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Política monetária no Brasil atenta a movimentos do FED
Uma das discussões mais importantes para a economia brasileira em 2024 e 2025 é a trajetória da taxa de juros
Evandro Buccini. sócio e diretor de gestão de crédito e multimercado da Rio Bravo.

Uma das discussões mais importantes para a economia brasileira em 2024 e 2025 é a trajetória da taxa de juros. A dinâmica da inflação e do crescimento doméstico tem características próprias, mas o componente internacional, especialmente como se comportarão as variáveis macroeconômicas nos Estados Unidos será fundamental.

Similar ao que acontece no Brasil, os EUA tiveram excelentes notícias no ano passado: a inflação caindo rapidamente a partir da metade de 2023, enquanto o crescimento e o emprego mantiveram-se fortes. O pico da inflação foi de 9% em junho de 2022 e um ano depois ela estava em 3%. Nesse período, o crescimento do PIB se manteve bom, em 1,9% em 2022 e 2,5% em 2023, mesmo com a taxa de juros subindo de 0,25% em 2021 para 5,5% no ano passado. Os mercados festejaram essa combinação no final de 2023, mas o FED não está incentivando tanta euforia. O presidente do Fed contrariou as expectativas do mercado e indicou que os juros não cairão em março e as projeções dos diretores indica queda para 4,6% no final de 2024, enquanto os preços mostravam 3,9% no final de janeiro.

A resiliência da economia americana impressiona e destoa da maioria dos países desenvolvidos que mostrou dados ruins de crescimento no final de 2023. Apesar de alguns indicadores mais fracos de atividade, a força do mercado de trabalho nos EUA é o destaque. A taxa de desemprego está em 3,7%, abaixo do que os economistas consideram neutro (não tem impacto na inflação). Ainda assim, desde 2021 há mais vagas abertas do que desempregados, sendo essa uma das informações mais acompanhadas para medir o momento de inflexão do emprego.

Uma parte importante das surpresas positivas na atividade por lá vem dos gastos do governo. No curto prazo, um déficit público maior pode ajudar o crescimento e em 2023 e 2024 o resultado das contas públicas foi negativo em mais de 6% do PIB – pior resultado desde 1975 sem alguma causa, como a crise de 2008 e a pandemia do Covid. A perspectiva da política fiscal dos EUA é uma das maiores preocupações entre economistas e analistas de investimentos no mundo e torna a eleição para presidente em novembro deste ano ainda mais importante. Há chances reais de Trump voltar a ser presidente e após sua primeira vitória, em 2016, houve uma reação bastante negativa do mercado por causa de suas promessas de aumentar gastos e cortar impostos. De fato, o déficit do governo cresceu durante seu mandato (sem considerar a pandemia) e alguns conservadores americanos continuam com essa bandeira. Recentemente no Reino Unido, a primeira-ministra Liz Truss teve o mandato mais curto da história após prometer algo nessa linha e causar pânico nos mercados com consequências graves para os fundos de pensão.

Do lado da inflação, a fraqueza da economia na China tem ajudado a manter sob controle os preços de bens – mais uma vez o gigante asiático está exportando deflação para o mundo. Já a inflação de serviços chegou a 7,4% e ainda está em 5,4% em 12 meses. O Banco Central americano persegue uma meta no núcleo do índice de preços (que exclui os itens de alimentação e energia, por serem mais voláteis) e a queda da inflação de serviços é mais demorada. Os outros países do mundo, que passaram pelo mesmo ciclo pós pandemia, estão vendo esse mesmo filme, mas a economia nos EUA está especialmente forte.

Como a combinação entre inflação e crescimento nos EUA irá se comportar é o fator mais importante para a política monetária global. O melhor cenário, que de certa forma está incorporado na maior parte das projeções, é de desaceleração da inflação sem grande prejuízo no crescimento. Os próximos passos da queda da inflação, especialmente de serviços, serão mais difíceis e devem exigir alguma redução do vigor do mercado de trabalho, conforme esperado pelo Fed.

Para o Brasil, a continuidade dos cortes de juros depende dessa evolução benigna da economia americana. Algum susto no combate à inflação nos EUA, que pode causar maior taxa de juros e apreciação do dólar afetará a trajetória esperada da SELIC. O caminho esperado pela maioria dos economistas é benigno, mas para os mercados “já está precificado”. Haverá surpresas e volatilidade que afetarão o Banco Central do Brasil no mesmo momento em que se discutirá a troca do seu presidente.


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