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No mundo dos descartáveis
Reestruturada e pronta para aquisições, Providência coloca suas fichas em um segmento com elevado potencial de expansão no Brasil

, No mundo dos descartáveis, Capital AbertoSe um banqueiro de investimentos lhe convidasse a colocar dinheiro numa empresa que produz não-tecido, tem um nome não convencional e ainda hospeda em sua sede um mini zoológico com araras, tucanos e chimpanzés, você cairia na gargalhada? Talvez sim, mas muita gente não hesitou em aceitar a oferta do UBS Pactual. Em julho de 2007, quando os mercados mundiais já engasgavam com a crise norte-americana do subprime, a Providência foi levada à bolsa e captou R$ 468 milhões vendendo um naco de 36% de seu capital, numa oferta primária de ações.

Nove meses antes, a mesma Providência já havia tido um empurrão do capital de risco. Um consórcio respeitável — formado pelos fundos AIG Capital, Governança & Gestão de Investimentos (que tem como sócio o ex-ministro Antônio Kandir), o ASAS (da família Constantino, controladora da Gol) e um fundo do banco Espírito Santo de Investimento — colocou sobre a mesa da família Starostik um cheque de quase R$ 1 bilhão. Levou a empresa cinqüentona, fundada pelo casal de imigrantes da Tchecoslováquia, que, sem herdeiros, decidiu se desfazer do negócio.

Mas o que a Providência tem para despertar tamanho interesse? A resposta: ela é a maior fabricante de não-tecidos da América Latina. E o setor de não-tecidos pode até ter nome esquisito, mas tem inúmeras aplicações. Traduzido como um manto de fibras composto especialmente por polipropileno, o não-tecido pode ser usado para fazer fraldas descartáveis, absorventes higiênicos, roupas cirúrgicas, carpetes para automóveis, colchões, palmilhas para calçados e mais uma lista quase interminável de produtos que inclui até mesmo flores artificiais.

Trata-se de um setor comum, quase banal, do ponto de vista de suas variadas aplicações. Mas extremamente promissor e discreto, considerando-se a evolução do mundo para o mercado de descartáveis. São 16 fabricantes listadas na associação do setor, a Abint. Algumas delas de difícil pronúncia, como a Freudenberg, subsidiária do grupo alemão Freudenberg Nonwovens, com vendas globais de € 5 bilhões e mais de 30 mil empregados. Outras nem tanto, a exemplo da Fitesa, um braço do grupo gaúcho Petropar. No Brasil, é um mercado que cresce à taxa de 7% ao ano, movimentando US$ 462 milhões, para uma produção de 154 mil toneladas. Mundo afora, porém, exibe mais robustez: produção de 4,4 milhões de toneladas e faturamento de US$ 15,9 bilhões, segundo o Worldwid Outlook Industry.

“Diante do aumento da renda, que deu mais acesso ao consumo à população de menor poder aquisitivo, há um mercado imenso para ser explorado”, diz Rubens Sardenberg, diretor de Relações com Investidores da Providência. As fraldas descartáveis ilustram a expectativa do executivo. Três de cada quatro fraldas descartáveis vendidas no Brasil são compradas pelas classes populares, segundo pesquisa da Latin Panel. Até recentemente, essas pessoas usavam somente fralda de pano. Há um forte movimento da indústria investindo em marcas mais populares para atender a esse freguês — fato que acabou forçando empresas que atuavam no segmento Premium, como Procter & Gamble e Kimberly- Clark, a despejar nas gôndolas opções mais econômicas.

Segundo o prospecto da Providência enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), somente 35% das crianças com menos de 30 meses usam fraldas no Brasil. A proporção sobre para 45% na Argentina, 55% na Colômbia, 98% nos Estados Unidos e 99% no Japão. A companhia vê também grande potencial de crescimento na área hospitalar. “Ainda não são todos os hospitais e laboratórios que usam uniformes e aventais descartáveis.” O consumo per capita anual de não-tecidos soma 0,6 quilos na América Latina e sobe para 3,4 na América do Norte.

Projeções e perspectivas otimistas como essa, num país de moeda apreciada e inflação controlada, encorajaram os investidores a apostar na empresa baseada em São Jose dos Pinhais, região metropolitana da capital paranaense. Os estrangeiros foram os maiores compradores, 67%, mas o controle ainda se mantém nas mãos dos investidores de private equity.

A crise americana acelerou e chamuscou, sem dó, nem piedade, os papéis da Providência. De R$ 15 no IPO, a ação despencou para pouco mais de R$ 5, uma encolhida superior a 50%. No Natal, a empresa lançou um programa de recompra de ações e contratou o UBS para ser o formador de mercado. “Sabemos que a empresa tem potencial e acreditamos nisso”, reforça.

De fato, desde que os fundos de private equity compraram o controle das mãos da família, a empresa vem sendo reestruturada e lapidada. A começar pela contratação do novo presidente, Hermínio de Freitas, que pilotava a Fitesa, maior rival da Providência. Com seu time, ele orientou mudanças: o mini zoológico, por exemplo, foi desativado e os animais transferidos para outras propriedades dos Starostik. Antes mesmo de fazer a oferta inicial de ações, a companhia foi às compras e fechou fábricas, como a transportadora do grupo. Por R$ 97 milhões levou a concorrente mineira Isolfilme, sediada em Pouso Alegre.

Além disso, antes do IPO, reforçou o aumento da produção com a compra de uma máquina mais potente, por R$ 110 milhões — que, sozinha, tem capacidade de 15 mil toneladas ao ano. A capacidade total da Providência chega a 80 mil por ano. Hoje, o grosso do faturamento da empresa, de R$ 505,4 milhões no ano passado, vem da área de não-tecidos. Mas a Providência também atua no segmento de tubos e conexões de PVC, concorrendo com a líder Tigre, e ainda no mercado de embalagens — este, embora tímido hoje, foi a origem do grupo.

A dívida da companhia, de pouco mais de R$ 200 milhões, foi refinanciada e alongada por cinco anos, sendo dois de carência. Do dinheiro captado na oferta, metade foi usada para quitar o financiamento feito pelos investidores junto ao Santander para comprar a Providência, numa operação conhecida como leveraged buyout (compra alavancada). O restante ainda está no caixa, à espera de boas oportunidades de compra. Afinal, o foco este ano é a expansão.


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