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Socialmente ativos
Capital investido por fundos que aliam bom-mocismo a retorno financeiro pode chegar a US$ 1 trilhão em 2020
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Ganhar dinheiro fazendo o bem não é exatamente uma novidade no mercado de capitais. Os fundos de investimento socialmente responsável (SRI, na sigla em inglês) têm destaque no mundo das finanças desde meados da década de 1990, seja aplicando em companhias adeptas de boas práticas sociais e ambientais seja infernizando a vida de empresas politicamente incorretas. Nesses casos, ressalte-se, ganhar dinheiro sempre vem antes de promover benfeitorias. Mas uma nova mentalidade de investimento começa a mudar essa lógica: é o denominado “investimento com impacto” (em inglês, impact investing).

Para fundos dessa estirpe, ter saldo social ou ambiental positivo é tão importante quanto lucrar financeiramente. Eles procuram investir em negócios cujos desdobramentos para o bem comum sejam concretos. Em vez de comprar participações em companhias que se preocupam em não poluir rios, por exemplo, os fundos de investimento com impacto injetam recursos naquelas que desenvolvem projetos de descontaminação. Em vez de riscar da lista de ativos bancos que emprestam dinheiro sob condições predatórias, esse tipo de investidor se preocupa em apoiar as instituições financeiras que oferecem acesso a capital aos mais pobres.

“Enquanto os SRI buscam minimizar efeitos sociais e ambientais negativos, os fundos de impact investing agem proativamente para gerar benefícios nessas duas searas”, diz Miguel Herrera, diretor de investimentos da Acción International, instituição sem fins lucrativos que tem como missão oferecer condições para pessoas de baixa renda saírem do estado de pobreza. Para isso, concede empréstimos a microempresas e dá cursos de empreendedorismo. “Mais do que socialmente responsáveis, somos socialmente ativos”, afirma.

A Acción surgiu na Venezuela e hoje está sediada na cidade norte-americana de
Boston, Massachusetts. Possui um fundo de venture capital, o Frontier Investment Group, que investe a partir de US$ 1 milhão, em média, em empresas que apresentam, além de potencial para crescer, a possibilidade de melhorar a qualidade de vida das pessoas que a circundam. Criado em 2008, o fundo tem atualmente um patrimônio de US$ 20 milhões e visa aos setores de apoio à indústria de microcrédito. Até o fim de 2012, o plano é captar mais US$ 75 milhões.

Em 2010, o Frontier injetou US$ 2 milhões na GloboKasNet, empresa especializada em soluções para pagamentos eletrônicos e focada na expansão da oferta de serviços bancários a comunidades carentes de países em desenvolvimento. A companhia recruta, treina pessoal e equipa pontos comerciais tradicionais, como farmácias e mercados, para prestarem serviços bancários. No Peru, desde que a GloboKasNet começou a atuar, em 2008, o número de correspondentes bancários atingiu 1,2 mil, com a perspectiva de chegar a 2,5 mil no fim de 2011. “Milhões de pessoas, principalmente de áreas de pouca infraestrutura, são atingidas por esse serviço”, conta Herrera.

Investidores de impacto buscam negócios cujos resultados para o bem comum sejam concretos

ATENTOS AOS NÚMEROS — Engana-se quem pensa que, pelo fato de os investidores com impacto darem tanta atenção aos retornos sociais, há um relaxamento quanto à resposta financeira dos empreendimentos. Uma pesquisa divulgada no fim de 2010 pelo banco J.P. Morgan revela que a expectativa de rentabilidade desses fundos pode ser inclusive maior. É o que ocorre, por exemplo, com fundos de private equity dessa modalidade, conforme o estudo. A maior exigência seria reflexo da chegada de novos investidores a essa categoria. “O impact investing, historicamente, teve sua capitalização ligada a fundações filantrópicas, mais dispostas a trocar retornos financeiros por impacto social. Muitos dos novos entrantes possuem maior motivação e, em alguns casos, um dever fiduciário para equilibrar o social com o financeiro”, escrevem os autores.

Um dos investidores que se encaixam nesse perfil é a TIAA-CREF, gestora norte-americana de fundos de previdência, com patrimônio da ordem de US$ 450 bilhões (em dezembro de 2010). O aumento da exposição a investimentos com impacto foi definido como uma das três metas principais do planejamento em SRI da instituição no ano passado. Em 2010, foram alocados mais de US$ 800 milhões em ativos com esse perfil, especificamente no setor imobiliário de baixo custo, em desenvolvimento sustentável e microfinanças. Na TIAA-CREF, os investimentos podem ocorrer tanto diretamente quanto por intermédio de fundos administrados por terceiros. “Entramos no segmento porque nossos pensionistas manifestaram essa vontade”, disse em entrevista à CAPITAL ABERTO Scott Budde, diretor do departamento de investimento social.

