Pesquisar
Close this search box.
Inflação americana pode dificultar a vida do Banco Central
Mercados aguardam PCE hoje para calibrar as expectativas sobre o juro dos EUA e reforçar as apostas em corte de 0,50 ou de 0,25 pp na taxa Selic
Inflação americana, Inflação americana pode dificultar a vida do Banco Central, Capital Aberto

Os dados da inflação nos Estados Unidos em março, a serem conhecidos nesta sexta-feira (25), devem ser um bom aquecimento para mais uma reunião do banco central americano, o Fed, marcada para a próxima quarta-feira (1°). A manutenção do juro na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano é considerada certa por 10 entre 10 economistas, mas o tom do comunicado dos membros do Fed após o encontro começa a ser escrito hoje com a divulgação do Personal Consumption Expenditures (PCE, principal indicador da inflação no país). Também nesta sexta será conhecido o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), mas sem o mesmo potencial de impacto. A incerteza quanto à política monetária americana tem afetado o fluxo de ativos globais, fortalecendo o dólar e dificultando, para emergentes, a atratividade de recursos dos investidores.

Hoje, segundo dados da plataforma Investing.com, a probabilidade de corte no juro só ultrapassa 50% a partir da reunião do Fed de setembro. Feita com base nos preços dos Fed Funds de 30 dias, a projeção indica 67,9% de probabilidade de corte no juro em 18 de setembro. Na reunião da próxima semana, a probabilidade de redução é marginal, de apenas 0,4% e mesmo no encontro do dia 12 de junho fica em apenas 13,9%. O Fed tem mantido a taxa de juros inalterada desde julho do ano passado, depois de aumentos totais de 525 pontos-base a partir de março de 2022.


Evite conflitos entre minoritários e controladores com o curso Direitos dos Acionistas


Os dados do PCE ganharam ainda mais relevância após o número do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre e da inflação implícita do indicador terem sido conhecidos na quinta-feira (25). A economia expandiu a uma taxa anualizada de 1,6% no trimestre, informou o Departamento de Comércio, um ritmo de crescimento abaixo do que as autoridades do banco central dos EUA consideram como a taxa de crescimento não inflacionária, de 1,8%. No quarto trimestre ao ano passado, a economia havia avançado 3,4%. Por outro lado, a inflação aumentou, com o índice de preços – excluindo alimentos e energia – subindo 3,7% depois de alta de 2% no quarto trimestre. A meta do Fed é 2%.

Inflação americana, Inflação americana pode dificultar a vida do Banco Central, Capital Aberto

“Tivemos o PIB americano abaixo do esperado, mas a inflação que vem implícita dentro do PIB com os núcleos acima. O número a ser conhecido hoje (PCE) tem um potencial muito grande de dar o ritmo do mercado nas próximas semanas. As apostas sobre a decisão do Fed vão estar muito focadas neste índice de preço para o consumo dos americanos”, comenta Cristian Pelizza, economista-chefe da Nippur Finance. “O contexto externo suavizou um pouco na última semana, mas a inflação doméstica americana segue como um problema.”

A expectativa do mercado para o PCE é de uma taxa de 0,3% referente ao mês de março, o que resultaria em um acumulado de 2,6% para os últimos 12 meses. “Caso o dado venha em linha com o projetado, haverá o indicativo de que o núcleo inflação americana está seguindo uma trajetória decrescente, apesar dos obstáculos, em direção à meta de 2%”, diz Isabela Bessa, economista especialista em investimentos offshore da Warren. Isabela avaliou também a possibilidade de uma surpresa negativa, com o indicador acima do previsto. “Se isto ocorrer é muito provável que aconteça um adiamento do início do ciclo de cortes da taxa de juros americana para o último trimestre desse ano. O presidente do Fed, Jerome Powell, já anunciou uma possível manutenção da taxa de juros nos patamares atuais se necessário.”  

A dificuldade em controlar os indicadores de preços na economia americana nos últimos meses ocorreu, principalmente, pela força do mercado de trabalho e do setor de serviços e moradia que podem estar arrefecendo. “A expectativa é de desaceleração, face a menor evolução dos gastos pessoais mensais, para 0,6%, de 0,8% anterior, mesmo com o crescimento da renda de 0,5%, de 0,3% anterior, diante da boa performance do mercado de emprego”, explica Ricardo Martins, economista-chefe da Planner Investimentos.

