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Cinco mantras
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Da esq. para a dir.: Marcello Ganem, Rodrigo Santos, Leonardo Messer e Alexandre Rezende. Foto: Aline Massuca

 

que poderia ser menos aconselhável do que abrir uma gestora de fundos de ações em outubro de 2008? Um mês antes, mais precisamente no dia 15, o anúncio da quebra do banco americano Lehman Brothers havia desencadeado a maior crise financeira mundial desde 1929. O abalo chacoalhou as principais economias do mundo e teve reflexos, em maior ou menor grau, em diversos países, incluindo o Brasil. Por aqui, um grupo de quatro engenheiros cariocas — Alexandre Rezende, Leonardo Messer, Marcello Ganem e Rodrigo Santos — se preparava naquela época para abrir uma gestora de recursos, a Oceana Investimentos. Diante do tsunami nos mercados financeiros e de capitais, seria natural que os sócios postergassem a inauguração ou mesmo cancelassem o projeto. A despeito de todo o pessimismo, o quarteto seguiu adiante. Eles haviam acabado de deixar a também carioca Meta Asset Management e se apoiaram na ideia de que tempos difíceis costumam vir acompanhados de grandes oportunidades.

Os anos seguintes comprovaram que os fundadores da Oceana tomaram a decisão correta. A gestora acumula atualmente um patrimônio de 2,7 bilhões de reais — quando começou, esse valor era de apenas R$ 22,5 milhões — e tem perto de mil investidores. O crescimento pode ser explicado pela boa performance dos fundos da casa — para dar um exemplo, nos três anos encerrados no último dia 30 de julho o fundo Oceana Long Biased Master FIA exibiu retorno de 76,8%, um prêmio de 58,49% em relação ao Ibovespa, de acordo com a Economatica. “Nada nos deixa mais felizes do que a certeza de que só oferecemos opções excelentes para os clientes. Nossa preocupação é essa, e não se temos o maior número de fundos ou o maior patrimônio sob gestão”, afirma Rezende.

Toda vez que a situação se complicava, Rezende se apegava a um dos ensinamentos de seu técnico de polo aquático, esporte que praticou por 20 anos. “Na hora do contra-ataque, ele falava para os jogadores enfiarem a cabeça dentro d’água e nadarem o máximo que pudessem. Eu via constantemente esse espírito na nossa equipe”, ressalta. A sensação de superação é ainda maior, observa Messer, por eles não terem parado de nadar mesmo quando todas as pessoas de bom senso os achavam tolos por lançarem a Oceana num momento em que os investidores estavam reduzindo sua exposição a risco. “O que nos motivou a prosseguir foi a aposta de que faríamos algo diferente”, rememora.

Em busca dessa diferenciação, os fundadores estabeleceram cinco mantras que norteiam a cultura da Oceana até hoje: o sucesso dos clientes é o sucesso da Oceana; meritocracia; buscar ser a melhor — sempre; ética e propósito; e privilégio de se atuar na gestão de investimentos. Esse último conceito baseia-se na ideia de que, ao gerir investimentos, o profissional se torna um viabilizador de sonhos, com a responsabilidade de investir com sabedoria o dinheiro dos clientes. “Recursos poupados são sementes de sonhos. Se bem regados os recursos, sonhos podem se tornar realidade. Acreditamos profundamente nesse conceito, e imbuímos em nosso time o senso de responsabilidade e a paixão pelo que fazemos”, escreveram os sócios da Oceana numa carta enviada a clientes em seu quinto aniversário.

Desde esse comunicado, os cinco pontos continuam a ser praticados diariamente — mas um, em especial, ganha atenção nos tempos atuais. “É triste morar num país em que a ética não é um princípio norteador e claro”, lamenta Messer. “Em quase todos os tipos de negócio é possível encontrar atalhos. Por isso, é importante que, desde o início, os sócios saibam o que querem para si no longo prazo.” No nicho de gestão de recursos, afirma, o dilema costuma ser entre usar o atalho e maximizar o dinheiro do investidor a qualquer custo ou percorrer o caminho mais longo e obter retorno de forma íntegra. A segunda resposta, garante, é a única opção na Oceana. “Na nossa visão, a ganância de longo prazo é positiva e deve permear todas as decisões. O erro está na ganância de curto prazo”, complementa Rezende.

