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Alta performance
Negociações com algoritmos ganham terreno na BM&FBovespa, mas lá fora a discussão corre solta quanto aos perigos dessa prática

, Alta performance, Capital Aberto

Capazes de disparar 5 mil ordens por segundo de compra ou venda, as plataformas eletrônicas de negociação por algoritmos se embrenham cada vez mais nas corretoras de valores mobiliários. Cerca de 70% da movimentação em bolsa nos Estados Unidos já faz uso dessa tecnologia. No Brasil, os algoritmos ganharam um empurrão no fim de maio deste ano, quando a capacidade do Mega Bolsa, sistema eletrônico de negociação da BM&FBovespa, aumentou de 770 mil negócios diários para 1,5 milhão. Alpes, Spinelli, Link, Finabank e Ágora são só algumas das casas que aderiram à novidade.

Fórmulas matemáticas, esses algoritmos são criados a partir da análise do histórico de execuções de compra e venda de ativos financeiros. Quando surge o preço identificado como o melhor para a negociação de determinado ativo, a “memória” dos algoritmos dispara um comando que efetua a operação. Sua função é facilitar a vida dos grandes investidores da Bolsa, acostumados a girar centenas de milhões de reais em um único dia.

Esses investidores, também conhecidos como high frequency traders (investidores de alta frequência, em inglês), costumam auferir ganhos com margens muito pequenas, mas grandes volumes. Uma demora na execução das ordens, portanto, pode arruinar o retorno. As plataformas eletrônicas são úteis justamente por isso: elevam à enésima potência a máxima de que tempo equivale a dinheiro. Centenas de ordens podem ser executadas pelos algoritmos em milissegundos, algo impossível para o ser humano. “É como se saíssemos da era da máquina de escrever para a do computador”, compara Mateus Kosac, diretor de electronic trading desk da Alpes Corretora.

O volume de negócios da Alpes aumentou 143% desde que a corretora começou a usar os algoritmos, em janeiro deste ano. Os produtos são feitos sob encomenda. “Os algoritmos variam de acordo com o apetite ao risco do investidor, que determina as premissas que vão disparar as ordens”, diz Kosac. A taxa de corretagem da Alpes se manteve a mesma, mas os lucros cresceram com o uso da nova tecnologia e o incremento do volume transacionado.

Há tipos variados de algoritmos. O TWAP faz as ordens em intervalos predeterminados para não causar volatilidade no preço. Já o VWAP parcela as ordens com base no volume negociado. Outra possibilidade é a ferramenta chamada de “iceberg”, que permite comprar ou vender uma grande quantidade de ações ao longo de um pregão, sem provocar estardalhaço. Um milhão de ações, por exemplo, pode ser comprado discretamente, de mil em mil, a cada 15 segundos, sempre buscando o preço médio do dia.

A estatística não é a única língua dos algoritmos. Eles também falam português. A combinação das palavras-chave “Petrobras”, “confirma” e “pré-sal”, por exemplo, pode emitir uma ordem de compra de ações da petrolífera assim que um novo fato relevante com esses termos pipocar na imprensa. Batizado de Machine Readable News, um produto da Thomson Reuters vasculha o noticiário produzido pela agência em busca de informações que possam impactar cotações de ações.

NA MIRA DOS REGULADORES – Apesar de todo o progresso, o mercado norte-americano já começa a enfrentar problemas de abuso no uso dessas tecnologias. A Securities and Exchange Commission (SEC) propôs, no dia 17 de setembro, a proibição de uma prática conhecida como flash trading. Trata-se de um serviço oferecido por algumas bolsas que consiste em informar o melhor preço das ações a alguns investidores frações de segundos antes de esse dado ser público. Nos Estados Unidos, quando uma bolsa se depara com uma ordem e não possui a melhor cotação, ela é obrigada a direcioná-la para a bolsa que a tiver. Ao adotar o flash trading, a bolsa pode escapar dessa obrigação. Ela avisa os participantes do seu ambiente de negociação sobre o melhor preço para que eles cubram a oferta concorrente. Se isso não acontece em 500 milésimos de segundo, aí, sim, a ordem terá de ir para uma bolsa concorrente.

Para seus defensores, o flash trading nada mais é do que a expressão da livre concorrência, já que a implantação de sistemas que o possibilitam demanda boas somas de dinheiro. Mas, na visão do regulador, a prática não oferece tratamento equitativo aos participantes do mercado.

Na Inglaterra, a tecnologia dos algoritmos vem causando problemas semelhantes. Na Bolsa de Londres, a preocupação se dá com o uso do spoofing, que consiste em ordens “artificiais” emitidas por investidores com o intuito de criar uma falsa sensação de liquidez e tirar proveito disso. A prática é possível graças ao serviço de direct market access, que dá a possibilidade de o investidor atuar diretamente no livro de ordens. Por exemplo, se o investidor quiser vender um papel, ele dispara grandes ordens de compra e as cancela logo depois. Se, nesse meio-tempo, alguém morder a “isca”, o preço do papel sobe e, então, o investidor vende a ação. A Financial Services Authority (FSA) lançou, em 1º de setembro, um alerta para a bolsa contra o spoofing, citando-o como uma forma de abuso.

Para o Brasil, os perigos da negociação em alta frequência ainda são uma realidade distante. O flash trading, por exemplo, só é possível em mercados em que existe mais de uma bolsa. Mas é bom ter cuidado. Os exemplos lá fora deixam claro que a tecnologia potencializa tanto benefícios quanto perigos, e que ainda cabe ao velho e conhecido componente humano o dever de zelar pela segurança e a efetividade do mercado. “Quando as coisas dão errado, o vilão não é a máquina, mas aquele que a controla”, diz Kosac, da Alpes.

Lousa, caneta e telefone

Em alguns mercados, as negociações em bolsa só faltam “falar sozinhas”; em outros, as operações ainda vivem os tempos românticos das operações manuais. A bolsa iraquiana (Iraq Stock Exchange), por exemplo, só começou a usar sistemas eletrônicos de negociação em abril deste ano. E isso apenas para cinco das 91 companhias listadas. As que não aderiram ao novo sistema ainda usam quadros escritos com pincéis atômicos, em meio a corretores engravatados berrando ao celular.
No modo tradicional, os compradores precisam esperar mais de 20 dias para transferir as ações para seu nome, período no qual não podem vender os papéis. Com o sistema informatizado, desenvolvido pela Nasdaq OMX, as transações são efetuadas na hora. O trabalho de modernização da bolsa iraquiana é parte dos esforços do atual governo em tornar o país mais atrativo aos olhos do investidor estrangeiro, depois que o governo do ex-presidente norte-americano George W. Bush depôs o fechado regime de Saddam Hussein, em abril de 2003. A bolsa do Iraque negociou apenas cerca de US$ 270 milhões em 2008 — dos quais US$ 21 milhões movimentados por estrangeiros —, encerrando o ano com uma capitalização de mercado de US$ 2,5 bilhões. (S.M.)


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