Cedo para voltar
Mike Lubrano
Mike Lubrano

Mike Lubrano

Com cerca de US$ 2 bilhões sob gestão, a americana Cartica Management se desfez dos últimos investimentos que tinha em ativos brasileiros no ano passado — e, por ora, não vê chances de voltar a aportar recursos no País. Alguns setores despertam o interesse da gestora, em especial quando o horizonte é de longo prazo, mas as incertezas ainda são grandes demais para compensar o risco, pondera Mike Lubrano, diretor executivo de governança corporativa da Cartica. “A situação política pode atrasar ou inviabilizar algumas reformas que consideramos necessárias para o País, em especial no setor de infraestrutura”, diz. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Lubrano à capital aberto.

Incertezas

“Esperamos que o pior já tenha passado, mas ainda há riscos tão grandes no Brasil que não sentimos confiança para voltar a investir. Não vejo como poderíamos estar otimistas diante de tantas incertezas, principalmente na seara política. Embora a probabilidade de retorno da presidente Dilma Rousseff seja baixa, ainda resta o risco do governo de Michel Temer. Na nossa visão, a situação política pode atrasar ou inviabilizar reformas que consideramos necessárias para o País, em especial no setor de infraestrutura.”

Investimentos

“Encerramos a maior parte dos nossos investimentos no Brasil entre 2013 e 2014, e as últimas vendas ocorreram no começo do ano passado. Como nosso portfólio é extremamente concentrado, a seleção dos países onde aplicamos é muito importante. Os cerca de US$ 2 bilhões que gerimos estão em apenas 15 empresas, no mundo todo. No Brasil, nunca aportamos recursos em mais do que três ou quatro companhias. E agora vemos riscos reais em cada setor que analisamos. No varejo, por exemplo, temos de nos preocupar com o nível de renda e com o consumidor, que está se sentindo inseguro para comprar. Já no segmento de transportes e infraestrutura, a preocupação é com o conjunto das condições para os investimentos.”

Infraestrutura

“Esse é um dos nossos focos de investimento. Para um país do tamanho do Brasil, a infraestrutura existente é pobre, seja de rodovias, ferrovias ou portos. Isso torna o setor interessante para se investir. Como buscamos empresas de médio porte, as maiores construtoras, alvos das operações anticorrupção, já não estariam no nosso radar. Mas, mesmo assim, houve uma grande ruptura no setor, e o investimento nesse segmento se tornou mais complexo.”

Lava Jato

“A Operação Lava Jato colocou dirigentes de grandes empresas na prisão, e isso é sério. Depois de uma sequência de eventos como essa, os burocratas brasileiros provavelmente serão muito mais cautelosos na hora de aprovar projetos. Isso é bom, mas já vimos casos, em outros países, em que isso paralisou aprovação de obras no setor. As condições de incentivo e as autorizações para projetos de infraestrutura estavam na direção errada no final da administração de Dilma Rousseff. Agora isso provavelmente vai mudar, mas ainda não sabemos quanto.”

Commodities

“O Brasil não será uma economia de alto crescimento se continuar dependente das exportações de commodities. Estamos convencidos, com a exceção do setor de alimentos, de que não veremos mais nada parecido com o ciclo de commodities que terminou poucos anos atrás. Pode haver algumas notícias positivas, algum bom resultado, mas nada além disso. Os chineses nunca mais vão precisar de tantos metais, então os preços também não vão subir como no passado.”

Perspectiva

“Quando investidores de longo prazo, como nós, começam a pensar sobre o que o Brasil tem para o futuro, em comparação com outros países, é difícil chegarem a uma conclusão. Não temos dúvida de que uma economia do tamanho da brasileira, com tanta diversidade de talentos, vai conseguir se recuperar, mas é mais difícil visualizar como esse processo vai acontecer. Seria mais fácil se a crise fosse em uma economia pequena, mas aberta, como a do Chile. Depois da crise chilena dos anos 1980, era possível identificar quatro ou cinco setores em que o país tinha muito potencial. No Brasil não vemos isso — e um motivos é o fato de o País ser ainda muito protecionista. Mas isso não significa que não haja companhias que, individualmente, se sairão bem.”


Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.


Ou assine a partir de R$ 34,40/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.


Você está lendo {{count_online}} de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês

Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.

Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais


Ja é assinante? Clique aqui

mais
conteúdos

APROVEITE!

Adquira a Assinatura Superior por apenas R$ 0,90 no primeiro mês e tenha acesso ilimitado aos conteúdos no portal e no App.

Use o cupom 90centavos no carrinho.

A partir do 2º mês a parcela será de R$ 48,00.
Você pode cancelar a sua assinatura a qualquer momento.