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IPOs em épocas de incertezas
Grande quantidade de aberturas de capital neste ano lembra onda de 1984, de triste memória para os investidores 
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Em 2020, mesmo com a saída recorde de recursos estrangeiros, os lançamentos de ações já ultrapassam a meia centena | Imagem: Freepik

O mercado experimenta novo ciclo de ofertas públicas. Quando aconteceu o boom de 2003-07, escrevi artigo lembrando a onda de lançamentos em 1984, de triste memória para os investidores. Entre outros, Scopus, Comind S.A., Lanifício Sehbe, Antarctica do Piauí, Polipropileno, Barreto de Araújo, Frangosul, Vigor, Peixe, QGN, Staroup, Gurgel, TrichesPanvelLabra, Azevedo Travassos, Bombril (então em disputa familiar), FlexidiskPolimax, Auxiliar Participações, Habitasul, Linhas Círculo, Itacolomi de Cervejas, EDN, Metalúrgica Wetzel, Cambuci, ElebraCitropectina etc.

Na época, alguns concordaram e outros disseram que as coisas haviam mudado. Não vou citar companhias daquela primeira onda do século, malembro as construtoras e as empresas do grupo X. 

Em 2020, mesmo com a saída recorde de recursos estrangeiros, apesar da pandemia e da instabilidade econômica, com fortes questionamentos ao modelo liberal, os lançamentos de ações já ultrapassam a meia centena. 

Rescaldo da moratória 

Curiosamente, esses movimentos acontecem em épocas de incertezas: em 1984 o País vivia no rescaldo da moratória, já estava fixada a data de encerramento do ciclo militar, no ano seguinte, e a redemocratização era uma incógnita; em 2003-07, aconteceu o mensalão entre os dois mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva; e agora, o que já mencionamos acima. 

Anos atrás, soube de história interessante quando da transferência do controle de companhia aberta, que chegou a ser líder setorial. O controlador faleceu e a companhia passou ao comando do irmão, mais novo e mais interessado em aventuras parisienses. 

A decadência foi rápida. O nosso playboy procurou seu banco, igualmente de linhagem tradicional na sociedade carioca. O banqueiro conhecia o cliente e, dessa vez, não liberou os recursos salvadores. Em princípio, sugeriu a venda da companhia, oferecendo-se para sondar eventuais compradores. Com a proposta recusada, o banqueiro apresentou o plano B: a colocação de ações em mercado. 

Claro que não seria um lançamento fácil, mas, novamente valendo-se dos relacionamentos sociais, o empresário apelou para um investidor bilionário que, embora reticente, concordou em subscrever 20% das ações ofertadas. Outro amigo concordou em subscrever a mesma quantidade. Com 40% do lançamento garantido, o controlador subscreveu a parcela necessária para manter sua posição majoritária e o restante, residual, foi colocado junto ao público. 

As ações viraram pó, a companhia desceu a ladeira e foi vendida na bacia das almas. Como havia a obrigatoriedade de realização de OPA¹ aos minoritários, a venda das ações ao adquirente do controle seria a oportunidade de recuperar, pelo menos em parte, o investimento. A transferência se dera de forma indireta e, assim, havia a costumeira discussão sobre o preço a ser pago por ação. Esse foi o motivo que levou o investidor a me procurar e narrar a história, da qual, naturalmente, omito detalhes. 

Migração de investidores 

O mercado mudou desde aquela época, globalizou, surgiu o Novo Mercado e negociações verde-amarelas em Wall Street. Os investidores também mudaram, mas, aparentemente, alguns procedimentos se repetem. 

Coincidindo com essa nova onda de ofertas, vemos a migração maciça de aplicadores, redirecionando recursos da renda fixa para a renda variável, em função da baixa dos juros. Dia desses, recebi telefonema de uma amiga, indagando se existia uma “central de informações” sobre os papéis que “vão subir”.  

Em outro dia, recebi novo telefonema. Mais uma amiga, estudando no exterior, queria saber o que era day trade. Explicou que realizara uma operação dessas, ganhara um dinheirinho, mas ainda não entendera o mecanismo.  

As duas fazem parte da legião de novos investidores que, sem alternativas, entraram no mercado. Ao contrário do investidor da história, que sabia tudo sobre o mercado e era bilionário, elas não tinham nenhum conhecimento e, como se sabe, o aprendizado é longo, difícil, com boas e más surpresas pelo caminho. 

Temos agora uma combinação explosiva de lançamentos e investidores novos. A questão é saber aproveitar o momento para que a galinha dos ovos de ouro não dê, novamente, um voo curto. 

Penso que o tema interesse aos especialistas, visando estabelecer eventuais correlações entre os ciclos de lançamentos de ações como boas oportunidades de investimento (no momento em que acontecem posteriormente) ou verificar se representam apenas transferência de risco de crédito para o público. E ainda se o resultado contribui para sedimentar uma cultura de mercado entre nós ou para o afastamento dos investidores. 


*Carlos Augusto Junqueira de Siqueira é advogado



¹
Oferta pública de aquisição de ações

 


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