Apesar da elevada expectativa para o PCE desta sexta, Martins ainda vê o Fed mantendo a cautela nas próximas semanas e aguardando mais indicadores. “O Fed ainda não terá condições de ser explícito a esse ponto e afirmar um adiamento para 2025, mesmo porque os PMI’s (indicador de atividade) preliminares de abril trazem luz a uma possível desaceleração mais perceptível que não se esperava diante do consenso projetado e pode ser uma sinalização favorável aos próximos PCE’s”, comenta. O PMI (índice geral de compras) preliminar de Serviços de abril caiu a 50,9 pontos, vindo de 52,7 pontos em março, enquanto o PMI Industrial preliminar já está no campo de retração, de 49,9 pontos, vindo de 51,9 pontos. “Agora, se houver surpresa no PCE de hoje, o Fed continuará reafirmando o discurso hawkish diante dos riscos iminentes, uma desinflação ainda sem sustentação confirmada e, para isso, a manutenção da taxa de juros por prazo mais longo será o recado.”

Para o analista da VG Research, Guilherme Morais, a probabilidade de manutenção do juro americano inalterado neste ano é baixa, de apenas 10%, segundoo CME Group. “A maior probabilidade é do primeiro corte na reunião de setembro. Acredito que o mercado permanecerá com a narrativa de que serão realizados cortes nos juros este ano, mesmo que os dados de inflação do mês sejam maiores do que o esperado”, analisa Morais. “A depender do resultado, o que pode ocorrer é ser novamente postergada a data de corte. A decisão do Fed e as falas de Powell irão dar maiores evidências ao mercado na próxima semana.”

Inflação americana, Inflação americana pode dificultar a vida do Banco Central, Capital Aberto

Inflação brasileira em segundo plano

Também nesta sexta-feira será conhecido o IPCA-15 de abril, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A expectativa do mercado gira de 0,29%, desacelerando em relação aos 0,36% anteriores. O dado é importante, mas tem pouco impacto na expectativa de novo corte na taxa Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) nos dias 7 e 8 de maio.

Com a redução dos juros domésticos já em curso e uma Selic a 10,75% ao ano, o mercado olha mais para o comportamento da inflação americana e do Fed do que para dados locais. A piora global no último mês, com a resiliência da economia nos EUA, sinais de que o Fed não irá cortar no primeiro semestre a taxa doméstica e conflitos no Oriente Médio, que afetam a cotação do petróleo, levaram a um recálculo na rota da Selic.

Uma taxa terminal abaixo de dois dígitos e um corte de meio ponto no próximo Copom já não são tão certos quanto há um mês. “Se a inflação doméstica vier fora da expectativa não muda tanto. O corte virá e deve ficar entre 0,25 ou 0,5 ponto”, conta Pelizza. “Mas, como eu disse, o que pesa mais ainda é Estados Unidos. E o número lá fora vai determinar também a nossa decisão.”

O economista lembra que quanto menor a diferença entre o juro no Brasil e dos Estados Unidos pior para o emergente. “Se o nosso diferencial dos juros começar a encurtar demais, o dólar vai ganhar muita força diante do real. Neste caso, começa a chegar outro tipo de pressão no cenário doméstico. Por isso, o BC fica atento ao juro americano e deve segurar um pouco os cortes.” No mercado de juros futuros, lembra Pelizza, é alta a correlação entre o DI de 10 anos e os Fed Funds de mesmo prazo. “Quando um sobe o outro tende a acompanhar o movimento.”

Bessa, da Warren, acrescenta outro fator que reforça as apostas em um ritmo menor de cortes pelo Copom. “Dentro desse cenário, vemos que no curto prazo é esperado um cenário mundial com pressão inflacionária. A nível Brasil, a principal preocupação é o descontrole dos gastos públicos. Nossas atenções também se voltam parta os conflitos no Oriente Médio e os possíveis impactos no preço do petróleo.”

Pelizza concorda com o componente dos gastos públicos que também pesa. “A inflação em março no Brasil foi bem moderada. Mas, lá fora, o estresse do mercado com os juros, com a inflação americana, com a guerra e aqui a mudança de meta fiscal, tudo isso somado gerou um clima muito ruim no mercado e a expectativa passou a ser mais de um corte de 0,25”, diz o economista. “Agora o que pesa mesmo para chegar à expectativa de um juro abaixo de dois dígitos aqui é o juro americano. Eu acho que dá para ter uma Selic abaixo de 10%, mesmo com juros um pouquinho mais fortes lá, mas é bem difícil.”


Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.


Ou assine a partir de R$ 34,40/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.


Você está lendo {{count_online}} de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês

Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.

Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais


Ja é assinante? Clique aqui

mais
conteúdos

APROVEITE!

Adquira a Assinatura Superior por apenas R$ 0,90 no primeiro mês e tenha acesso ilimitado aos conteúdos no portal e no App.

Use o cupom 90centavos no carrinho.

A partir do 2º mês a parcela será de R$ 48,00.
Você pode cancelar a sua assinatura a qualquer momento.