A entrada da TIAA-CREF nesse nicho se deu após pesquisas apontarem que seus clientes apoiam fortemente a ideia de que os investimentos reflitam os valores do fundo. Os temas mais importantes, na opinião dos cotistas, são direitos humanos, desenvolvimento econômico e meio ambiente. “Nosso trabalho é transformar o interesse de nossos pensionistas em programas e produtos, e o impact investment é uma das modalidades que melhor se encaixam nos valores da TIAA-CREF”, observa Budde. Confirmando o que foi citado pelo trabalho do J.P. Morgan, o dever fiduciário dos dirigentes da TIAA-CREF não permite abrir mão dos bons resultados financeiros, por mais que as intenções sociais sejam boas. “Só entramos em projetos de impact investing cujos retornos sejam competitivos com empreendimentos tradicionais”, garante Budde.

“A maior parte de nossos investidores não aceita abdicar de bons ganhos em nome do impacto social”, reforça Anna Kanze, chefe de investimentos da Grassroots Capital Management, gestora de fundos de investimentos com impacto baseada em Nova York. Para ela, isso não chega a ser um problema. “Observando o comportamento das empresas em nosso portfólio, dificilmente um investimento bem-sucedido em seu aspecto social ou ambiental também não o é na esfera financeira”, sustenta. Os números confirmam essa tese. Dados do Global Impact Investing Network (GIIN), organização que congrega investidores com essa proposta em todo o mundo, mostram que esse tipo de investimento entrega ganhos de 8% a 12% ao ano.

IMPACTOS LOCAIS — No Brasil, o impact investing dá os seus primeiros passos. A Vox Capital, criada em 2009 por Antonio Moraes Neto, neto do empresário Antonio Ermírio de Moraes, e dois sócios, é uma das precursoras nessa área. Sua missão é investir em empresas que fornecem soluções para a base da pirâmide social brasileira. Outro exemplo é o Fundo de Investimento em Riqueza Social para Todos (First), cogerido pela firma mineira de private equity FIR Capital e o Instituto Hartmann Regueira. Marcus Regueira, um dos sócios da FIR Capital, relata que o fundo está em fase de captação e persegue a meta de alcançar R$ 200 milhões de patrimônio. “O First investirá em projetos voltados ao atendimento de pessoas com renda de até três salários mínimos, nas áreas de educação, saúde, energia e agricultura”, define Regueira. Para ele, esses são os setores mais carentes, que oferecem oportunidades de ganhos sociais sem abrir mão dos financeiros.

O País também é alvo de fundos estrangeiros de investimento com impacto. A gestora britânica Origen Private Equity lançou em junho um fundo voltado ao setor imobiliário de baixa renda no Brasil. A carteira está em fase de captação, e o plano é obter US$ 80 milhões de capital comprometido até o fim do ano, segundo David Palumbo, diretor do fundo. A ideia é financiar projetos de construção de moradias em Natal (RN), que buscarão o suporte do Minha Casa, Minha Vida, o programa do governo federal para financiamento de habitação para famílias com renda mensal de até R$ 1.395. “Em vez de tratar os pobres como coitados que necessitam de caridade, procuramos vê-los como clientes. Isso traz retornos financeiros e também confere dignidade a essas pessoas”, teoriza Palumbo.

MÉTRICAS PARA AVALIAÇÃO — A despeito de todas as perspectivas positivas em torno do impact investing — o J.P. Morgan estima que o capital investido por essa indústria poderá atingir até US$ 1 trilhão em 2020 —, há obstáculos a serem transpostos. O principal limitador de crescimento, de acordo com o levantamento, é a falta de transparência e credibilidade na forma como os fundos definem e reportam o desempenho social e ambiental de seus investimentos.

Para melhorar a qualidade das informações, o GIIN vem trabalhando pela adoção unificada de seu padrão de análise de dados de impacto social, o Impact Reporting and Investment Standards (Iris). O modelo, finalizado em 2010 com o suporte técnico das consultorias Deloitte e PwC, estabelece uma série de indicadores. Por exemplo, o número de pessoas ou organizações que, após o investimento, passaram a ter acesso a determinado produto ou serviço. Além disso, a entidade vem desenvolvendo uma metodologia de rating voltada a esse tipo de investimento, o Global Impact Investing Rating System (GIIRS). A ideia é que essas iniciativas forneçam mais segurança aos investidores. Afinal, boas intenções não bastam para quem quer chegar ao céu deixando um bom patrimônio.


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