A Fitch Ratings prevê continuidade do crescimento da geração de caixa dos shopping centers em 2024. A alta deve ser impulsionada por fatores como reajustes de aluguéis acima da inflação, taxas altas de ocupação, contratos de médio prazo e inadimplência limitada em decorrência da base pulverizada de locatários. A previsão está no relatório “Shopping Centers no Brasil – Perspectiva 2024“, divulgado nesta semana pela agência, que mantém perspectiva neutra para o setor.
A expectativa da agência é de que as vendas dos locatários cresçam cerca de 5% em 2024, frente a um crescimento esperado entre 5% e 10% em 2023. As taxas de ocupação devem permanecer em torno de 95%.
Resiliência
O relatório também destaca a resiliência do setor. “A indústria tem um longo e comprovado histórico de reportar resultados sólidos em diversos ciclos econômicos”, avalia a Fitch, destacando a recuperação rápida dos efeitos da pandemia.
A avaliação é compartilhada por Vitor Bidetti, sócio-fundador e CEO da gestora de fundos de base imobiliária Integral Brei. “A retomada do varejo e do fluxo de pessoas nos shoppings, que vem se intensificando desde o fim da pandemia, é um dos principais fatores positivos para o setor no curto prazo”, diz ele.
Fatores macroeconômicos também colaboram. “A inflação próxima da meta também contribui para o consumo e as vendas no varejo, que vem se recuperando ao longo do ano”, avalia ele.
“Com a esperada queda da Selic 2024 e a retomada do crédito, é esperado um aumento no volume de consumo que deve beneficiar diretamente os shoppings”, continua.
Enfrentando o ecommerce
Entre os desafios para o setor no médio e longo prazo, o destaque é, segundo Bidetti, a concorrência do comércio eletrônico, cuja fatia no consumo do varejo saltou de 5,8% em 2019 para 13%.
A saída foi se adaptar. “Mais áreas destinadas a serviços, lazer, alimentação e bem-estar, assim como espaços interativos, são exemplos de estratégias para direcionar o tráfego de clientes aos shoppings”, diz a Fitch.
“Os shoppings têm alterado seus mix de lojas, buscando cada vez mais se posicionarem como empreendimentos de lazer, em detrimento de serem apenas voltados ao consumo”, afirma Bidetti.
Com exemplo da estratégia, ele menciona o lançamento de opções de lazer e serviço que até há um tempo não eram comuns, como academias, laboratórios de diagnóstico, exposições culturais e de arte, construção de quadras esportivas, como beach tênis.
Além disso, ressalta a Fitch, shoppings também vêm investindo em tecnologia digital, com canais como, por exemplo, plataformas de vendas online, programas de coleta e interpretação de dados, estratégias omnichannel e aplicativos de entregas.
Bidetti exemplifica: “Algumas empresas já entenderam que precisam se aproveitar desse movimento do ecommerce, como Multiplan e Iguatemi, que já possuem aplicativos de ecommerce para vender produtos de seus lojistas”.
Fusões e aquisições
A Fitch também prevê a retomada gradual das operações de fusões e aquisições do setor, depois de alguns anos de atividade reduzida. As compras e vendas de participação de ativos devem permanecer aquecidas.
As operações mais comuns têm sido as de aumento de participação em ativos da própria carteira e venda de ativos, com “risco de execução muito baixo”. Como exemplo, a agência cita o aumento da participação da Multiplan no DiamondMall e no RibeirãoShopping por R$ 246 milhões neste ano. Também destaca que, no fim de 2022, Iguatemi aumentou sua participação no JK Iguatemi por R$ 667 milhões.
“Os emissores têm priorizado expansões, que muitas vezes pressupõem demandas preestabelecidas”, diz o relatório. Por isso, uma onda de novos lançamentos está fora do radar da Fitch.
“Um novo ciclo de projetos greenfield, entretanto, não deve ser anunciado a curto prazo, devido aos desafios enfrentados pelas varejistas, o que impede a absorção de projetos desta magnitude.”
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