Nesses últimos nove anos, a Oceana também mostra consistência em relação à filosofia de investimentos. Ao contrário do que fizeram diversos investidores fundamentalistas nos últimos três anos, a gestora se manteve firme no seu foco — aporte em empresas cujos preços de ações no mercado não correspondem aos seus fundamentos — e decidiu não embarcar na onda de diversificação de ativos no exterior e de investimentos baseados na análise de aspectos políticos e macroeconômicos.

A opção reflete a crença da Oceana de que a ampliação do escopo de atuação diluiria consideravelmente sua vantagem competitiva — o conhecimento que tem das empresas brasileiras, do ambiente regulatório, do histórico de controladores e executivos, das preferências dos consumidores e dos direitos dos minoritários. “O mercado financeiro é movido por modismos, tendências e efeitos-manada. Nossa abordagem é bem-sucedida justamente porque, muitas vezes, fazemos o contrário do que parece ser consenso”, explica Rezende. Para ter espaço para isso, a Oceana busca clientes que entendam bem esse modus operandi e acreditem no modelo. “Somos engenheiros fazendo investimento, então costumo dizer que temos uma abordagem conversadora, bem mais cartesiana do que se vê por aí. Tudo aqui é feito com base em informação. Não há espaço para achismo e nem especulação”, garante Rezende.

“A ganância de longo prazo é positiva. O erro está na ganância de curto prazo”

Apesar de terem a mesma formação acadêmica, os fundadores da Oceana acumulam experiências complementares. “Quando a equipe se juntou, alguns conheciam mais o mundo financeiro e outros, o corporativo. Assim, conseguimos reunir um conjunto forte de experiências”, afirma Ganem. Outra peculiaridade da gestora é o fato de os sócios estarem na linha de frente do negócio, ao contrário do que acontece em algumas firmas de investimentos, que apostam em jovens comandantes. “Na nossa concepção, quem bota a mão na massa e toma as decisões precisa ter vivência”, ressalta Santos. Não é só a admiração profissional, entretanto, que une os fundadores. Há também respeito e confiança. “Um ponto que eu acho fundamental é que confio 1.000% na integridade dos meus sócios. Quando você vive num ambiente de insegurança, por qualquer motivo que seja, fica difícil ser produtivo”, destaca Rezende.

Mais uma característica marcante na Oceana é a meritocracia. Na visão dos fundadores, o mérito individual e a capacidade de trabalho em equipe devem determinar, ao longo do tempo, quem são os donos da empresa. Assim, eles esperam resolver um problema comum nesse nicho, que é a dificuldade de retenção de talentos — seja porque os profissionais da área não se sentem devidamente reconhecidos e estimulados ou porque almejam criar seu próprio negócio. “O que mais pode gerar insatisfação nesse modelo é a falta de transparência na avaliação. Algo que tentamos medir da forma mais clara possível, observando, por exemplo, resultados de gestão, números de captação e eficiência”, ressalta Santos. “Hoje temos cinco associados que pretendem se tornar sócios. E os outros querem avançar”, acrescenta Messer.

Com o décimo aniversário batendo à porta, a Oceana também se preocupa com a formação da segunda geração da empresa, embora todos os sócios ainda estejam na casa dos 40 anos. “Nosso negócio se torna mais desafiador a cada cinco ou dez anos, e precisamos que as futuras gerações estejam preparadas para as mudanças que estão por vir. Quando comecei, 20 anos atrás, recorria-se a uma biblioteca com recortes de jornais e revistas para acompanhar o mercado. A tecnologia mudou tudo”, observa Messer. “Por isso, a pergunta que nos fazemos é como criar, manter e ampliar nossa vantagem competitiva no tempo.” Num mundo em que a inteligência artificial ameaça suplantar os gestores, o questionamento é sem dúvida pertinente.


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