O novo presidente da Argentina, Javier Milei, chega ao governo com a missão de pôr ordem numa economia com inflação na casa dos dois dígitos, reservas cambiais mirradas (cerca de US$ 20 bilhões) e déficit público agravado por subsídios de todo tipo.
Neste cenário, analistas tendem a descartar o comprimento da promessa eleitoral de dolarizar a moeda e pôr fim ao Banco Central.
“A dolarização não vai acontecer porque não há recursos e, mesmo se houvesse, essa não é a melhor saída”, diz Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management. Desvalorização cambial e corte de gastos públicos estão, porém, no radar.
Para saber o que esperar do novo governo argentino, a Capital Aberto ouviu, além de Olivares, dois especialistas: Bernardo Howes, assessor de investimentos e especialista em política da Ável Investimentos, e Cristiano Oliveira, head of research da Rivool Finance e professor da Universidade Federal do Rio Grande.
Confira as expectativas do trio:
Câmbio
“Acho que vai haver uma desvalorização logo de largada. Você tem um câmbio oficial que está em trezentos e pouco pesos [por dólar] e um câmbio livre, que está quase em torno de quase mil. [O mercado] está falando de um valor que seria, grosso modo, meio termo disso. É o mercado que vai decidir. O governo argentino não tem reserva para fixar o valor do câmbio.”
“Em um país que não tem reservas, o programa anti-inflacionário não pode ser pautado por um câmbio fixo. Vai ser mais um ajuste à moda antiga da quantidade de moeda. Provavelmente vão anunciar que vão parar de financiar o gasto público com emissão de moeda. Então, a quantidade de agregados monetários vai cair. Isso, mais cedo, mais tarde, vai acabar disciplinando os preços.”
Gino Olivares, Azimut Brasil
Banco Central
“Dificilmente o Banco Central seria extinto. O Banco Central é muito mais do que a instituição responsável por decidir o quanto será emitido de moeda. Ele é o responsável pela manutenção do poder de compra da moeda , estabilidade dos preços e pela confiança e solidez do sistema financeiro. Além disso, é responsável pela execução das políticas monetária e cambial, entre outras funções relevantes.
É possível até extinguir a instituição, mas não as funções dela.”
“Existem cerca de nove taxas de câmbio diferentes funcionando no país e, com exceção do dólar blue, que é o dólar do mercado livre (não oficial), todas as demais seguem rígidas regras de controle ao acesso e tributação pesada. Acredito que uma das importantes tarefas do novo presidente do Banco Central será reunir todas essas taxas em uma única taxa de câmbio, com valor mais próximo à realidade do mercado.”
“Assim, o mercado paralelo deverá perder a sua relevância, como ocorreu no Brasil, e o Banco Central poderá retomar a sua capacidade de gerenciar a política cambial do país.”
Cristiano Oliveira, Rivool Finance e Universidade Federal do Rio Grande
Tesoura nos subsídios
“No curto prazo, pouca coisa deve mudar porque a maior parte das mudanças deve necessariamente passar pelo Congresso argentino. Eles precisam fazer uma reforma estrutural bastante drástica para acabar com o desequilíbrio no orçamento público.”
“Isso passa necessariamente pelo corte de subsídios, que atingem a todas as classes sociais. A elite tem privilégios no serviço público. Setores da economia têm privilégios. Há também subsídios como o da gasolina, transporte público, gás e na energia elétrica.”
“Com a remoção desses subsídios e privilégios, pode haver pressão inflacionária maior num primeiro momento. Mas isso dá a possibilidade de reduzir bastante o endividamento. Aí a confiança na economia volta.”
Gino Olivares, Azimut Brasil
Mercosul
“Passada a campanha eleitoral, já se atenuou um pouco o discurso de sair do Mercosul.”
“O que pode acontecer é, talvez, uma pressão por maior flexibilização por acordos bilaterais. O Mercosul tem tido muita dificuldade de fechar acordos com outros blocos. Um caso clássico aí é o acordo Mercosul-União Europeia, que nunca sai do papel.”
“O Uruguai quer fechar acordos bilaterais com outros países, o Paraguai quer fechar acordos bilaterais com outros países. Agora a Argentina se junta a esse coro.”
Bernardo Howes, Ável
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