos: no Brasil, o “pacote de bondades” como redução de IPI e outros impostos; na Alemanha, foi oferecido um bônus para quem trocasse de carro; e, nos Estados Unidos, bônus para quem adquirisse uma casa nova. Essas estratégias, que funcionaram por algum tempo, passam agora por mudanças. Medidas recentes de redução de déficit público foram tomadas, especialmente na Grécia e na Espanha, onde se espera uma elevação do recolhimento de impostos. Na área de política monetária, países como Brasil, Índia, Austrália e Israel, por exemplo, sinalizam uma subida dos juros.

A elevação dos juros, entretanto, não é generalizada. Nos Estados Unidos, a inflação está abaixo do padrão histórico, e a preocupação ainda é com o crescimento. “A maioria das economias desenvolvidas não tem risco significativo de inflação. A demanda por ativos ‘mais seguros’ está sendo impulsionada por preocupações sobre a dívida pública e a desaceleração econômica na Europa”, confirma Andrew Bernard, diretor do centro de economia e negócios internacionais da Tuck School of Business, da Dartmouth College, nos Estados Unidos.

Os incentivos concedidos à economia norte-americana deverão ser revistos somente no fim do ano, o que pode manter os juros estáveis ao longo de 2010. Com a maior parte das economias avançadas apresentando alto grau de ociosidade no uso de seus fatores produtivos (capital e trabalho), é improvável que surjam pressões inflacionárias importantes no curto prazo.

RENDA FIXA DOMADA — Como a expectativa de alta contundente dos juros parece ter ficado para trás, analistas descartam um deslocamento dos fluxos de investimentos do mercado acionário para o mercado de renda fixa. Na visão de Jankiel Santos, economista-chefe do BES Investimentos, isso só se concretizaria se a inflação mostrasse sinais de que sairia do controle e demandasse uma ação bastante agressiva por parte dos bancos centrais ao redor do mundo. Para Santos, a elevação do grau de aversão a risco decorre do nebuloso quadro internacional. “As operações de captação via mercado acionário têm sofrido com o processo de deterioração da confiança dos investidores internacionais, derivada dos problemas fiscais enfrentados por diversos países europeus”, completa o economista-chefe do BES.

O principal motor para o mercado de renda variável é o crescimento. E, nesse aspecto, o Brasil mantém-se em posição de destaque dentre os mercados emergentes. Um dos primeiros pontos favoráveis para o País é o fato de ele ser uma democracia ocidental, o que naturalmente já é uma vantagem em relação aos demais componentes do Bric. Se o potencial de crescimento — projetado oficialmente em 5,5% pelo governo, com chance de ultrapassar os 6% — é menor que o chinês e o indiano, pelo menos está acima da média mundial de 3% prevista para 2010.

“O componente psicológico de inflação é relevante. Mas acho que o aumento de taxa de juros e a inflação estão sob controle”, opina Paulo Sérgio Dortas, sócio da área de IPOs da Ernst & Young. Dortas identifica um mercado de consumo ávido por carros, casas e ensino. Mas, segundo ele, o governo está cuidando disso no tempo certo, para que a oferta e a demanda se equilibrem.


Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.


Ou assine a partir de R$ 34,40/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.


Você está lendo {{count_online}} de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês

Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.

Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais


Ja é assinante? Clique aqui

mais
conteúdos

APROVEITE!

Adquira a Assinatura Superior por apenas R$ 0,90 no primeiro mês e tenha acesso ilimitado aos conteúdos no portal e no App.

Use o cupom 90centavos no carrinho.

A partir do 2º mês a parcela será de R$ 48,00.
Você pode cancelar a sua assinatura a qualquer momento.