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Guia do pessimista para os riscos econômicos globais em 2024
Na contramão da onda de otimismo do mercado, a Bloomberg pergunta: o que pode dar de errado no mundo? E nós também nos debruçamos sobre os riscos para o Brasil.
Bloomberg, Guia do pessimista para os riscos econômicos globais em 2024, Capital Aberto

A maior parte das análises indica um ano muito positivo em termos globais sob diversos aspectos. A perspectiva para muitos é de uma aterrissagem suave das economias, que possibilitará  cortes nas taxas de juros e dará suporte aos mercados ao redor do mundo. É essa a narrativa que alimenta o cenário otimista para a economia em 2024. E o que poderia dar errado nestas previsões? Foi a pergunta que a Bloomberg Economics e a Bloomberg News procuraram responder em uma reportagem destacando riscos importantes a serem monitorados. A Capital Aberto também provocou o economista Marcus Paulo Turano, fundador da Turano Consultoria e professor de pós-graduação no IBMEC, a listar o que pode dar errado em 2024 no ambiente doméstico. 

A reportagem da Bloomberg lembra que, depois de anos marcados por guerras, pandemia e colapso bancário, naturalmente “muita coisa pode dar errado”. Na lista de potenciais riscos, há destaques para conflitos armados, erros na condução da política monetária e problemas com a China. 

Veja os principais pontos ressaltados na reportagem:

O Oriente Médio à beira do abismo 

Após mais de três meses, a guerra de Israel em Gaza levou a região à beira de um conflito mais amplo, com potencial para interromper o fluxo de petróleo, prejudicar o crescimento global e elevar novamente a inflação mundial. A interrupção no fornecimento de petróleo ainda não aconteceu, e os mercados estão apostando que não acontecerá. Mas o risco está aumentando.

No cenário-base descrito pela Bloomberg uma guerra direta entre Irã e Israel continua improvável. Se esse cenário extremo se materializasse, então um quinto do suprimento global de petróleo, bem como rotas comerciais importantes, poderiam estar em risco. Os preços do petróleo poderiam disparar para US$150 por barril, reduzindo cerca de 1 ponto percentual do PIB global e adicionando 1,2 pontos percentuais à inflação global.

O Fed pode se queimar (novamente)

Nos anos 1970, o presidente do Fed, Arthur Burns, fez uma mudança prematura na política monetária. O resultado foi um ressurgimento da inflação, exigindo medidas extremas de seu sucessor, Paul Volcker, para controlar os preços. Existem duas maneiras de 2024 ver uma repetição deste quadro. Uma envolve um choque de oferta – uma possibilidade real se um conflito em escalada no Oriente Médio afetar os preços do petróleo e as rotas de navegação. A outra resultaria de condições financeiras mais frouxas – com o rendimento do Tesouro de cinco anos caindo mais de um ponto percentual desde sua alta em outubro.

Incorpore uma queda de um ponto percentual nos rendimentos no modelo de economia dos EUA da Bloomberg Economics, e isso impulsiona a inflação no próximo ano em meio ponto percentual, a 3%, acima da meta de 2%. Se isso acontecer, o Fed frustrará as expectativas do mercado.

O modelo de processamento de linguagem natural para capturar o sentimento dos membros do Fed, utilizado pela Bloomberg, mostra que eles deixaram muito espaço para manobras. O modelo – treinado em 59 mil manchetes de notícias sobre discursos e entrevistas coletivas do Fed – mostra que os oficiais estão inclinados para uma postura mais dovish, mas ainda estão longe de se comprometer com cortes.

“Se esse corte de juros começar em maio, junho, julho, é bom para o Brasil. Se esse cenário de juros começar a cair mais para o final do ano, é pior para o Brasil, porque esse capital vai demorar mais a querer vir para a economia brasileira”, diz o economista.


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Na Europa, recessão profunda

Se os EUA correm o risco de aquecer demais sua economia, o oposto é verdadeiro na Europa. O Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra estão no final de seus ciclos de aperto mais agressivos em uma geração. Ao rodar os dados macroeconômicos em qualquer modelo, a Bloomberg prevê recessão profunda.

