Pesquisar
Close this search box.
Corrida de gente grande
Com preços que rondam a casa dos R$ 10 mil, modelos de acesso direto à Bolsa de Valores tornam ainda mais velozes — e desiguais — as colocações de ordens

, Corrida de gente grande, Capital Aberto

Quantos negócios é possível realizar em uma fração de segundo? Mais do que nunca, a velocidade está se tornando o nome do jogo quando se trata de investir na Bolsa de Valores. Os novos modelos de acesso direto a mercado (DMA, na sigla em inglês), lançados pela BM&FBovespa em setembro, vão permitir que uma ordem de compra ou venda de ações seja executada sem passar pela infraestrutura tecnológica das corretoras. Isso significa que as ordens, embora continuem a ser monitoradas e controladas por essas instituições, passam a ser enviadas diretamente do computador do cliente para o da Bolsa. Uma espécie de evolução do home broker, só que desta vez para grandes investidores.

Com a novidade, a Bolsa brasileira entra de vez na era da supervelocidade. O movimento começou no início do ano passado, quando algumas corretoras implementaram sistemas de computador baseados em algoritmos que permitem emitir ordens em frações de segundos, algo impossível para o ser humano. Agora, com os novos canais de acesso direto à Bolsa, esses investidores de alta velocidade, conhecidos como “high frequency traders”, vão deitar e rolar. Quem usar o sistema mais potente, por exemplo, o DMA 4 — também chamado de co-location —, poderá executar suas demandas em inacreditáveis 25 milésimos de segundos.

, Corrida de gente grande, Capital AbertoO acesso a essas tecnologias, no entanto, têm seu preço. Para fazer uso do co-location, o modelo mais aguardado pelo mercado, o investidor terá que pagar um aluguel que varia de R$ 10 mil a R$ 15 mil por mês. Esse produto permite que o computador do cliente seja instalado dentro do centro de processamento da Bolsa. O benefício é eliminar a distância física, aumentando ainda mais a velocidade das transações. Para viabilizar o co-location, a Bolsa investiu na melhoria do seu sistema de contingência, no aumento do número de servidores e na redução do tempo de processamento de ordens. Hoje, o sistema da Bolsa tem capacidade para realizar até 3 milhões de negócios por dia. “Mas, atualmente, a média é de 450 mil”, informa André Demarco, diretor de operações da BM&FBovespa.

Jansen da Costa, superintendente de tecnologia e desenvolvimento da Ativa Corretora, acredita que o ganho de velocidade terá como consequência direta o aumento dos volumes transacionados na Bolsa. Carlos Layus, gerente comercial de negociações eletrônicas da Fator Corretora, espera que o acesso direto gere na Bovespa o mesmo efeito que teve na BM&F, em 2008, quando foi lançado. Na época, segundo ele, o volume de negociação de derivativos chegou a dobrar. “Quanto mais compradores e vendedores houver no mercado, melhor. Isso gerará mais disponibilidade de preço para o cliente e, consequentemente, uma diferença menor entre os valores de compra e venda.” O resultado disso, dizem os especialistas, tende a ser preços mais justos.

A Link Investimentos foi a primeira a utilizar o co-location. Instalou no centro de processamento da Bolsa uma máquina, que fez sua primeira operação em 15 de setembro. A corretora investiu cerca de R$ 20 milhões desde dezembro de 2007 para viabilizar o uso do DMA 4 e criar seu centro de processamento de dados, que lhe permite operar ininterruptamente. “É preciso ter um arcabouço tecnológico para que o cliente se sinta seguro de aplicar com você”, observa Daniel Mendonça de Barros, sócio-diretor da Link.

A Fator, por sua vez, começou a fazer os investimentos necessários há um ano e meio. “Perdemos espaço para as que entraram primeiro, mas também evitamos cometer alguns erros”, afirma Layus. Os preços do acesso direto variam bastante conforme a configuração necessária, número de terminais e quantidade de dados que se pretende receber (cotações) e enviar (ordens). Mas uma configuração básica dos modelos 2 e 3 não sai por menos de R$ 5 mil por mês cada (confira tabela abaixo).

EQUIDADE ABALADA? — O lado menos glamoroso desses avanços é a desigualdade que eles podem causar. Afinal, quem não tiver acesso a eles sairá perdendo na largada. Waldir de Jesus Nobre, superintendente de relações com o mercado e intermediários da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), não vê essa situação como um problema porque, para ele, o mercado já é desigual. Afinal, as ordens chegam em maior ou menor velocidade dependendo da capacidade da conexão de internet do usuário. O uso de uma banda larga de 1Mb ou 10 Mb, por exemplo, define a vantagem de um investidor sobre o outro ao usar o home broker. “Analisaremos se isso (a desigualdade) vai se potencializar.”

