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Companhias se preparam para novo relatório de auditoria no Brasil
Ilustração: Rodrigo Auada

Ilustração: Rodrigo Auada

O flagrante e corriqueiro “copia-e-cola” dos burocráticos relatórios de auditoria está com os dias contados no Brasil. Em 2017, começa a vigorar no País o modelo concebido há dois anos pelo International Auditing and Assurance Standards Board (IAASB) com o intuito de tornar mais relevantes os relatórios dos auditores independentes. Já adotada no Reino Unido e na Holanda — e em discussão no comitê americano de normas contábeis (PCAOB) e na Comissão Europeia —, a versão turbinada desenvolvida pelo IAASB está sendo agora importada pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) brasileiro. Sua adoção será obrigatória para as demonstrações financeiras (DFs) anuais de 2016 das empresas e fundos negociados em bolsa de valores.

O novo parâmetro é resultado da insatisfação dos principais usuários dos balanços: os investidores. Desapontados com a falta de alertas sobre companhias que protagonizaram crises financeiras colossais como a de 2008, eles passaram a exigir avaliações mais específicas e informativas. Com a mudança, os auditores deverão apontar os “principais assuntos de auditoria” (PAAs) presentes em suas análises —em outras palavras, os temas que despertaram dúvidas e sobre os quais precisaram se debruçar. O relatório no novo formato deve informar que assuntos são esses e como os auditores chegaram à conclusão de que não devem causar preocupações.

“A proposta é que o documento seja uma lanterna a iluminar pontos para os quais o investidor deve olhar”, afirma Valdir Coscodai, sócio da PwC e representante da América Latina no IAASB. A descrição do novo relatório nada tem a ver com as ressalvas, que vão continuar a ser emitidas sempre que os auditores não se sentirem seguros com as explicações oferecidas pelos administradores.

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A Vale já começou a se preparar. Gerente de controladoria da mineradora, Renata Souza Santos conta que vem estudando os relatórios emitidos pelos seus pares em outras partes do mundo. “A novidade ajudará os investidores a entender quais riscos habitualmente divulgados pelas companhias são inerentes ao negócio e quais podem, de fato, impactar os balanços”, resume. Sergio Govoni, sócio-diretor da KPMG e auditor da Vale, prepara uma simulação para os clientes de como ficaria o relatório caso tivesse sido aplicado às DFs de 2015. “Queremos evitar surpresas e discussões no último momento”, esclarece Govoni, que participou de workshop sobre o tema realizado em 26 de abril pela CAPITAL ABERTO, em São Paulo. “Os clientes estão ansiosos para saber quais serão os seus PAAs”, relata.

Também é grande a ansiedade em relação à transparência que o relatório vai promover. “As discussões entre administradores e auditores sobre as premissas utilizadas, que sempre existiram, agora vão passar a ser públicas”, observa Rogério Garcia, diretor da área técnica do Ibracon. Na essência, a expectativa do IAASB é que a exigência de divulgação faça com que administradores, integrantes dos comitês de auditoria e auditores externos sejam mais cuidadosos com os julgamentos adotados. Há casos que surpreenderam pela ousadia. Em relatório de 2013, os auditores da Rolls Royce avaliaram uma opção de venda detida pela Daimler AG contra a companhia e consideraram que as projeções utilizadas pelos executivos para uma eventual obrigatoriedade de compra eram “moderadamente otimistas”. O grau de julgamento, bastante incomum, chamou a atenção da indústria de auditoria.

A dúvida é se, com o tempo, a ambição de se ter relatórios mais contundentes será soterrada pela rotina. No estudo feito por Renata, da Vale, os relatórios dos pares internacionais da mineradora apontaram PAAs muito semelhantes entre si. A fim de dirimir esse risco, o britânico Financial Reporting Council (FRC) criou um prêmio para os relatórios de auditoria mais inovadores. É bom, de fato, incentivar os auditores a se manterem longe das próprias zonas de conforto. Se os assuntos eleitos como relevantes forem sempre os mesmos, os relatórios não demorarão a se tornar novamente entediantes e imperceptíveis para os usuários.

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