O PIB da zona do euro deveria ter uma queda de 2,5%, sugere o modelo da Bloomberg Economics. O equivalente para o Reino Unido é de 4,7%. Até agora, os dados mostram algo diferente – uma desaceleração em ambas as economias, mas não uma contração. 

“O PIB está desacelerando no mundo todo, indo para o terceiro ano seguido de desaceleração, isso é fruto de uma política monetária e de um crédito mais restrito”, comenta o fundador da Turano Consultoria. Para ele, a tendência frente a isso é o corte de juros no continente e no mundo.

Uma China vacilante

A segunda maior economia do mundo entra em 2024 com o crescimento já rumando para o Sul. A recuperação pós-pandemia perdeu força, e um gotejamento constante de estímulos falhou em preencher a enorme lacuna deixada pelo setor imobiliário em declínio.

O cenário-base da Bloomberg Economics é que Pequim eventualmente fornecerá apoio suficiente para evitar o colapso, com um crescimento previsto de 4,5% para 2024. Isso seria inferior ao ano passado e muito abaixo da média pré-pandemia, mas não seria um desastre.

Colapso imobiliário da China

Os riscos estão firmemente inclinados para o lado negativo, avalia a Bloomberg Economics. Se o estímulo chegar tarde demais, for insuficiente e o declínio no setor imobiliário se aprofundar, o crescimento poderia desacelerar para cerca de 3%. Se os problemas imobiliários desencadearem uma crise financeira, como aconteceu no Japão em 1989 e nos EUA em 2008, a economia poderia até encolher, na realidade, se não nas estatísticas oficiais.

Eleição nos Estados Unidos

A eleição mais importante de 2024 pode mudar os cálculos em todo o mundo. A votação presidencial de novembro está se configurando como uma revanche entre Joe Biden e Donald Trump, que liderou as pesquisas em estados decisivos.

O retorno de Trump ao cargo poderia trazer reversões bruscas de políticas em 2025, e os mercados podem precificá-las mais cedo. Ele prometeu uma tarifa de 10% sobre todas as importações. Se os parceiros comerciais retaliarem da mesma forma, isso poderia reduzir 0,4% do PIB dos EUA, estima a Bloomberg Economics. Haverá mais tensão comercial com parceiros como a Europa e rivais como a China. O desejo dos Estados Unidos de liderar a aliança militar da OTAN pode diminuir.

Para Marcus Paulo Turano, essa eleição dos Estados Unidos é um dos fatores fundamentais para a estabilidade econômica mundial, e isso não implica somente as políticas protecionistas defendidas por Trump . “Você tem toda a geopolítica, as guerras, os conflitos todos”, diz ele.

Baixo crescimento pós pandemia

Mesmo antes dos riscos negativos mapeados, o cenário base da Bloomberg Economics é de um crescimento global em 2024 de apenas 2,7%. Isso está muito abaixo da taxa de crescimento pré-pandêmica de 3,4% e é o mais baixo em um ano não crítico desde o estouro da bolha da internet em 2001. “Uma economia que já está cambaleante é fácil de derrubar”, conclui a reportagem.

E o Brasil com isto?

No Brasil, há também riscos específicos a serem monitorados, que podem afetar a perspectiva positiva do ano, de inflação sob controle, real forte, taxa Selic projetada para um dígito em dezembro, a 9%, e projeções de um mercado de ações em alta. Marcus Paulo Turano elencou o que pode dar errado no país. 

Outro risco, segundo Turano, é a “tendência de crescimento da dívida pública” em decorrência dos maiores gastos sem aumento correspondente na arrecadação, o que pode fugentar investidores nacionais e internacionais.

Ele ainda ressalta que a saúde da economia brasileira também tem relação com o rumo das cotações das commodities. “Quanto menos o crescimento mundial, pior para o Brasil, pois a menor demanda gera menor preço nas exportações”.

“O desempenho das exportações de minério de ferro, por exemplo, é muito dependente do crescimento mundial, pois a produção de aço é altamente correlacionada com a evolução do PIB [dos países importadores], com destaque para a China.

No caso das commodities agrícolas, ele alerta também para os riscos climáticos, que podem tirar o sono dos pessimistas de plantão.


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