Quem usar o co-location poderá executar suas demandas em 25 milésimos de segundos

Os modelos de acesso direto, contudo, não interessam às pessoas físicas, mas, sim, àqueles com estratégia baseada na velocidade, os chamados high frequency traders. “O cliente que compra agora para vender daqui a dez anos não está preocupado com um centavo”, analisa Fernando Kazan, gerente de operações eletrônicas da XP. Já quando se trata de aplicadores com características semelhantes, a situação muda. “Se tiverem a mesma estratégia, um pode ficar em desvantagem. Mas isso é o mercado.” Moral da história: caberá a cada investidor escolher o produto que mais se adapta a sua necessidade. “Cada um vai buscar o custo-benefício que lhe for conveniente”, diz Nobre.

OLHO ABERTO — A CVM pretende avaliar os resultados dos novos tipos de acesso direto ao mercado em novembro, quando a iniciativa completará três meses. O objetivo é averiguar se esses sistemas são robustos a ponto de acompanhar um grande aumento no número de ordens. Em breve, a Bolsa também deve apresentar um plano de controle de riscos e contingenciamento para os novos DMAs.

Nos Estados Unidos, onde essas plataformas já existem há mais tempo, o xerife do mercado anda preocupado. A Securities and Exchange Commission (SEC) manifestou, no início do ano, o temor de que os modelos de acesso direto incentivem o chamado “naked access” — formato em que o investidor não passa pelo controle da corretora porque entra na bolsa diretamente utilizando o código dela. Christine Sandler, vice-presidente executiva de vendas da Bolsa de Nova York (Nyse), diz que essa forma de acesso nunca foi e nem será permitida em suas plataformas de negociação. “Nós temos um compromisso de zelar por todos os participantes do mercado”, assegura. Ela explica que, para operar na Nyse, é necessário ser credenciado a uma corretora-membro da Bolsa. Entretanto nenhuma Bolsa é capaz de garantir sozinha esse controle. Afinal, quando o investidor usa o naked access, ele se faz passar por uma corretora.

Dados divulgados pela SEC em janeiro deste ano, revelam que 38% do volume diário de negociação nos Estados Unidos é feito sem o controle de uma corretora. “É como dar as chaves do seu carro a um amigo que não tem carta e deixá-lo dirigir sozinho”, comparou, na ocasião, a presidente da SEC, Mary Schapiro. Essa prática, segundo o regulador, abre espaço para que ordens erradas sejam executadas e deixa o mercado vulnerável à manipulação.

De acordo com Demarco, o Brasil não corre esse risco. Aqui, ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, a corretora é sempre obrigada a aplicar controles de risco nas transações de seus clientes. Além disso, a BM&FBovespa lançou recentemente um software que possibilita o controle das corretoras sobre as operações de acesso direto. Denominado MegaLine, ele possibilita o estabelecimento de limites financeiros para cada cliente que realiza transações no segmento Bovespa por meio das modalidades 2, 3 e 4 de acesso direto ao mercado. Os limites definidos são avaliados antes de as ordens serem transmitidas, e as que estiverem fora do perfil são recusadas. “É o melhor dos mundos”, declara Layus, da Fator.

Outra preocupação que ronda o mercado norte-americano é a fuga das transações de grandes volumes das plataformas de alta frequência para as chamadas dark pools — espaço em que as compras e vendas de ações são realizadas no escuro, ou seja, sem revelar a identidade de comprador e vendedor. A migração ocorre porque os negociadores de grandes lotes saem em desvantagem quando competem com os operadores de alta velocidade, que costumam transacionar pequenas quantidades e obter os melhores preços. O regulador torce o nariz porque as dark pools, ao contrário das plataformas de alta frequência, não são reguladas pela SEC. E as bolsas tampouco gostam da ideia, porque perdem o volume gerado pelas negociações dos grandes lotes. A fim de solucionar esse problema, a Nasdaq anunciou que lançaria, em 8 de outubro, um sistema que dará algumas regalias para os operadores de grandes blocos de ações. Haja criatividade para driblar os desafios trazidos pelas novas tecnologias.


Para continuar lendo, cadastre-se!
E ganhe acesso gratuito
a 3 conteúdos mensalmente.


Ou assine a partir de R$ 34,40/mês!
Você terá acesso permanente
e ilimitado ao portal, além de descontos
especiais em cursos e webinars.


Você está lendo {{count_online}} de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês

Você atingiu o limite de {{limit_online}} matérias gratuitas por mês.

Faça agora uma assinatura e tenha acesso ao melhor conteúdo sobre mercado de capitais


Ja é assinante? Clique aqui

mais
conteúdos

APROVEITE!

Adquira a Assinatura Superior por apenas R$ 0,90 no primeiro mês e tenha acesso ilimitado aos conteúdos no portal e no App.

Use o cupom 90centavos no carrinho.

A partir do 2º mês a parcela será de R$ 48,00.
Você pode cancelar a sua assinatura a qualquer momento.